terça-feira, 12 de julho de 2011

Somália é o pior desastre humanitário do mundo, diz ONU


Refugiados somalis fugindo da seca e da fome, em busca de abrigo no Quênia, são os mais pobres e vulneráveis do mundo, afirmou hoje Antonio Guterres, chefe da agência de refugiados da ONU, o Acnur.

"Fugimos por causa da fome", disse Ulmay Abdow Issack, 32, que levou três semanas para chegar à fronteira da Somália com o Quênia, carregando junto seus seis filhos e o marido doente. "Não tínhamos nada para beber ou comer durante o trajeto", acrescentou.

É crescente o número de crianças desnutridas morrendo após caminhar por semanas em busca de ajuda emergencial, para o que se tornou "o pior desastre humanitário do mundo", segundo Guterres.

Para Muslima Ada Hassan, 35, a jornada foi ainda mais árdua. Dois filhos e uma filha morreram durante 35 dias de caminhada até Dadaab -- campo de refugiado da ONU, no nordeste do Quênia.

Da fronteira com a Somália, os refugiados têm que atravessar 80 km pelo deserto queniano a pé para chegar em Dadaab.

"Há casos em que crianças são comidas por hienas e leões", disse Abdullahi Hussein Sheikh, um dos refugiados.

Em junho, o número de chegadas ao campo de refugiados de Dadaab triplicou para 1.300 pessoas por dia. Agências internacionais não conseguem distribuir ajuda humanitária dentro da Somália devido à insegurança e hostilidade do grupo rebelde, Al Shabaab, que controla grande parte do país.

"Visitei muitos campos de refugiados pelo mundo. E nunca vi pessoas chegando em situação tão desesperadora", disse Guterres durante visita a Dadaab -o maior campo de refugiados do mundo, que abriga 376 mil refugiados e fica a 80 km da fronteira entre Somália e Quênia.

Crianças e mães sentavam na areia, esperando por ajuda e guardando jarros de água, seus pertences mais preciosos. O restante, são apenas roupas.

MORTALIDADE INFANTIL

Em maio, a morte de crianças menores de cinco anos de idade cresceu seis vezes, frente ao ano anterior, em Dagahaley, parte norte do campo. Entre 18% e 24% das crianças que chegam com menos de cinco anos são desnutridas.

"Muitas das crianças estão morrendo dentro de 24 horas depois de chegarem. Eles estão chegando, nós os examinamos e os enviamos aos nossos centros de alimentação, mas mesmo assim pode ser tarde para conseguir salvá-los", disse Allison Oman, nutricionista do Acnur.

As Nações Unidas descreveram a seca no Chifre da África como uma emergência, uma fase antes da fome. Cerca de 10 milhões de pessoas já são afetadas na Somália, Quênia e Etiópia.

Segundo a ONU, esta é a pior seca em 60 anos e uma dezena de agências lançou apelos maciços por fundos e doações. "Pessoalmente, não vejo uma situação como esta desde a fome de 1991 no sul do Sudão", disse Oman.

A situação de seca não deve melhorar antes da temporada de chuvas, que deve começar em outubro. A Somália não tem um governo central efetivo há duas décadas, o que piora os efeitos das secas recorrentes na região. O Al Shabaab se recusa a permitir que seja entregue ajuda humanitária em áreas sob seu controle, alegando que o apoio da comunidade internacional encorajaria dependência.

Dadaab foi montado em 1991 para acomodar cerca de 100 mil refugiados somalis, mas foi declarado lotado em 2008. Até cinco famílias dividem espaço que deveria acomodar uma, enquanto quase 42 mil estão abrigados em acampamentos improvisados do lado de fora do campo.

Fonte: Reuters
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