Paraíso de longa data do capital estrangeiro, o Brasil é também um exportador de investimentos diretos, incluindo a Rússia como um dos destinos mais recentes. Enquanto a economia patina praticamente sem crescimento, queda acentuada nas exportações, baixa competitividade industrial, níveis críticos de inovação e um perigoso surto inflacionário, as empresas brasileiras no exterior exibem um fôlego paradoxal ao ritmo doméstico.
Seja montando unidades, seja comprando ativos – movimento este que prevalece nos últimos anos – a internacionalização hoje é mais globalizada, mais diversificada em atividades e menos concentrada em poucas empresas. E tem peso.
Dado divulgado em abril pela Organização das Nações Unidas (ONU) é revelador: os ativos nacionais na Europa chegaram a US$ 67 bilhões, com forte expansão nos últimos cinco anos, enquanto os do velho Continente, com sua tradição de muitas décadas de presença no país, montam a US$ 180 bilhões.
O tamanho da participação das multinacionais brasileiras no mercado europeu é maior do que a soma dos demais países do BRICS – Rússia, Índia, China e África do Sul, segundo o organismo internacional. Há previsão de que a China ultrapasse, já que o apetite chinês por ativos no mundo, o maior entre os emergentes, não cessa.
Ainda que não possua muitas empresas transnacionais, aquelas com subsidiárias espalhadas nos quatro cantos do mundo, a exemplo dos Estados Unidos, Europa e Japão, na Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet) o espalhamento do capital brasileiro é visto como bem distribuído.
Excluindo aquele volume na Europa, mais os US$ 20 bilhões investidos na América Latina, dos cerca de US$ 230 bilhões de estoque no exterior, pelos cálculos da ONU, tem-se um valor significativo mais concentrado nos Estados Unidos e um pouco menos na Ásia e Europa Oriental.
A última estatística oficial do Banco Central é de 2011, com US$ 202 bilhões (mais 7,4% sobre 2010), mas o vice-presidente da Sobeet, Reynaldo Passanezi também avalia que o estoque para o ano passado se aproxima ao detectado pela ONU.
A expansão da internacionalização mais acentuada nos últimos anos está diretamente associada à crise que abalou o mundo desenvolvido. Os ativos, especialmente na Europa, se desvalorizaram, ou seja, ficou mais barato investir lá.
Em paralelo, as empresas brasileiras têm mais acesso a financiamentos que no Brasil, mesmo com os bancos e as agências multilaterais desses países com menor liquidez. E assim mesmo, várias empresas brasileiras contaram com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ganhar musculatura interna e externamente, sendo o caso mais notório o do Grupo JBS Friboi, o maior processador de carne do mundo, também presente na Rússia.
Outro ponto que passou a atrair mais o empresário do Brasil foi que a taxa de lucro começou a ficar mais próxima da aferida domesticamente, tradicionalmente sempre mais elástica. De acordo com estudo da Fundação Dom Cabral, em média no exterior está em 14% contra 17% internamente, tendo sido mais folgada há alguns anos.
Pela radiografia do Banco Central, do ano retrasado, a concentração do capital das multinacionais brasileiras era de 37,6% em serviços financeiros e de 26,7% extração de minerais metálicos. Grosso modo, respectivamente, pode-se ligar à atividade de subsidiárias de bancos e fundos nacionais e da presença, em boa medida, da mineradora Vale do Rio Doce.
Vinha crescendo também a rubrica petróleo e gás, que saltou de US$ 6,3 bilhões em 2010 para US$ 14,7 bilhões no ano seguinte. Aqui entenda-se também majoritariamente a Petrobras.
São setores que demandam grandes volumes de recursos, pela própria natureza. Porém, os reais convertidos em dólares ou euros em unidades no exterior podem ser contabilizados em setores e subsetores de bebidas, alimentos, siderurgia, material de transporte, aeronaves, agronegócio, construção civil e pesada, armamento, metalurgia, autopeças, motores elétricos, refrigeração, franquias e, entre outros, até em restaurantes.
Na soma de todas elas, de janeiro a setembro de 2012 os lucros e dividendos repatriados foram de US$ 4,2 bilhões.
Chama atenção do economista Reynaldo Passanezi, da Sobeet, que apesar do Brasil ainda estar atraindo muito capital internacional, ainda que em desaceleração – US$ 66,7 bilhões em 2011 e US$ 65,3 bilhões em 2012 – também está havendo um grau de “desinvestimento ” das transnacionais presentes no mercado brasileiro.
“As empresas brasileiras na ponta compradora movimentaram recursos da ordem de US$ 193,4 bilhões no Brasil em 2012”, explica Passanezi. Desse total, US$ 17 bilhões foram para empresas americanas e US$ 13 bilhões para empresas ibéricas (Espanha e Portugal) que venderam ativos no Brasil.
Na Rússia, um quarteto industrial
Os investimentos brasileiros na Rússia ainda são modestos e recentes, mas se caracteriza por estar presente em setores industriais.
A JBS Friboi e Sadia, no setor de alimentos. A primeira tem sua unidade em Odintsovo e a segunda, com uma linha de produtos mais diversificada de consumo final, fica em Kaliningrado.
Há poucos quilômetros da Sadia, está a Metalfrio, do ramo de refrigeração comercial.
Fecha o quarteto brasileiro na Rússia a gaúcha Marcopolo, com sua tradição de fabricação de ônibus e já presente em vários países, em parceria com a Kamaz, na cidade de Neftekamsk.
Fonte: Voz da Rússia
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