terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vinte anos depois do fim da URSS, muitos gostariam de voltar no tempo



Sergei Veretelny foi baleado e ferido quando se colocou desarmado diante de uma fileira de veículos blindados há 20 anos para ajudar a impedir a passagem no centro de Moscou, uma das poucas vítimas da última e falha tentativa de preservar a União Soviética.

Era um momento em que os russos, na sua maioria intimidados e passivos súditos do governo soviético por 74 anos, concentraram-se nas ruas para apoiar o futuro presidente Boris Yeltsin, exigindo uma mudança democrática.

O escritor Vasily Aksyonov capturou o entusiasmo de muitos naquele momento ao chamar o impasse de 60 horas de, “provavelmente, as noites mais gloriosas da história da civilização russa.”

Mas o homem forte por trás do governo da Rússia, o primeiro-ministro Vladimir Putin, chamou a queda da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Desilusão

Veretelny é apenas uma voz entre 140 milhões de russos, e embora sua desilusão seja amplamente compartilhada, muitas pessoas parecem aceitar os limites de Putin a respeito da concorrência política, da sociedade civil e da mídia. Uma eleição que está marcada para o início do próximo ano não deve mudar o curso do país.

Veretelny falou uma semana antes do aniversário na casa de Lyubov Komar, a mãe de um jovem veterano da guerra russo no Afeganistão, que foi um dos três homens mortos na noite final. Veretelny foi ferido ao tentar recuperar o corpo de Komar, que ele disse ter ficado pendurado em um veículo blindado, que ia para frente e para trás para desalojar um ônibus que havia ficado preso em sua carroceria ao bloquear o caminho.

“Eu vi o cara pendurado para fora do carro blindado”, disse ele. “Coloquei minhas mãos para ajudar e fui atingido no ombro. Eu pensei que alguém viria retirar o corpo, mas o veículo dirigiu para frente e para trás até que o corpo caiu no asfalto.”

Os carros blindados e tanques bateram em retirada pouco depois, marcando o fim de um golpe que tentou segurar a onda de mudança. Em 25 de dezembro, o então presidente Mikhail S. Gorbachev renunciou, pondo fim à União Soviética.

Desde então, Veretelny trabalhou como eletricista, inspetor de polícia e agora como empreendedor à margem da economia russa. Até recentemente, sua mulher Svetlana tinha um ótimo emprego como gerente de um negócio e ela disse que o casal vive confortavelmente.

Processo

Komar, que trabalha como ajudante em um clube de saúde, ainda constrói sua vida em torno da memória de seu filho, e ela ecoa a opinião de Veretelny, dizendo: “Se meu filho pudesse ter visto para onde o país estava indo, ele não estaria nas barricadas”.

Sentada em seu apartamento, rodeada de fotografias que traçam seu crescimento de um menino a um soldado, ela disse que desistiu do processo político. “Eu não voto há 10 anos”, disse ela. “Eles estão muito bem sem mim. Escolhem quem eles querem, então por que votar?”

Como muitos russos, ela passou a desprezar Yeltsin pelo que viu como uma liderança fraca e agora faz parte da grande maioria do povo russo que apoia Putin. Mas o que ela realmente gostaria é de voltar no tempo.

“Eu me sentia mais confortável na URSS”, disse ela. “Você sempre tinha um pedaço de pão. Você sempre tinha trabalho. Sim, com certeza, você pode ir para o exterior agora, mas tem de ter dinheiro para isso e tem de entrar em dívida. Se você não tem dinheiro, não pode fazer nada.”

Um levantamento recente do Centro Levada, uma respeitada agência de pesquisa, descobriu que 20% dos russos compartilham o sonho de um retorno da União Soviética. Esse número oscilou entre 16% e 27% nos últimos oito anos.

Entre estes, não surpreendentemente, estava Gorbachev, que tentou reformar e preservar a URSS, mas foi frustrado pelo golpe, depois por Yeltsin e pela força situação do momento. “Alguns dizem repetidamente que o colapso da União Soviética era inevitável”, disse ele em uma coletiva de imprensa na quarta-feira. “Mas eu continuo dizendo que a União Soviética poderia ter sido preservada.” Dirigindo-jornalistas, ele disse: “Vocês criticam Gorbachev: fraco, molenga, mais ou menos nesses termos. Mas o que teria acontecido se aquele molenga não estivesse naquela posição, naquele momento, quem diabos sabe o que poderia ter acontecido conosco.”

Segundo o Centro Levada, aqueles que desejariam voltar ao passado soviético são em sua maioria membros do antigo Partido Comunista, idosos e pessoas que vivem em pequenas cidades e aldeias. A pesquisa foi realizada em julho com 1,6 mil pessoas e possui margem de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais.

Outras respostas sugerem que os russos querem a democracia, mas uma democracia específica, com um governo central poderoso, algo mais próximo ao que o país tem hoje do que alguns, como Veretelny, havia imaginado. Mais da metade dos participantes da pesquisas, 53%, disse valorizar mais a “ordem” do que os direitos humanos.

“Nós tivemos tanta esperança, tanta fé, tanta inspiração para o futuro”, disse Svetlana, esposa de Veretelny. “Havia um sentimento de liberdade e esperança. Estávamos todos felizes em ver mudança adiante.”

Mas agora, segundo a agência de pesquisa, apenas 10% dos entrevistados veem aqueles dias como uma vitória para a democracia. O número de pessoas que chamou os eventos de tragédia aumentou de 25% no aniversário de 10 anos da queda da URSS para 39%. “É o que é”, disse Veretelny, que passou da esperança à passividade. “Temos apenas de perceber que é isso o que nós temos.”

Fonte: The New York Times via Último Segundo

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