quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Palestinos avançam rumo a ingresso em agência da ONU



Os palestinos deram nesta quarta-feira mais um passo rumo ao ingresso na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), quando seu conselho executivo respaldou o pedido de adesão plena do Estado palestino à agência da ONU. Os EUA criticaram a medida, argumentando que tal decisão é incoerente com o pedido em curso no Conselho de Segurança, que ainda está sob análise.

A chancela da Unesco, uma das mais importantes agências das Nações Unidas, com sede em Paris, pode conceder mais peso ao pedido de ingresso palestino à ONU como Estado pleno, que atualmente está sendo discutido no Conselho de Segurança da entidade.

O pedido foi aprovado por 40 dos 58 membros do conselho executivo da Unesco, repassando o tema para a próxima etapa, a votação pelos 193 países-membros do organismo, no dia 25 deste mês.

Quatro países rejeitaram a solicitação, incluindo os EUA, e 14 optaram pela abstenção, entre eles França e Espanha.

Os palestinos têm status de observadores na Unesco desde 1974. Para ganhar status de membro pleno, os chamados "Estados" que não são membros da ONU podem ser admitidos na Unesco se forem aprovados por maioria de dois terços na Conferência Geral.

EUROPA

A notícia chega no mesmo dia em que Mahmoud Abbas, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), chegou a Estrasburgo, na França, para um encontro com os parlamentares europeus no Conselho da Europa, onde deve pedir apoio ao pedido de ingresso à ONU como Estado pleno.

Acompanhado pelo negociador-chefe Saeb Erekat e o chanceler palestino Riyad al Malki, Abbas deve se reunir com a chefe de diplomacia do bloco, Catherine Ashton, durante a viagem.

Ele discursará diante da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa nesta quinta-feira.

BATALHA DIPLOMÁTICA

O anúncio da Unesco pode ser considerado mais uma etapa da batalha diplomática que os palestinos travam para pressionar a comunidade internacional a aceitar seu ingresso nas Nações Unidas.
Fortemente rejeitada pelos EUA e Israel, que acusam os palestinos de quererem isolar os israelenses ao angariar apoio mundial para a criação de seu Estado, a pressão diplomática vem avançando.

Abbas já tem em curso um pedido de ingresso à OMC (Organização Mundial do Comércio) e recebeu nesta semana o status de "parceiro" no Conselho da Europa, o principal órgão de direitos humanos do bloco europeu.

EUA

Washington, que declarou antecipadamente seu veto também ao pedido palestino de ingressar na ONU --EUA, Rússia, China, França e Reino Unido detêm poder de veto no conselho-- mostrou indignação frente à decisão da Unesco, classificada como "incoerente".

"No Conselho de Segurança há um processo em curso. É, portanto, incoerente tomar decisões a respeito de organismos da ONU antes de o Conselho de Segurança se pronunciar", argumentou Victoria Nuland, porta-voz do Departamento de Estado.

Em comunicado, o embaixador dos EUA na Unesco, David Killion, pediu a todos os delegados que se juntem aos Estados Unidos em votar "não".

Os EUA, que respondem por 22% do orçamento da agência da ONU, podem retirar seu financiamento à Unesco como represália.

A presidente do comitê de relações exteriores da Câmara dos Deputados americana, Ileana Ros-Lehtinen, sugeriu a medida caso o pedido palestino seja aprovado.

"Temendo que seus esforços junto ao Conselho de Segurança fracassem, a liderança palestina está buscando reconhecimento em outras partes do sistema da ONU. Esta tentativa de manipular o processo precisa ser interrompida. Nossas contribuições são a alavancagem mais forte que temos na ONU e devem ser usadas para defender nossos interesses e nossos aliados e sustar este esforço palestino perigoso", disse.

ISRAEL

O governo israelense rejeitou o anúncio da Unesco, argumentando tratar-se de uma "rejeição ao caminho das negociações, assim como ao plano do Quarteto para continuar o processo político [como tentativa de resolver o conflito israelo-palestino]".

"A medida nega os esforços da comunidade internacional para avançar o processo político. Um decisão como esta não ajudará os palestinos em suas aspirações rumo à criação de seu Estado", disse a Chancelaria israelense em comunicado.

Diplomatas de Israel se mobilizam agora para tentar convencer os Estados-membros a abandonarem o pedido e "não politizar a Unesco, deixando o assunto para Nova York", disse o embaixador de Israel na agência da ONU, Nimrod Barkan.



Fonte: Folha
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