Os brasileiros aprovam investimentos em segurança nacional. Somos o que Charles Glaser chama de "security seekers" (motivados pela segurança). Não somos gananciosos do ponto de vista de uma expansão territorial. Queremos dissuasão. Daí os submarinos e caças voltados para defesa.
Mais difícil é convencer a opinião pública de que isso deve ocorrer enquanto mantemos desguarnecida a fronteira terrestre. Drogas, armas e carros roubados entram e saem do país pelos vizinhos sem que haja uma efetiva política de combate ao crime transnacional.
Nem mesmo a discussão sobre as negociações envolvendo o controle da tecnologia nuclear é socializada.
O governo se recusa a assinar o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação sem debate interno.
Pode, sim, ter razão, mas a palavra final deve ser da sociedade brasileira, que já expressou constitucionalmente sua preferência.
Dilma fez bem ao interromper uma espiral negativa custosa ao Brasil. Em particular nos EUA, a voluptuosidade do governo anterior gerou incertezas sobre as motivações benignas brasileiras em episódios como os do Irã e de Honduras, país com o qual, aliás, já reatamos relações, felizmente.
A política externa brasileira está voltada para os objetivos de Estado, e não diretamente para os da sociedade. Há uma inversão de valores que já deveria ter sido superada pela democracia. Se os brasileiros estiverem bem, o Estado brasileiro também estará. Simples, mas ainda não compreendido por Brasília.
Diplomatas consideram um rebaixamento ver a política externa como uma política pública. Não temos uma política de combate efetivo ao crime organizado na região. Mas não é só isso. Falta-nos também uma estratégia para reconquistar mercados industriais. Cento e noventa milhões não cabem em uma economia sem indústria.
Não há nada de criativo na dependência comercial com a China. Estamos apenas seguindo fluxos, passivamente. Aos seus 20 anos, o Mercosul despista.
O apoio brasileiro à França no FMI contra um candidato mexicano escancara uma verdade inconveniente: a América Latina está no discurso do governo, mas, na prática, as relações são cada vez mais preenchidas pelas grandes potências, antigas e emergentes.
As núpcias com os franceses não significam, contudo, iniciativas consistentes para a Europa.
Ao abrigar um terrorista, arruinamos afinidades com a Itália.
Em Haia, podemos passar um vexame, cuja causa faria Ruy Barbosa ruborescer. Desrespeitamos o direito internacional.
Já a vitória apertada na FAO (por 92 votos a 88), após uma era de fracassos na ONU, é reveladora das dificuldades enfrentadas pela nossa diplomacia. Foi como se, depois de sucessivas derrotas, quase empatássemos contra um time debilitado em jogo difícil.
O Brasil é potência mundial na produção de alimentos.
Caminhamos do nosso jeito para desempenhar um papel significativo no mundo, como uma nação de grandes qualidades. Com destaque para a agenda ambiental, cuja centralidade pouco a pouco o Itamaraty aceita. Conviria dar mais atenção à sociedade. O Estado tem hoje uma política externa à deriva. E os brasileiros, quando terão alguma?
Fonte: Folha
Nota do Blog: Achei interessante este artigo que li na Folha, discordo em muitos pontos com o disposto pelo seu autor, porém gostaria de dicutir tal abordagem com você amigo leitor. Qual sua opinião em relação ao dito pelo autor deste artigo da Folha?
Deixe sua opinião, participe, faça aqui sua voz ter presença e compartilhe seu conhecimento e visão sobre este tema tão importante que é a política externa brasileira.
Mais difícil é convencer a opinião pública de que isso deve ocorrer enquanto mantemos desguarnecida a fronteira terrestre. Drogas, armas e carros roubados entram e saem do país pelos vizinhos sem que haja uma efetiva política de combate ao crime transnacional.
Nem mesmo a discussão sobre as negociações envolvendo o controle da tecnologia nuclear é socializada.
O governo se recusa a assinar o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação sem debate interno.
Pode, sim, ter razão, mas a palavra final deve ser da sociedade brasileira, que já expressou constitucionalmente sua preferência.
Dilma fez bem ao interromper uma espiral negativa custosa ao Brasil. Em particular nos EUA, a voluptuosidade do governo anterior gerou incertezas sobre as motivações benignas brasileiras em episódios como os do Irã e de Honduras, país com o qual, aliás, já reatamos relações, felizmente.
