Em meio a uma nova onda de protestos no Egito, o chefe das
Forças Armadas do país afirmou nesta terça-feira que a crise política atual pode
levar "ao colapso do Estado".
O comentário, feito pelo general Abdul Fattah al-Sisi na página do Exército
no Facebook, se segue a uma madrugada de manifestações em cidades como Porto
Said, Ismailia e Suez, onde a população ignorou um toque de recolher imposto
pelo presidente egípcio, Mohammed Morsi.
Tropas militares foram enviadas às cidades ao longo do canal de Suez, para
conter os protestos, que prosseguiram nesta terça. Muitos manifestantes pedem a
saída de Morsi.
Nos últimos dias, mais de 50 pessoas morreram durante confrontos.
Leia, abaixo, o que está por trás da atual onda de protestos:
Como começaram os protestos?
Manifestações no Cairo, Alexandria e outras cidades egípcias marcaram, em 25
de janeiro, o segundo aniversário da revolução que derrubou o ex-presidente
Hosni Mubarak, mas os protestos acabaram se voltando contra Morsi.
Seculares, cristãos, liberais e outros críticos do governo de Morsi acusam o
presidente (do Partido Irmandade Muçulmana), eleito no ano passado, de trair os
ideais da revolução.
Há insatisfação popular com a ampliação dos poderes de Morsi e com a nova
Constituição aprovada em referendo, mas que muitos dizem favorecer a parcela
islâmica da população.
Em Porto Said, protestos continuaram no sábado, depois que uma corte local
sentenciou 21 pessoas à morte pelos episódios de violência ocorridos em um jogo
de futebol, em fevereiro de 2012. Na ocasião, 70 pessoas morreram em confrontos
após uma partida do time local al-Masry, que jogava contra o al-Ahly, do
Cairo.
Alguns moradores de Porto Said dizem que policais responsáveis pela segurança
da partida não foram punidos e que apenas torcedores foram condenados, como
bodes expiatórios.
Os protestos estão ligados entre si?
Os protestos nas cidades são separados, mas ligados por fatores comuns, como
a perda de confiança nas instituições do Estado (em especial os serviços de
segurança e o Poder Judiciário) e a sensação de ausência de lei e ordem.
Qual tem sido a resposta de Morsi?
Na noite de domingo, o presidente fez um pronunciamento na TV anunciando um
estado de emergência em três cidades ao longo do canal de Suez: Porto Said,
Ismailia e Porto Suez. Ele ordenou um toque de recolher noturno, válido por 30
dias.
Desde então, o gabinete deu ao presidente poderes para mandar o Exército às
ruas "para ajudar a polícia a preservar a segurança".
Morsi também chamou a oposição para conversas no palácio presidencial, na
tentativa de restaurar a unidade nacional. Mas a principal coalizão
oposicionista, a Frente Nacional de Salvação, rejeitou a proposta, alegando que
ela é apenas "cosmética" e "vazia de significado".
O que é a Frente Nacional de Salvação?
Em novembro passado, uma parte da fragmentada oposição egípcia se uniu para
formar a Frente Nacional de Salvação, criticando um decreto que expandiu os
poderes presidenciais e um projeto de Constituição que, na opinião de muitos,
favorece os islâmicos.
A Frente alegava que as medidas representavam uma usurpação do poder por
parte de Morsi e seu aliados.
Mohamed ElBaradei, ex-diplomata na ONU, é o coordenador da Frente, que inclui
também o ex-chanceler e ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa e o líder esquerdista
Hamdeen Sabahi.
Recentemente, o grupo ameaçou boicotar as eleições parlamentares, prevista
para os próximos meses, caso suas exigências - a formação de um governo nacional
e a antecipação do pleito presidencial - não sejam cumpridas.
Fonte: BBC Brasil
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