terça-feira, 25 de outubro de 2011

Liberais na Tunísia temem vitória islâmica em eleição constituinte



Um alto comparecimento às urnas marcou as primeiras eleições livres na Tunísia. O resultado, no entanto, pode vir a desanimar os apoiadores da Primavera Árabe, já que se anuncia uma vitória dos islâmicos moderados.

Nas primeiras eleições livres da história da Tunísia, espera-se uma vitória do movimento islâmico moderado Ennahda. Os resultados deverão ser anunciados nesta terça-feira (25/10), mas as urnas já apuradas apontam para uma clara vantagem eleitoral do Ennahda, disse um membro do movimento islâmico moderado à agência de notícias DPA.

Apesar das congratulações de todo o mundo pelas primeiras eleições num país árabe após a assim chamada Primavera Árabe, tunisianos liberais temem uma mudança dramática no país, no caso de uma vitória do movimento islâmico – do véu islâmico obrigatório à proibição de bebidas alcoólicas.

O direcionamento dos islâmicos, no entanto, ainda não ficou claro. Na campanha eleitoral, o Ennahda se apresentou como um partido moderno, que vê como exemplo o partido governista turco AKP.

Assembleia Constituinte

Nove meses após a saída do ex-ditador Ben Ali, cerca de 7 milhões de tunisianos foram convocados a eleger os 217 membros da Assembleia Constituinte, que deverá nomear um governo de transição e elaborar uma nova Constituição. Na disputa pelos 217 assentos da Assembleia, houve 11.618 candidatos.

Segundo pesquisas de opinião, o Ennahda, comandado pelo líder islâmico Rachid Ghannouchi, estaria claramente à frente, com 30% da preferência eleitoral. O partido era proibido durante o governo de Ben Ali e continua sendo bastante controverso entre os tunisianos.

Principalmente as mulheres emancipadas temem que o Ennahda assuma o poder. Apesar de diversas limitações dos direitos civis, mesmo sob o governo de Ben Ali, a Tunísia era considerada um dos países mais avançados do Norte da África. Em nenhum outro Estado muçulmano da região a parcela feminina da população tem tantos direitos.

Quanto à participação eleitoral, não houve a princípio informações claras. Um funcionário da comissão eleitoral divulgou que dos 4,1 milhões de eleitores registrados, mais de 90% compareceram às urnas no domingo. Além disso, havia também 3 milhões de eleitores não registrados, que puderam entregar seu voto em locais especiais de votação.

Medo de novos conflitos

Como modelo para seu partido, Rachid Ghannouchi, líder do Ennahda que viveu 22 anos em exílio no Reino Unido, inspirou-se no primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Diplomatas ocidentais estimam, todavia, que os votos obtidos pelo Ennahda não deverão ser suficientes para um governo de maioria. É provável que seja necessário formar uma coalizão de governo.

Segundo as palavras de Ghannouchi, seu partido respeita os direitos das mulheres e não pretende impor nenhum preceito moral aos tunisianos. Apesar da atitude moderada do Ennahda, alguns tunisianos temem que o novo governo venha a intervir em seu estilo de vida.

Uma vitória do partido significaria o primeiro êxito eleitoral dos islâmicos no mundo árabe, desde que o grupo radical Hamas saiu vencedor das eleições nos territórios palestinos. Também na vizinha Argélia, os islâmicos saíram vencedores em 1991. O resultado não foi reconhecido pelas Forças Armadas do país. Seguiram-se então anos de guerra civil com milhares de vítimas.

Fonte: Deutsche Welle
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