A aparente tranquilidade com que Israel atacou depósitos de mísseis e,
segundo relatos sírios, um grande centro de pesquisa militar perto de Damasco
nos últimos dias instigou o debate em Washington sobre se ataques aéreos
liderados pelos EUA são o passo lógico para obstruir a capacidade do presidente
Bashar Assad de conter as forças rebeldes ou de usar armas químicas.
Essa opção estava sendo debatida em segredo por EUA, Grã-Bretanha e França
dias antes dos ataques israelenses. No domingo, o senador John McCain, que
durante muito tempo defendeu um papel americano mais ativo na guerra civil
síria, argumentou que os ataques israelenses - dos quais ao menos um parece ter
sido feito do espaço aéreo sírio - contrariam o argumento de que o sistema de
defesa da Síria seria um grande empecilho.
"Os israelenses parecem capazes de burlá-lo com muita facilidade", disse
McCain ao programa Fox News Sunday. Ele prosseguiu dizendo que os EUA poderiam
"neutralizar as defesas aéreas sírias em solo com mísseis de cruzeiro e
esburacar pistas de pouso, pelas quais estão chegando por ar esses suprimentos
do Irã e da Rússia". McCain defendeu que as baterias de mísseis antimísseis
instaladas na Turquia poderiam defender uma zona capaz de abrigar rebeldes e
refugiados.
Relutância. O Pentágono desenvolveu essas opções meses atrás, mas, nas
últimas semanas, elas foram refinadas. Segundo várias autoridades do governo,
estudou-se como os ataques seriam coordenados com os aliados - assim como nos
dias iniciais das ações na Líbia, que acabaram derrubando Muamar Kadafi do
poder. No entanto, o presidente Barack Obama tem mostrado relutância em seguir o
curso que adotou naquele caso, segundo assessores, em parte por temer a
capacidade das defesas aéreas da Síria e em parte porque as forças de oposição
incluem muitos elementos jihadistas.
Por enquanto, Obama disse que só interviria se a Síria tivesse usado armas
químicas - a atual investigação sobre o uso de gás sarin está concentrada em
Alepo e em Damasco - ou se esse uso fosse iminente. Agora, um consultor de Obama
disse: "Ficou muito claro para todos que Assad está calculando se essas armas
poderiam salvá-lo".
O resultado é que o objetivo específico de impedir o uso de armas químicas
está começando a se fundir com metas mais amplas de derrubar Assad e dar um fim
a uma carnificina que já é bem maior do que a da Líbia, quando Obama justificou
a intervenção americana utilizando o argumento humanitário.
Obama excluiu totalmente enviar forças de terra americanas à Síria, o que
pareceu eliminar a opção de lançar paraquedistas para tomar os 15 a 20 locais
onde há armas químicas. Isso torna mais prováveis ataques como os conduzidos por
Israel, mas dirigidos aos vetores de armas químicas: mísseis e aviões.
No domingo, uma autoridade de alto escalão do governo americano disse: "Há
muitas opções sem envolver soldados americanos em solo e não há nenhuma
inclinação para alguma ação no atual estágio". Essas questões certamente virão à
tona após a visita de dois dias do secretário de Estado John Kerry a Moscou - na
qual, segundo William Burns, vice-secretário de Estado, os EUA argumentariam que
a antiga aliança entre Rússia e Assad está se voltando contra os interesses do
Kremlin. E um conflito prolongado só vai piorar os riscos de que a guerra síria
se amplie e promova o extremismo islâmico.
A Rússia quase certamente seguirá vetando todos os esforços para que se
obtenha autorização do Conselho de Segurança da ONU para empreender uma ação
militar. Por enquanto, Obama evitou a busca de tal autorização e essa é uma
razão pela qual o uso de armas químicas poderia servir de argumento legal para
os ataques, desde que eles fossem limitados a reduzir a capacidade de usar essas
armas.
Até agora, entre os membros do governo mais relutantes em intervir
pesadamente na Síria está o próprio Obama. Ele não quis armar os rebeldes no ano
passado, apesar das pressões da então secretária de Estado, Hillary Clinton, e
do diretor da CIA, David Petraeus.
Na semana passada, o secretário de Defesa, Chuck Hagel, disse que a opção de
armar os rebeldes estava sendo analisada. Aliás, esse debate tem levado à opção
de agir mais, segundo funcionários do governo.
O fraseado legalista de Obama - sobre se a "linha vermelha" de intervenção
foi ou não cruzada quando surgiram evidências de um uso limitado de gás sarin -
levou muitos de seus aliados, liderados pelos israelenses, a questionar a
credibilidade de suas advertências.
Uma funcionário do governo americano reconheceu, no fim da semana passada,
que as críticas haviam "começado a incomodar". Obama, porém, está determinado a
avançar aos poucos, à espera de um relatório definitivo de inteligência sobre
quem foi responsável pelo uso de gás sarin, antes de decidir dar o próximo
passo.
Fonte: Estadão
Nota do GBN: O Pantsir é um dos sistemas antiaéreos em serviço nas forças sírias.
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