É positivo o balanço dos sete anos que já dura a missão militar das Nações Unidas no Haiti, comandada pelo Brasil e conhecida pela abreviação Minustah.
Os militares brasileiros ajudaram a estabilizar o país após a queda de Jean-Bertrand Aristide, em 2004. Pacificaram, não sem enfrentar resistência, as vastas e violentas favelas de Porto Príncipe.
Além disso, tiveram atuação decisiva em meio à devastação provocada pelo terremoto de 2010, que tirou a vida de 230 mil pessoas e 18 militares da Minustah.
Nesse contexto, parece correta a proposta do governo brasileiro de reduzir seu contingente no país e alterar o perfil da missão.
O efetivo militar quase dobrou nos dias seguintes ao abalo, de pouco mais de 1.200 para 2.100 homens. Era natural que se buscasse reforçar a organização de equipes de socorro, uma vez que a hecatombe dizimara boa parte da cúpula governamental e um em cada cinco funcionários públicos.
O cenário mudou. A reconstrução avança de modo lento e errático, é fato, mas o caos pós-terremoto ficou no passado. As eleições deste ano, embora eivadas de problemas, apontaram um vencedor, Michel Martelly, que conseguiu obter a maioria do apoio popular.
A manutenção da segurança deixou de ser prioridade da missão internacional. Isso deve ser feito, como defende o próprio Martelly, por algum tipo de força nacional. O contingente militar deve ser reduzido e direcionado para preparar essa transição, e não mais responder pelo patrulhamento das ruas haitianas.
A maior contribuição das forças das Nações Unidas agora reside na reconstrução da infraestrutura que já era precária antes do terremoto e agora é quase inexistente e na estabilização do quadro da saúde. Assim, faz sentido reduzir a infantaria e aumentar o contingente de médicos, enfermeiros e engenheiros na missão.
Essa reestruturação deve preparar o terreno também para uma retirada, no futuro. O Brasil tem um compromisso de longo prazo com o Haiti, mas a missão não pode permanecer indefinidamente no país, sob o risco de passar a ser vista pela maioria dos haitianos -e não mais só por poucos detratores- como força de ocupação.
A ONU precisa aprovar até outubro o novo mandato da Minustah. Chegou a hora de estabelecer um cronograma, sem precipitação ou afobamento, para uma saída definitiva das tropas.
Fonte: Folha
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