Os EUA vão aguardar para ver se após a morte do presidente Hugo Chávez, na última terça, há chance real de melhorar a relação com a Venezuela --árida na discurso político, mas fluida no comércio, sobretudo no de petróleo de Caracas para Washington.
Com as relações regionais em segundo plano para os EUA, porém, especialistas acham pouco realista esperar dos americanos o primeiro passo, principalmente antes da eleição presidencial venezuelana, prevista para abril.
"É provável que os EUA continuem discretos e aguardem por uma chance de melhorar a relação caso as circunstâncias permitam", disse à Folha Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, principal centro de estudos das relações regionais em Washington.
Ele vê, ainda assim, espaço para melhora. "Talvez começando com a troca de embaixadores", diz, aludindo à expulsão, em 2008, do representante dos EUA em Caracas, Patrick Duddy.
"As relações políticas têm sido péssimas entre os dois países. Por isso, devemos pensar em passos pequenos", pondera, concluindo que "o diálogo já seria um avanço".
Nicholas Burns, que era o número 3 do Departamento de Estado quando Chávez chamou o então presidente George W. Bush de demônio no púlpito da ONU, ressalta a baixa qualidade dos laços.
"Chávez saiu da linha ao criticar a política americana e o presidente Bush pessoalmente", lembra. "Ele se aproximou de adversários dos EUA como o Irã. Não há confiança entre esses dois governos [Washington e Caracas]."
Para o diplomata aposentado e professor de Harvard, futuros líderes do país serão aconselhados a parar de "demonizar os EUA" e a "respeitar a lei e o desejo popular".
Se comprometida com a relação, diz Burns, Caracas teria interesses comuns com os EUA: "a democracia em Cuba e o combate ao narcotráfico" --raro canal entre os países.
Já Shifter vê também possibilidade de cooperação na área energética. "Mas é improvável que a morte de Chávez afete substancialmente a política dos EUA. Washington está distraída demais com os seus problemas fiscais, e há outras prioridades mais urgentes na política externa."
A bancada cubano-americana da Flórida e centros conservadores sugeriram ao governo dos EUA fixar condições para a normalização (a principal, eleições livres).
Por ora, o Departamento de Estado se limitou a condolências, e o presidente Barack Obama, a uma nota lacônica em que chama o momento de "desafiador" para os venezuelanos e afirma interesse em restabelecer "relações construtivas" com Caracas.
Fonte: Folha
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