A política externa brasileira está voltada para os objetivos de Estado, e não diretamente para os da sociedade. Há uma inversão de valores que já deveria ter sido superada pela democracia. Se os brasileiros estiverem bem, o Estado brasileiro também estará. Simples, mas ainda não compreendido por Brasília.
Diplomatas consideram um rebaixamento ver a política externa como uma política pública. Não temos uma política de combate efetivo ao crime organizado na região. Mas não é só isso. Falta-nos também uma estratégia para reconquistar mercados industriais. Cento e noventa milhões não cabem em uma economia sem indústria.
Não há nada de criativo na dependência comercial com a China. Estamos apenas seguindo fluxos, passivamente. Aos seus 20 anos, o Mercosul despista.
O apoio brasileiro à França no FMI contra um candidato mexicano escancara uma verdade inconveniente: a América Latina está no discurso do governo, mas, na prática, as relações são cada vez mais preenchidas pelas grandes potências, antigas e emergentes.
As núpcias com os franceses não significam, contudo, iniciativas consistentes para a Europa.
Ao abrigar um terrorista, arruinamos afinidades com a Itália.
Em Haia, podemos passar um vexame, cuja causa faria Ruy Barbosa ruborescer. Desrespeitamos o direito internacional.
Já a vitória apertada na FAO (por 92 votos a 88), após uma era de fracassos na ONU, é reveladora das dificuldades enfrentadas pela nossa diplomacia. Foi como se, depois de sucessivas derrotas, quase empatássemos contra um time debilitado em jogo difícil.
O Brasil é potência mundial na produção de alimentos.
Caminhamos do nosso jeito para desempenhar um papel significativo no mundo, como uma nação de grandes qualidades. Com destaque para a agenda ambiental, cuja centralidade pouco a pouco o Itamaraty aceita. Conviria dar mais atenção à sociedade. O Estado tem hoje uma política externa à deriva. E os brasileiros, quando terão alguma?
Fonte: Folha
Nota do Blog: Achei interessante este artigo que li na Folha, discordo em muitos pontos com o disposto pelo seu autor, porém gostaria de dicutir tal abordagem com você amigo leitor. Qual sua opinião em relação ao dito pelo autor deste artigo da Folha?
Deixe sua opinião, participe, faça aqui sua voz ter presença e compartilhe seu conhecimento e visão sobre este tema tão importante que é a política externa brasileira.
Todo o artigo que vem da folha(a elite entreguista)esta sujeito a desconfiança. A folha é a espinha dorsal da mídia entreguista que se desdobra num vasto esqueleto, fétido, da mídia vassala do capitalismo apatrida. Esta gente representa o poder do dinheiro, seja num canto ou do outro do planeta.
ResponderExcluirConcordo plenamente contigo Fernando, a Folha é um agente de manipulação dos interesses externos, em especial o interesse do irmão do Norte.
ResponderExcluirPorém, cabe a nós brasileiros filtrarmos tudo que lemos e ouvimos, pois hoje em dia a mídia tornou-se o quarto poder e tem interesses próprios, em grande parte distante estes são fora do escopo do interesse nacional.
Amigo Angelo, gostaria de ler a sua posição diante deste artigo, o que discorda e seu ponto de vista em relação a politica externa brasileira, haja vista que é um estudante de RI e possui vasto conhecimento na área pelo que tenho acompanhando em cerca de quase um ano que sou leitor e admirador de seu blog.
Um abraço a todos.
Muitos da mídia acreditam que politica externa boa para o BRASIL é estar sempre de acordo com os EUA,ou seja sempre do lado mais forte e não sempre do lado certo!
ResponderExcluirO Brasil é soberano e deve ter respeitado suas decisões,se negociamos com o Irã ,ou se a Itália não concorda conosco cabe aos descontentes buscarem o dialogo e não imporem suas vontades!
O BRASIL É SOBERANO E ESTA NO CAMINHO CERTO EM SUA POLÍTICA EXTERNA!
Certo em sua política externa?
ResponderExcluirBrasil defendendo o que é certo?
O que se viu até agora é uma politica externa sem rumo, focada mais em simples oposição aos EUA do que em algo construtivo.
