A julgar por todos os indícios, o conflito na Síria entra numa nova volta da espiral de tensões. De acordo com a mídia francesa, Paris e Londres decidiram romper o embargo de fornecimento de armas aos rebeldes sírios.
Analistas acreditam que se pode tratar de sistemas de defesa antiaérea portáteis comprados em terceiros países, assim como armas antitanque e projéteis para sistemas de artilharia que os rebeldes apreenderam às tropas governamentais.
A lógica dos franceses e ingleses é compreensível: se os rebeldes possuirem armas modernas, as tropas fiéis a Assad começarão a ter maiores perdas, o que, por sua vez, irá repercutir de forma negativa em seu estado de ânimo, combatividade e lealdade. Para muitos especialistas, tal lógica é defeituosa, pois a principal prioridade humanitária – pôr fim à guerra fratricida – não será alcançada com isso.
Alguns especialistas julgam que a situação na Síria vem mudando gradualmente em favor dos rebeldes; outros crêem que é bastante elevada a probabilidade de um empate, quando nenhuma das partes não possa obter uma superioridade decisiva. Por conseguinte, pode-se admitir que o hipotético fornecimento de armas aos rebeldes vise a escalar o conflito até seu máximo grau. Quanto mais intensas forem as hostilidades, tanto mais rápido será o desenlace. Talvez, o Ocidente decidiu necessário acabar de qualquer maneira com Assad. Não lhe agrada que, por assim dizer, a democratização síria está demorando vergonhosamente. Ao mesmo tempo, é muito provável que o Ocidente esteja concsiente de que suas atitudes empurram a região para uma crise. Mas não é isso com que o Ocidente se importa, comenta Leonid Issaev, docente sênior do departamento da ciência política da Universidade Nacional de Pesquisas "Escola de Altos Estudos Econômicos".
"No presente momento, tudo que está ocorrendo no mundo árabe confirma precisamente isso. Parecia que a Tunísia vinha saindo da crise, mas os últimos acontecimentos evidenciam que não é assim. O Egito permanece nesta crise de forma contínua. O Iêmen, o Bahrein, a Líbia –, não avisto quaisquer precedentes que nos permitam falar que na Síria a situação iria evoluir de outra maneira. Parece-me que há uma falha fundamental tanto no plano político como ideológico. Por enquanto, não se vê ninguém que seja capaz de encher o vácuo produzido após a queda dos regimes árabes que, sim, eram autoritários, às vezes até cruéis, mas, de toda forma, tecnicamente aptos. Portanto, surgem crises políticas de longa duração, ora em versões suaves, como na Tunísia, ora a ponto de cair nos extremos, como no Egito. Como o será na Síria? Provavelmente, sob uma forma intermediária entre as versões egípcia e líbia. Mas é incontestável que após o derrubamento de Assad se produzirá uma crise política de grande envergadura e todo-abrangente".
À autocracia leiga de Assad (bem como a outros regimes políticos do mundo árabe não ideais, mas sim suscetíveis de interagir com a realidade) não irão suceder os democratas locais senão o fundamentalismo islâmico mundial, opina o orientalista e perito em ciência política, Stanislav Tarassov.
"No caso de Assad ser destituído, a democracia não irá triunfar na Síria, pois serão os islamistas radicais que chegarão ao poder. Precisamente aqueles, aliás, que assassinaram o embaixador norte-americano (na Líbia); os mesmos contra os quais a França organizou a intervenção no Mali. No caso da Síria, a chegada ao poder dos islamistas implicará não só a divisão do país, mas também a continuação da expansão islâmica à escala da região inteira. É muito perigoso. A Al-Qaeda se estabeleceu não só no Afeganistão e Iraque. Agora está também na vizinha Turquia. A Al-Qaeda já está guerreando contra a Síria. Isto envolve uma grave desestabilização da situação. A julgar por vários indícios, as primeiras andorinhas da revolução árabe começam já a atingir as fronteiras da Transcaucásia".
Em resumo, o conflito sírio tende a se ampliar por si, mesmo sem interferências adicionais. Abarrotar o país com armas é como apagar o fogo com gasolina. A despeito da continuação das tentativas de solucionar o conflito por via diplomática, uma démarche similar da Grã-Bretanha e França sepulta definitivamente a esperança tímida de as partes sírias chegarem a um compromisso entre si.
Fonte: Voz da Rússia
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