Ao que tudo indica, os EUA se prontificam a proceder à redução de armamentos nucleares táticos caso a Rússia venha a dar passos semelhantes nesse mesmo sentido. Os peritos não se mostram, contudo, muito otimistas mas apontam a "disposição de Washington para soluções consensuais que poderão favorecer um clima de distensão no diálogo russo-norte-americano".
O número total de cargas táticas dos EUA constitui, segundo algumas estimativas, cerca de 760 unidades. Uma parte delas (150-250 unidades) está armazenada em seis bases aéreas na Europa e na Turquia. As demais cargas se encontram no território dos EUA. O potencial tático russo é bem maior. No entanto, Washington mantém certas vantagens, visto que as suas armas táticas nucleares foram instaladas perto da fronteira russa, enquanto as armas russas foram estacionadas no território da Rússia sem apresentar perigo para a segurança nacional dos EUA.
Tal desequilíbrio não deixa de preocupar Moscou. Convém notar que, a partir dos meados do século passado, altura em se faziam as primeiras tentativas de edificar um sistema de segurança coletiva na Europa, a URSS apontava para a existência de tal problema sério. As preocupações da Rússia aumentaram após a retirada das armas nucleares táticas que se encontravam no território dos países-membros do Tratado de Varsóvia e das ex-repúblicas soviéticas. Mas até hoje não era possível chegar a um consenso nessa área importante.
No dizer da vice-secretária de Estado interina para o controlo de armamentos e a segurança internacional, Rose Gottemoeller, a redução recíproca de armas táticas nucleares constitui uma das metas a alcançar pela Administração atual, confirmada pelo Senado dos EUA no decurso da ratificação do Tratado START de 2010. A alta diplomata norte-americana assinalou uma "prioridade especial" no processo do controlo dos armamentos. Segundo acrescentou, Washington manifesta interesse na retomada das conversações com Moscou sobre esta temática. Fiodor Lukianov, redator-chefe da revista Rússia na Política Globalcomenta:
"Para a OTAN e os EUA, a questão de armas nucleares táticas não é a principal. Não está claro para que essas armas poderão vir a servir senão para marcar a sua presença naquele território. Ninguém se prepara para uma guerra no continente europeu. Há um perigo maior na Ásia e, em virtude disso, o potencial tático russo, o seu peso político seria um sinal de aviso latente para a China. É óbvio que ninguém se prepara para uma guerra com a China. Mas aqui se coloca a questão de desequilíbrio e dissuasão. A Rússia não quer abordar esta temática, sem bem que os EUA tencionem levantá-la para não afetar sua reputação. E esta componente tática é muito perigosa. Na área de armas estratégicas tudo se resumia à questão da DAM. No entanto aqui tem vindo ao lume uma nova componente. Por isso, as propostas de Rose Gottemoeller não serão atendidas pela Rússia que nem sequer pretende falar no assunto."
Importa reconhecer que a permanência das armas nucleares táticas dos EUA na Europa viola o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares. Este documento consigna a interdição de instalar e entregar as armas atômicas para os países não nucleares. Estes últimos, ao abrigo do mesmo acordo, não devem receber tais armas em forma direta ou indireta. À luz disso, a presença das armas táticas norte-americanas no território da Bélgica, Itália, Holanda, Alemanha e Turquia entra em contradição com as normas fixadas pelo Tratado de Não-Proliferação.
Até hoje, os EUA relacionavam a retirada das armas táticas nucleares com a tomada de uma medida idêntica na parte europeia da Rússia. Isto significa a transferência do potencial russo para a zona dos Urais. Na opinião de peritos, tal passo porá em causa a capacidade defensiva da Rússia no caso de um conflito militar na Europa.
Após a guerra fria, as armas táticas norte-americanas têm tido um peso político, sendo uma espécie de demonstração do apego dos EUA aos compromissos assumidos com seus aliados da OTAN. Entretanto, o arsenal tático russo desempenha um papel de dissuasão do eventual adversário, que leva uma visível vantagem em termos quantitativos e qualitativos no que tange às forças convencionais. A Rússia aceitaria a hipótese de novas reduções só em conjunto com medidas de confiança mutua.
Entre estas medidas figura ainda uma liquidação parcial das armas de elevada precisão convencionais de grande alcance (mísseis intercontinentais com ogivas não nucleares). Em todo o caso, tais iniciativas devem ter por objetivo a diminuição essencial da ameaça estratégica nuclear do Ocidente.
Fonte: Voz da Rússia
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