Um conjunto de documentos confidenciais do Comando da Marinha revela que a ditadura brasileira se aproximou do Irã do aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, em plena guerra Irã-Iraque (1980-1989).
Os papéis estão sob controle do arquivo do Comando da Marinha. A Folha revelou ontem que pelo menos seis ministérios e as três Forças retêm milhares de páginas da ditadura militar (1964-1985).
Os documentos demonstram que a ditadura recebeu emissários do primeiro escalão do governo iraniano para uma visita a cerca de 40 fábricas no Brasil, quase todas de armamentos militares.
Em troca, conforme uma carta entregue ao então ministro da Marinha, Maximiano da Silva Fonseca, pela Embaixada do Irã em Brasília, o país iria vender petróleo ao Brasil "sem a garantia bancária hoje exigida pelo governo" e também transferir valores do governo iraniano depositados em outros países para uma conta do Banco do Brasil no exterior.
Um documento assinado por cinco ministros (entre os quais o da Fazenda, Delfim Netto) afirma ao então presidente, João Figueiredo, que "nenhuma outra nação amiga" estava disposta a oferecer os mesmos benefícios ao Irã, e, portanto, seria uma oportunidade para o Brasil.
Mas outros dois documentos secretos registram que o Brasil não deu sequência à ideia original de trocar petróleo por armamentos. A operação não vingou porque o Brasil já estava vendendo equipamentos militares ao inimigo do Irã, o Iraque.
O Brasil havia se declarado formalmente neutro no conflito, mas continuou vendendo armas ao Iraque sob a alegação de que havia contratos anteriores ao início da guerra. Um documento diz que as vendas ao Iraque atingiram US$ 870 milhões entre 1979 e 1984, em valores não corrigidos.
Contudo, os documentos agora obtidos pela Folha revelam que o Brasil fez vistas grossas às vendas indiretas. Ou seja, o Brasil vendia a uma empresa no exterior, que depois a repassava ao Irã. É o que consta de uma carta "secreta e urgentíssima" assinada pelo então ministro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro.
Contudo, os documentos agora obtidos pela Folha revelam que o Brasil fez vistas grossas às vendas indiretas. Ou seja, o Brasil vendia a uma empresa no exterior, que depois a repassava ao Irã. É o que consta de uma carta "secreta e urgentíssima" assinada pelo então ministro das Relações Exteriores, Ramiro Saraiva Guerreiro.
"Não chegou a ser excluída inteiramente, contudo, a possibilidade de algum tipo de entendimento comercial com o Irã no caso de material militar pouco sensível", escreveu o ministro. "Nessa ordem de pensamento", continuou, os negócios "se efetivariam através de terceiros, conforme sugeriram os próprios iranianos".
Trinta anos depois dessas negociações, o ex-ministro Delfim Netto disse à Folha não se lembrar dos documentos que assinou, mas considerou não ser "uma má ideia" trocar armas por petróleo. "A situação do balanço de pagamentos em 1983 era dramática e o Brasil tinha enorme dificuldade de financiar as importações de petróleo, sem as quais a economia entraria em colapso", disse o ex-ministro, por e-mail.
A Embaixada do Irã em Brasília, procurada, não se manifestou até a publicação desta notícia.
Fonte: Folha
0 comentários:
Postar um comentário