Muitos dos líderes das milícias que ajudaram a derrubar Muamar Kadafi estão abandonando a promessa de entregar as armas e agora dizem que pretendem preservar sua autonomia e influenciar as decisões políticas como "guardiões da revolução".
A questão das milícias é uma das mais urgentes enfrentadas pelo governo interino da Líbia, o Conselho Nacional de Transição (CNT). Dezenas de brigadas de voluntários armados surgiram em todo o país e muitas vezes elas respondem a conselhos militares locais, que se tornaram o principal órgão de governo em cidades como Misrata e Zintan, bem como na capital, Trípoli.
O primeiro-ministro Mahmoud Jibril sugeriu em uma entrevista coletiva na noite de domingo que, em vez de esperar que as milícias locais se dispersem, o CNT deve tentar incorporá-las para incluir seus representantes nas decisões.
O primeiro-ministro Mahmoud Jibril sugeriu em uma entrevista coletiva na noite de domingo que, em vez de esperar que as milícias locais se dispersem, o CNT deve tentar incorporá-las para incluir seus representantes nas decisões.
"Ninguém quer desistir das armas agora e muitas tribos e cidades estão acumulando armas ‘caso necessitem’”, disse Mahmoud Shammam, porta-voz da diretoria do conselho.
Relatos de confrontos esporádicos entre as milícias, bem como o assassinato de muitos líderes civis e alguns combatentes por vingança, atestam a mudança das milícias de um papel em que apenas recusam a entrega de armas a outro em que desafiam continuamente a frágil autoridade política do conselho.
"Isto poderia levar a uma confusão, ao conflito entre os conselhos", disse Ramadan Zarmoh, 63 anos, líder do conselho militar de Misrata, que argumentou que a milícia da cidade deve ser dissolvida imediatamente após a criação de um novo Ministério da Defesa. "Se quisermos ter democracia, não podemos ter isso."
Sua opinião, no entanto, parece ser a da minoria. Muitos membros dos conselhos militares insistem que precisam permanecer armados até que uma nova Constituição seja ratificada, porque eles não confiam no fraco governo provisório para levar a Líbia à democracia por conta própria.
Sua opinião, no entanto, parece ser a da minoria. Muitos membros dos conselhos militares insistem que precisam permanecer armados até que uma nova Constituição seja ratificada, porque eles não confiam no fraco governo provisório para levar a Líbia à democracia por conta própria.
"Nós – o povo que atua no combate – é que temos o poder e não vamos abrir mão disso até que tenhamos um governo legítimo que surgirá a partir de eleições livres e justas", disse Anwar Fekini, um advogado franco-líbio que é líder dos grupos armados nas montanhas ocidentais e também está próximo aos principais líderes do CNT.
"Vamos garantir que seja implementada uma Constituição civil e um regime democrático no país", acrescentou, "e vamos utilizar todos os meios disponíveis para isso – principalmente nossas forças em campo”.
Líderes da milícia já demonstraram sua determinação em entrar no processo político. Antes de o governo provisório nomear um novo primeiro-ministro na noite de segunda-feira, os líderes locais de Misrata – falando sob a condição de anonimato para evitar uma disputa aberta com o conselho nacional – ameaçaram que, se não chegarem a acordo sobre um candidato que considerem satisfatório, os conselhos militares locais de cidades no oeste da Líbia poderiam interceder para decidir a questão.
A escolha para primeiro-ministro, Abdel Rahim el-Keeb, um engenheiro e empresário de Trípoli, satisfez as cidades ocidentais e resolveu a questão pacificamente. Mas as autoridades do CNT afirmam que a ameaça de intervenção em si compromete a transição para uma democracia civil, na qual as disputas são resolvidas com cédulas e não com armas.
Shammam disse que a intervenção armada "seria um desastre" e que a adoção de uma nova Constituição deve acontecer "sob o escudo da lei – delegacias de polícia, juízes – ao invés de sob conselhos militares e da força de armas".
Ele e outros no CNT dizem esperar que o próximo governo de transição comece a criar um Exército nacional e desmantele os conselhos militares locais. Referindo-se à eleição prometida de um órgão governamental ainda este ano, ele acrescentou: "Se os conselhos militares começarem a ampliar e expandir sua ação, eles substituirão uma assembleia nacional."
Alguns apontam para o vizinho Egito, onde conselhos militares tomaram o poder na derrubada do presidente Hosni Mubarak e têm atrasado a transição para o controle civil. Outros dizem que existe o perigo de a Líbia poder se assemelhar ao caos que tomou conta do Iêmen ou da Síria porque existem várias milícias autônomas prestes a assumir um papel político – em Trípoli, nas cidades de montanha ocidentais como Zintan e suas vizinhas, em Misrata, e na cidade de Benghazi.
No leste e em Trípoli, algumas das maiores e mais bem equipadas brigadas estão associadas a grupos islâmicos que agora formam partidos políticos. "Eles vão manter as armas enquanto não fizerem parte do poder", previu Shammam, que é liberal.
Já houve confrontos entre grupos armados. Há duas semanas, os combatentes de Zintan e Misrata lutaram brevemente no aeroporto de Trípoli, deixando cerca de três mortos, disse Abed al Rzag Bakesh, 40, um líder militar de Zintan. Ele disse que provocações de um partidário de Kadafi disfarçado causaram o confronto.
Na semana passada, um tiroteio irrompeu entre os dois grupos na Praça dos Mártires da capital, que o conselho militar local proibiu para combatentes.
O CNT prometeu uma "declaração constitucional" dentro de oito meses após a seleção de um novo governo, que irá realizar eleições para uma assembleia nacional responsável por supervisionar a redação de uma Constituição.
Sem tradição democrática, as autoridades provisórias da Líbia precisam criar distritos eleitorais e elaborar um sistema de votação – decisões com inevitáveis ganhadores e perdedores, politicamente e geograficamente.
Durante a rebelião, oficiais do Conselho Nacional de Transição prometeram dar voz igual a todos os líbios, independentemente da sua localização ou posição política.
Fonte: The New York Times
isso dai ainda vai dar muito problema...quem fez a revoluçao nao foi o povo mas as potencias ocidentais.Agora para unirem o poder em apenas um governo vai dar muito problema.
ResponderExcluirserá mais um novo iraque Allan, não concorda angelo?
ResponderExcluirna verdade ta mais pra uma china.Nao sei se conhecem a china antes da segunda guerra era um pais totalmente dividido entre warlords...isso que vai virar a libia.
ResponderExcluirTalvez uma nova Somália, não? Pense ser o mais provável.
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