É notório que os poderes do Estado brasileiro, em toda a sua existência, têm revelado notáveis conflitos políticos. Ocorre que suas instituições tradicionais têm mostrado incapacidade de superar crises políticas nacionais – inclusive, e principalmente, nas crises germinadas em ideologias que geram devaneios ou paixões e emoções – indissociáveis da condição humana.
Nos cerca de 70 anos da monarquia brasileira, esses conflitos políticos foram, de alguma forma, amenizados por certo poder moderador – exercido pela autoridade moral do seu último imperador. Todavia, no período republicano brasileiro, é reconhecido que esse poder moderador, nas crises políticas nacionais, tem sido exercido pelas Forças Armadas – convocadas nos momentos, anteriores ou posteriores, ao que poderiam ser denominados "sistólicos" da vida política brasileira.
Golpe. Contragolpe. Revolução. Dê-se-lhe o nome que se queira dar ao movimento político, econômico, psicossocial e militar brasileiro de 1964 – ocorrido num mundo em que predominava a Guerra Fria. Rigorosamente, do ponto de vista histórico, esse movimento ainda está para ser interpretado.
(Historiadores franceses clássicos recomendavam que não se fizesse história depois da era napoleônica – segundo eles, para que não se perdesse a "perspectiva histórica". A propósito, ultimamente, no Rio Grande do Sul, quase dois séculos depois, a própria história da Revolução Farroupilha vem sendo revisada.)
Uma das consequências do movimento de 1964 ainda hoje pode ser observada: o prestígio das Forças Armadas nacionais está danificado. É como se a nação houvesse olvidado sua participação na independência brasileira; na Guerra do Prata; na Guerra do Paraguai; na atuação da Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial; no desempenho militar da Marinha de Guerra – a mais antiga das armas nacionais; além da defesa aeroespacial do território nacional – exercida pela Força Aérea Brasileira. E, não menos importante, a participação das Forças Armadas nos programas de saúde e educação realizados nos mais recônditos e desprovidos lugares do território nacional; na sua presença em missões de paz em alguns países latino-americanos; e, ainda, na construção de obras de infraestrutura do país – especialmente rodovias, pontes e ferrovias.
(Recentemente, na reforma do aeroporto de Guarulhos, Cumbica, feita pelo Exército Nacional, as obras foram entregues antes do prazo estipulado no projeto, além de serem devolvidos R$ 150 milhões ao Tesouro Nacional – o que, em matéria de obras públicas, é algo incomum!)
Hoje, infelizmente, a sociedade brasileira assiste, emudecida, à corrupção, aos escândalos, às distorções de conduta, aos subornos, à falsidade e à falta de compostura política – e tudo que faz sentir os primeiros "perfumes" da gradativa putrefação de uma sociedade doente.
A propósito, é indispensável lembrar que o militar brasileiro, ao revés – no poder ou fora dele –, sempre tem conduta exemplar. Sua formação, da escola à caserna, está norteada para a devoção à pátria; para a integridade e para a honestidade pessoais; para a ética; para a hierarquia; para a ordem; e por valores éticos orientadores do seu comportamento moral, pelo resto da vida – motivo pelo qual, hoje, não tendo sido convocado, pode ser entendido o seu silêncio.
Por: Guilherme Socias Villela
Economista, ex-professor universitário
Economista, ex-professor universitário
Fonte: Zero Hora
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