Fala-se em defender o que é certo, mas o governo forjava alianças com o Irã, um pais opressor dos direitos humanos, e com a Venezuela, cujos anseios ditatoriais e incompetência de seu governante é óbvia.
É claro que não se deve apoiar os EUA em tudo, mas não se perde nada por ficar do lado deles quando for conveniente. No caso da Líbia, por exemplo. O Brasil se absteve por que? Queria diálogo? Boa sorte em dialogar com um ditador que massacra sua população sem remorso nenhum. Pura ingenuidade. Não é que tudo deva ser resolvido na guerra, mas há casos em que ações militares são necessárias, desde que aplicadas corretamente.
Muito se fala em Tio Sam malvado, ou Império do Norte capitalista, mas lembrem-se: o mundo não é bipolar como na Guerra Fria. Os EUA estão decadentes. A China está se tornando uma ameaça muito maior para nós do que os estadunidenses, por exemplo. Enquanto que o Itamaraty faz acordos e acordos com eles, eles não apoiam o Brasil na política mundial, e seus produtos baratos obtidos pela superexploração de sua população são uma ameaça a nossa economia. Se eles não ligam nem pros proprios chineses, porque se importariam conosco?
Abram os olhos. Oposição cega e ideologia não vão ajudar nosso país a seguir em frente, mas sim uma política externa inteligente e hábil, que saiba com quem se aliar e o que fazer na hora certa. Mas de nada vai adiantar isso, se a interna não se acerta.
Um abraço.
Bom dia amigos,
ResponderExcluirPrimeiramente quero agradecer a participação de todos aqui, é enriquecedor poder observar a posição de cada um e seus pontos de vista, é bom ver que temos pessoas realmente interessadas em algo realmente importante.
Bom, como citado por todos, e uma coisa óbvia a todos nós é que somos um país soberano e devemos fazer valer a nossa posição política nas questões internacionais sem que haja intervenção externa em nossas decisões.
Vou comentar em duas partes devido as limitações de caracteres.
Respondendo ao proposto pelo Anderson, eu concordo neste artigo que o povo brasileiro se mantém a margem das questões de importancia nacional, criticam muitas vezes sem conhecer o foco de algumas decisões e necessidades expressas pelo governo, em especial ás que são relativas á Defesa nacional e suas políticas.
Porém discordo quando o autor apoia a assinatura do Protocolo adicional ao TNP, pois como já expresso diversas vezes este seria um sinal verde a espionagem de nossa tecnologia inovadora de enriquecimento de urânio e que é altamente cobiçada por outros Estados.
Concordo que a nossa política externa deva manter um direcionamento estratégico e buscar a inserção de nosso país em questões vitais ao panorama internacional, como exemplo a questão iraniana,a qual não vejo como um erro do Itamaraty ao manter apoio ao Irã. Pois não podemos radicalizar e achar que todos arabes são terroristas. Violação de direitos humanos é uma questão discutível, pois o maior violador destes se diz seu maior defensor que é os EUA.
No caso Batisti eu acredito que foi um problema no qual não deveriamos ter nos envolvido, que os Europeus resolvam seus problemas, se o cara é ou não terrorista não cabe ao Brasil determinar, pois não é nosso cidadão e nem tão pouco possui qualquer ligação com nossa nação que justifique nossa intervenção.
Nosso acordo com a França é um caso a parte, onde devemos buscar deles uma posição mais clara de apoio as nossas intenções internacionais, como temos feito em relação aos interesses deles no FMI e em outros fatos.
Não devemos ser pró ou contra os EUA, mas estar de acordo com nossos interesses e defender nosso ponto de vista, caso este vá de acordo com os americanos ótimo, mas se não estiver temos de defender a nossa posição mesmo sob pressão. Temos de ter robustez em nosso posicionamento e demonstrar convicção de nossas decisões.
parte II
ResponderExcluirNo último comentário nosso amigo critica o apoio a Venezuela, porém eu acho que devemos manter proximidade com os nossos vizinhos e ser um poder regional que exerça influência forte sobre os mesmos, isso é possível, porém presenciamos postura tímida de nosso governo em questões de interesse nacional como ocorrido na Bolívia quando da apropriação por aquele estado de bens brasileiros representados pelas refinarias instaladas naquele país pela Petrobrás. Deve-se manter um dialogo aberto, porém sempre observando os nossos interesses políticos e comerciais. A Venezuela é um grande parceiro energético, possui uma grande reserva de petróleo como nós e manter estreitos laços é interessante objetivando um futuro próximo com relação ao mercado energético que passara a focar na América do Sul, uma vez que as crises e incertezas que permeiam o Oriente Médio e as limitações que estão a caminho no fornecimento de petróleo ao mercado por aquela região irão conduzir a uma solução que passará pelo nosso continente, seja em hidrocarbonetos ou energia renovável.
