quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Irã não está prestes a entrar em colapso



Há duas narrativas centrais que presumem que o Estado iraniano tenha a probabilidade de desabar sob a pressão de sanções e/ou ameaças de guerra. Em minha opinião, as duas narrativas são falhas.

A primeira delas alega que o dinheiro do Irã está acabando e sua economia se encontra à beira do desastre. Esta versão vem sendo apresentada repetidas vezes como argumento em favor de sanções ou como exemplo da incompetência do Estado iraniano.

Mas essa narrativa não corresponde aos fatos. O Banco Mundial avaliou o crescimento econômico do Irã em 3,0% em 2010, e o FMI diz que o PIB nominal do país cresceu de US$330,5 bilhões em 2009 para UD$360 bilhões em 2010.

Recentemente o FMI concluiu uma visita ao Irã e elogiou o governo por seus êxitos precoces com o programa de reforma de subsídios e os avanços conquistados no setor financeiro, que é animado por um mercado acionário dinâmico.

O argumento de que o Irã estaria economicamente isolado tampouco se sustenta. De acordo com o relatório mais recente da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento), os investimentos externos diretos no país aumentaram exponencialmente, de US$1,6 bilhão em 2008 para US$3,6 bilhões em 2010.
Isso não quer dizer que não haja problemas econômicos sérios no país; existem muitos, e eles variam desde a corrupção até a ineficiência estrutural. Significa que existe um outro lado da história do Irã que é minimizado por motivos ideológicos. Em última análise, os EUA e, em grau menor, a Europa estão se desqualificando do mercado iraniano em um período de calamidade econômica intensa. Já a China e a Rússia dizem "obrigado".

Há também vários fatores "soft" que alimentam a relativa estabilidade da economia iraniana. O país já se garantiu um lugar entre os inovadores tecnológicos da região, principalmente graças a investimentos sistemáticos em infraestrutura funcionante de pesquisas e desenvolvimento. O número de publicações científicas no Irã aumentou de 736 em 1996 para 13.238 em 2008. É o crescimento dessa natureza mais acelerado no mundo.

Como parte do plano abrangente para a ciência, o Irã pretende criar um centro de nanotecnologia e direcionar 4% de seu PIB para pesquisas e desenvolvimento. Graças a essas políticas, o país tornou-se uma potência nas pesquisas com células-tronco na tecnologia de satélites. Algumas semanas atrás o Irã lançou com êxito o satélite Rassad, e em fevereiro enviou ao espaço sua primeira biocápsula de seres vivos, usando o transportador Kavoshgar-3 (Explorador-3). Até 2019 o Irã pretende enviar seus primeiros astronautas ao espaço.

A segunda narrativa dominante, que está estreitamente interligada com a anterior, prevê a derrocada iminente da república islâmica. É comparável às previsões semelhantes feitas sobre a queda dos irmãos Castro, que estão no poder em Cuba há quase seis décadas. No entanto, a ideia de que o Estado iraniano estaria prestes a cair é ideologicamente oportunista e está distante da realidade política do país.

Existem, a meu ver, várias razões interdependentes pelas quais o Estado iraniano permanece relativamente estável, pelo menos no curto e médio prazo:

- Não há governo abrangente por um partido único que sufoque a dissensão política por completo.

- Não há ausência absoluta de responsabilidade perante a população.

- Não há setor militar e de inteligência que não esteja ideologicamente comprometido com o Estado/sistema.

- Há uma base engajada que apóia o Estado e não há movimento real em favor de uma revolução no país, nem mesmo por parte da oposição reprimida.

O que é mais importante é que não há dependência excessiva do Ocidente que possa produzir uma crise de legitimidade (como foi o caso no Egito de Hosni Mubarak, na Tunísia sob Zine al-Abidine Ben-Ali e no Irã sob o xá) e não há subserviência às exigências de Israel. A forte ênfase do governo iraniano sobre a "independência nacional" continua a lhe valer apoio na sociedade iraniana. Logo, o confronto em torno do dossiê nuclear é alimentado repetidamente para intensificar as chamas do nacionalismo iraniano.

Estas são conclusões que são em grande medida postas em segundo plano em muitas análises sobre o Irã. Ao invés disso, existe toda uma literatura de especialização instantânea que está vinculada à política do momento. Se a análise feita de um país é incorreta, as prescrições políticas só podem ser erradas também.

O Afeganistão e o Iraque são exemplos muito bons da relação entre a ausência de conhecimentos corretos sobre um país e fracasso estratégico.

Por: ARSHIN ADIB-MOGHADDAM
Fonte: Guardian
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