Apesar do intenso foco sobre o Afeganistão, o Paquistão e o Oriente Médio na última década, as agências de espionagem dos EUA continuam carentes das habilidades linguísticas necessárias para conversar com nativos, traduzir informações interceptadas e analisar dados, segundo autoridades do setor.
Os atentados de 11 de setembro de 2001 motivaram um grande impulso no aprendizado de línguas estrangeiras com o objetivo de monitorar militantes e captar tendências em partes do mundo que não eram uma prioridade na Guerra Fria.
Mas as agências de inteligência norte-americanas precisaram encarar a realidade de que os idiomas necessários não podem ser aprendidos rapidamente, que as gírias que agentes e analistas dos EUA precisam conhecer são complicadas, e que as preocupações de segurança retardam a liberação de acesso ao material.
Ainda em 2008 e 2009, funcionários do setor de inteligência continuavam emitindo novas diretrizes e programas na esperança de melhorar a capacidade linguística de seus agentes.
"A língua continuará sendo um desafio para nós", disse James Clapper, diretor de Inteligência Nacional, em uma audiência parlamentar na semana passada. "É algo em que estamos trabalhando, e vamos continuar fazendo isso, mas provavelmente não estamos onde gostaríamos de estar."
O governo dos EUA precisa de pessoas que falem árabe, farsi, pashto, dari, urdu e outras línguas "exóticas", cujo aprendizado é mais difícil para anglófonos.
"Se você voltar aos dias da Guerra Fria, era muito mais fácil para nós criarmos e termos um quadro de linguistas altamente qualificados, digamos, em russo e nas línguas do Leste Europeu, que chegam com muito mais naturalidade às nossas pessoas do que essas línguas do Oriente Médio", disse Clapper.
LÍNGUAS
As agências de espionagem não divulgam publicamente o número de empregados com qualificações linguísticas. O Escritório do Diretor Nacional de Inteligência (Odni, na sigla em inglês) diz que o número de falantes do árabe na comunidade de inteligência basicamente triplicou nos últimos dez anos, e que as capacidades linguísticas relacionadas ao Afeganistão e Paquistão os idiomas balúchi, dari, quiguiz, pashto, punjabi, tajique, urdu e uzbeque aumentaram 30 vezes em relação ao que era antes do 11 de Setembro.
Mas as agências de inteligência precisam de algo a mais do que apenas noções de um idioma para conseguir entender os significados culturais e os diferentes dialetos.
"Nesses dificílimos alvos terroristas, há obviamente esse anseio por falantes nativos", disse Ellen Laipson, da entidade de pesquisas Stimson Center. "Algumas das pessoas que você está tentando monitorar não são em si altamente educadas, por isso usam muita gíria, e é (preciso um conhecimento) de um padrão maior do que se você estiver tentando monitorar ou interagir com o elitizado pessoal da chancelaria de um país desenvolvido."
As agências de espionagem dos EUA estão procurando norte-americanos que sejam filhos e netos de pessoas dessas origens, para que possam oferecer uma compreensão cultural e linguística mais imediata do que ensinando alguém do zero.
Mas esses grupos podem ter dificuldades em obterem acesso a materiais sigilosos, devido a seus vínculos familiares no país-alvo.
Fonte: Reuters
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