A Líbia é um caso que temos de avaliar detidamente. Peço ao amigo que click no marcador líbia e leia atentamente a todo o conteúdo e então crie um posição a respeito, pois não devemos nos orientar pelo que a mídia de grande escala fala, pois assim seremos papagaio de pirata. Kadafi não é o sanguinário que os EUA e a UE pronunciam, vejam os indicadores da Líbia antes da dita manifestação, onde o que assistimos foram grupos armados atacando o governo, ou seja guerra civil, um caso de insurreição o qual dá legalidade para uso da pesada mão do Estado para garantir a securidade do mesmo. Pois se analisarmos o caso da Arábia Saudita, Bahrein, Iêmen, veremos que são casos onde realmente os Estados estão massacrando civis indefesos e a mídia internacional destoa o foco para defender os interesses das potências na região.
Como bem disse o mundo não vive sob a bipolaridade, ou sob bases ideológicas, mas por interesses político-econômicos, estes sim determinam a direção dos governos mundiais e o Brasil deve se ater a um plano de projeção de sua política, para isso balisando quais os interesses e os focos que devem ser mantidos em sua política externa, buscando principalmente a inserção em novos mercados e como disse o amigo no encerramento de seu comentário uma politica externa inteligente e hábil que saiba se desdobrar no cenário internacional em defesa de nossos interesses externos, mas com sintonia as necessidades político-economicas internas.
Um abraço a todos e continuem participando
Angelo,
ResponderExcluirSeu comentário traduziu quase que por completo minha opinião. Os exemplos que dei foram somente para ilustrar a política brasileira e mostrar seus equívocos.
Quanto a Venezuela, é bom manter relações com o país, mas não por sermos "bonzinhos", e sim pelo o que nossa nação pode lucrar com eles. Uma relação estratégica, por assim dizer. É bom mantermos uma influência nos nossos arredores, para evitar que outros o façam. Concordo perfeitamente com o que você afirmou.
Em relação ao Irã, acredito que o Brasil tentou se aproximar na hora errada, exatamente quando o mundo estava contra aquele país devido ao seu programa nuclear. A situação iraniana é muito delicada. O Ocidente está presente em suas duas fronteiras, o que deixaria qualquer líder acuado. Acredito que seu objetivo seja ter a capacidade de produzir ogivas, mas não necessariamente possuí-las, como uma segurança. Se fossem dadas garantias de não-agressão, com sanções aplicadas na dose certa, talvez o problema já tivesse se reduzido. Entretanto, é necessário tomar cuidado com um país cujo ódio a outro é evidente.
No caso da Líbia, admito que posso estar mal informado, no entanto se civis inocentes estiverem realmente sendo feridos pelo contra-ataque de Kadafi aos rebeldes, defendo a intervenção, uma vez que toda diplomacia se esgote. O mundo não perde com um cara desse fora do poder.
Concordo com você em relação ao caso Battisti. Esse é um problema dos italianos. Se ele matou alguém, ele matou lá, e lá deve ser julgado. Porém, esse foi um momento onde a ideologia impediu o Supremo de tomar uma decisão correta, e ainda prejudicou um pouco nossa imagem no exterior.
Os EUA com certeza não são santos, já que apoiam muitos regimes totalitários de acordo com seus interesses, mas opor-se constantemente à política externa desse país só nos fará perder seu apoio, o que seria um grande desperdício de oportunidades.
Como disse anteriormente, não nos devemos nos ater à ideologias. Na verdade, a única que deveria existir aqui é o nacionalismo, tão em falta hoje em dia. Se mais pessoas fizessem sua parte pelo país, poderíamos superar nossos problemas com muito mais facilidade.
Um abraço a todos.