O ministro Celso Amorim fez ontem sua primeira visita à Bolívia como titular da Defesa com agenda centrada na segurança da fronteira, especialmente monitoramento do tráfico aéreo e no combate ao narcotráfico.
A visita de Amorim, que assumiu a pasta em agosto, tem o objetivo de enviar uma mensagem política.
Na avaliação de Brasília, é preciso "relançar" a cooperação militar bilateral após os últimos anos de distanciamento, provocados, entre outros elementos, pela maior proximidade da Bolívia com Cuba e Venezuela.
Os governos de Bolívia e Brasil intensificarão seus esforços para fortalecer o combate ao narcotráfico na extensa fronteira entre os dois países, o que incluirá treinamentos militares conjuntos que poderão ser iniciados no ano que vem, assim como voos não tripulados e o uso de radares
O Brasil deseja aprofundar o intercâmbio de inteligência militar e tornar eficaz o frágil monitoramento da fronteira, gargalo no combate ao narcotráfico, com uso compartilhado de radares e veículos aéreos não tripulados.
De acordo com a Polícia Federal, mais de 80% da cocaína que entra no Brasil é proveniente da Bolívia.
"Colocamos à disposição (da Bolívia) o conhecimento que temos e que desenvolvemos, sobretudo na parte de defesa aérea, porque muito do tráfico (de drogas) e do contrabando se faz por voos ilícitos", disse o ministro da Defesa, Celso Amorim, após a assinatura de um memorando de entendimento com seu colega boliviano, Rubén Saavedra.
O ministro ressaltou a importância deste acordo para o governo de Dilma Rousseff, ao afirmar que sua visita à Bolívia ocorre nos primeiros 90 dias de Amorim à frente da pasta da Defesa.
"Os representantes das três forças realizarão (a partir de 2012) reuniões binacionais de caráter técnico que irão definir planos operativos relativos à execução de treinamentos militares para conseguir maior eficiência nas Forças Armadas no controle da extensa fronteira entre os dois países", explicou Saavedra.
Bolívia e Brasil dividem uma fronteira de 3.100 quilômetros e o governo brasileiro expressou em diversas vezes sua preocupação pelo aumento das atividades criminosas (narcotráfico, contrabando e tráfico de armas) na zona fronteiriça.
Consultado sobre sua percepção em relação ao aumento da criminalidade na fronteira boliviana, Amorim afirmou que "há sempre nessa atividade terrível a busca por novas rotas e, se houver pressão de um lado, vão para o outro, por isso, a vigilância tem que aumentar".
Em março deste ano, os dois países assinaram um acordo para as operações de vigilância com aviões não tripulados (VANT) e está pendente a assinatura de um convênio para controlar e destruir os cultivos de coca.
Amorim ratificou a disponibilidade de seu país para trabalhar no tema da vigilância e afirmou que existe uma "oferta de uma empresa brasileira, com apoio de um crédito brasileiro" para a aquisição de radares para a região fronteiriça, mas que a decisão a esse respeito "será do governo da Bolívia".
CONVÊNIO ANTIDROGAS
Nas próximas semanas, o governo brasileiro espera assinar com a Bolívia convênio antidrogas para monitorar o cultivo de folha de coca, cuja negociação, no âmbito do Ministério da Justiça, se arrasta desde junho passado.
A ideia de fazer um acordo tripartite, com a inclusão dos EUA, foi abandonada. Agora serão dois acordos bilaterais.
O Brasil tentava há anos incluir os americanos em um pacto trilateral e lutava contra a desconfiança da Bolívia, que acusava os EUA de usarem o combate às drogas para interferir politicamente.
O governo brasileiro diz que o "espírito" de cooperação tripartite foi mantido e que a divisão em dois documentos bilaterais se deve a questões técnico-jurídicas.
Fonte: Folha
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