A ruidosa entrada em cena de uma nova espécie política está abalando a
política partidária tradicional na Europa. Enquanto governos liderados
por conservadores e social-democratas utilizam um remédio amargo para
salvar o euro agonizante, eleitores descontentes procuram novos rostos e
ideias.
Os grupos neopopulistas são a última moda. Eles combinam a fúria contra o
centro político, como a praticada pelos populistas de direita, com a
atitude rebelde dos movimentos alternativos de esquerda -uma estranha
mistura dos movimentos Tea Party e Ocupe Wall Street. Suas primeiras
incursões na arena política tiveram um efeito colateral inesperado: elas
contiveram a ascensão dos populistas de direita. Mas resta ver qual
será seu impacto na política europeia.
Enquanto a crise financeira da Europa entra em seu quinto ano, as
políticas de centro-direita e centro-esquerda tornaram-se quase
idênticas, criando uma abertura para políticos ousados.
Os Piratas, que defendiam a liberdade na internet e o fim da lei de
direitos autorais, foram os primeiros dos novos partidos a dispensar
deliberações políticas secas e uma estrutura hierárquica. Depois que os
Piratas da Suécia conquistaram 7% dos votos em seu país, o Partido
Pirata da Alemanha recebeu 9% na eleição para o Estado de Berlim em
2011. Desde então, as rixas políticas internas reduziram suas chances de
uma votação decente na eleição nacional da Alemanha, em setembro.
Beppe Grillo, que fez nome como comediante na Itália, e Frank Stronach,
um austríaco-canadense que ganhou bilhões no negócio de peças para
carros, criaram novos movimentos de sucesso. Mas seu foco está em
criticar a situação vigente, mais que apresentar plataformas políticas
viáveis, por isso é provável que o entusiasmo que eles provocaram
esfrie.
Outros países também estão sendo atingidos por novas forças políticas. A
Syriza, que ficou em segundo lugar na Grécia no ano passado, é uma
coalizão de partidos de esquerda tradicionais. Nas eleições
parlamentares na França no ano passado, um terço dos eleitores apoiaram
um partido de linha radical, tanto à direita como à esquerda. O Partido
Alternativo Alemão, formado por acadêmicos e funcionários públicos
aposentados, será lançado no mês que vem e se opõe a qualquer plano que
obrigue os contribuintes alemães a salvar o euro. Mas ele não tem o
apelo rebelde de Grillo e Stronach e não deverá atrair um amplo apoio.
Apesar de todas as suas diferenças, o Movimento Cinco Estrelas de Grillo
na Itália e a Equipe Stronach da Áustria têm em comum uma convicção.
"Ambos são contrários ao aprofundamento da União Europeia e das
obrigações que derivam da integração europeia", diz Anton Pelinka,
especialista em partidos políticos que é professor na Universidade
Central Europeia em Budapeste (Hungria). "É a tentação de renacionalizar
a política."
Stronach, nascido em uma família de trabalhadores na Áustria há 80 anos,
emigrou para o Canadá em 1954, onde fez fortuna com uma distribuidora
de peças para carros.
De volta à Áustria, a experiência de Stronach na indústria automotiva o
levou a se queixar da burocracia e dos políticos "ignorantes". Ele atrai
os eleitores agindo como um patriarca autoritário, mais que como um
político. A Equipe Stronach promove valores simples: "Verdade,
transparência e justiça".
Apoiada por seus milhões de euros, a Equipe Stronach ganhou 10% dos
votos em dois Estados, Áustria Inferior e Caríntia, que tinham sido o
baluarte do Partido da Liberdade, grupo de extrema direita que fez
incursões na política austríaca há mais de uma década. Liderado por Jörg
Haider, que morreu em um acidente de carro em 2008, o Partido da
Liberdade é uma mistura de sentimentos antieuropeus e de ódio aos
estrangeiros. Ele encontrou imitadores em toda a Europa. Os partidos
estabelecidos veem a ascensão de Stronach como uma bênção mista. Ela
complica a tarefa de formar um governo nacional, mas pode pôr fim às
aspirações da extrema direita.
Na Itália, a situação é menos clara. Um comediante de sucesso, o
cabeludo Beppe Grillo, 64, liderou os protestos populares na Itália
contra a corrupção no governo, pedindo que seus seguidores confrontassem
os poderes estabelecidos.
Um blogueiro incansável, ele manifesta a insatisfação dos italianos
comuns, que o ajudaram a conquistar 25% dos votos nas últimas eleições
nacionais.
"O movimento Grillo é mais novo e mais jovem e, em muitos sentidos,
muito diferente dos movimentos populistas antigos", diz o professor
Pelinka. "É um populismo além da divisão entre direita e esquerda."
O Movimento Cinco Estrelas pede uma renda básica garantida para todos os
cidadãos, assim como a restauração da "soberania econômica", que
poderia levar à saída da zona do euro.
O sucesso de Grillo levanta o espectro de um membro fundador da UE
entrar em um período de caos e de novos problemas para o euro.
A reação às crises políticas na Europa -anunciadas por esses novos
movimentos- pode servir para expressar o descontentamento dos eleitores,
mas não oferece soluções reais. Os novos atores políticos precisam
mostrar que são capazes de criar políticas que levem ao crescimento
econômico, mais do que apenas usar a revolta do eleitorado.
Apesar dessas ameaças à UE, o professor Pelinka não acredita que a
Europa esteja terminada. "É preciso considerar que desde 2008 os
profetas do apocalipse sempre afirmaram que a UE vai implodir -e isso
não aconteceu", diz. "A UE ainda é capaz de lidar com situações
críticas. O interesse comum ainda é forte. Poderíamos dizer que o
projeto europeu é grande demais para fracassar."
Fonte: New York Times
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