Desacostumados à posição de assombração das finanças globais, os americanos acordaram tarde para o problema de sua dívida e agora temem que as consequências do impasse avariem ainda mais sua imagem no mundo e seu depenado caixa doméstico.
Essa epifania vem acompanhada da piora no humor e nas expectativas econômicas dos americanos.
Levantamento do centro de pesquisa Pew que contrapõe respostas de junho a respostas do fim de semana passado (antes de a tensão chegar ao ápice) mostra um salto de nove pontos, para 38%, dos que dizem seguir o debate "muito de perto".
Em outra sondagem do mesmo instituto, 68% defenderam um acordo entre governo e oposição. Há apenas três semanas, pesquisa do Gallup indicava que só 22% queriam a elevação do teto da dívida dos EUA.
Sem aumentar esse limite, US$ 14,3 trilhões que se exaurem depois de amanhã, o país terá de optar entre medidas como um calote em seus credores externos e a suspensão dos pagamentos de pensionistas e servidores.
Ontem, em seu pronunciamento semanal ao país, o presidente Barack Obama voltou a pedir um acordo.
Mas, mostrando que o impasse continua, a Câmara, controlada pela oposição, votou contra plano do Senado, controlado pelos governistas.
"O público não presta atenção em questões de política pública no seu dia a dia. Mas esse problema se tornou tão urgente que acabou capturando muita atenção", disse à Folha Jerome Powell, pesquisador no Centro de Políticas Bipartidárias, grupo criado por ex-rivais no Senado que calculou o rombo no caixa do governo em agosto.
FALTA DE EDUCAÇÃO
Especialistas veem nesse despertar atrasado um sintoma de desinformação. E há um quê de arrogância em ignorar experiências próximas como as dos vizinhos sul-americanos, assombrados rotineiramente, nos anos 1980, pelas cobranças do Fundo Monetário Internacional --que agora exorta os EUA a agirem rapidamente sob pena de arcarem com "terríveis consequências".
"Os americanos não são informados o suficiente sobre outros países", afirma Isabel Sawhill, especialista em Orçamento e política fiscal na Brookings Institution, para quem a população está em negação por querer uma solução indolor.
"Eles não viam paralelo nenhum [com essas crises], pois acham que os EUA são dotados de uma capacidade única de resolver problemas."
Sawhill responsabiliza os políticos e a mídia pela "deseducação" sobre a dívida. "A população sabe que há um problema, mas não entende onde ele está", aponta.
Para Linda Bilmes, que passou por vários governos e hoje leciona finanças públicas em Harvard, a raiz da questão são os impostos e a ignorância sobre eles.
"A maior razão para a dívida estar tão alta é que George W. Bush cortou impostos duas vezes no exato momento em que fomos a duas guerras", diz. "Nas demais guerras que os EUA travaram, os impostos subiram para ajudar a cobrir os custos."
A epifania já deixou sua marca negativa sobre a avaliação do Congresso e a popularidade de Obama, apontam levantamentos do Gallup.
Pouco ajudou o fato de vir acompanhada de uma onda de tensão que monopolizou TVs, rádios, sites e jornais.
"As expectativas dos americanos em relação à economia só pioram, em muito devido ao debate", analisa Frank Newport, do Gallup.
"As pessoas ouvem sobre os efeitos horríveis de não subir o teto da dívida sobre sua vida diária. E pensam 'devemos estar em péssima forma para que isso faça tão mal'. Claramente, o debate teve seu peso na psique americana."
Mas é Sawhill quem resume o medo maior no incosciente americano --não tão distante, aliás, daquele muito ouvido na Europa ao se descobrir devedora em 2009.
"As consequências sobre a reputação dos EUA serão bem adversas, pois esse impasse faz parecer que nós não conseguimos governar o país", afirma. "E que somos um gigante digno de pena."
Fonte: Folha
Essa epifania vem acompanhada da piora no humor e nas expectativas econômicas dos americanos.
Levantamento do centro de pesquisa Pew que contrapõe respostas de junho a respostas do fim de semana passado (antes de a tensão chegar ao ápice) mostra um salto de nove pontos, para 38%, dos que dizem seguir o debate "muito de perto".
Em outra sondagem do mesmo instituto, 68% defenderam um acordo entre governo e oposição. Há apenas três semanas, pesquisa do Gallup indicava que só 22% queriam a elevação do teto da dívida dos EUA.
Sem aumentar esse limite, US$ 14,3 trilhões que se exaurem depois de amanhã, o país terá de optar entre medidas como um calote em seus credores externos e a suspensão dos pagamentos de pensionistas e servidores.
Ontem, em seu pronunciamento semanal ao país, o presidente Barack Obama voltou a pedir um acordo.
Mas, mostrando que o impasse continua, a Câmara, controlada pela oposição, votou contra plano do Senado, controlado pelos governistas.
"O público não presta atenção em questões de política pública no seu dia a dia. Mas esse problema se tornou tão urgente que acabou capturando muita atenção", disse à Folha Jerome Powell, pesquisador no Centro de Políticas Bipartidárias, grupo criado por ex-rivais no Senado que calculou o rombo no caixa do governo em agosto.
FALTA DE EDUCAÇÃO
Especialistas veem nesse despertar atrasado um sintoma de desinformação. E há um quê de arrogância em ignorar experiências próximas como as dos vizinhos sul-americanos, assombrados rotineiramente, nos anos 1980, pelas cobranças do Fundo Monetário Internacional --que agora exorta os EUA a agirem rapidamente sob pena de arcarem com "terríveis consequências".
"Os americanos não são informados o suficiente sobre outros países", afirma Isabel Sawhill, especialista em Orçamento e política fiscal na Brookings Institution, para quem a população está em negação por querer uma solução indolor.
"Eles não viam paralelo nenhum [com essas crises], pois acham que os EUA são dotados de uma capacidade única de resolver problemas."
Sawhill responsabiliza os políticos e a mídia pela "deseducação" sobre a dívida. "A população sabe que há um problema, mas não entende onde ele está", aponta.
Para Linda Bilmes, que passou por vários governos e hoje leciona finanças públicas em Harvard, a raiz da questão são os impostos e a ignorância sobre eles.
"A maior razão para a dívida estar tão alta é que George W. Bush cortou impostos duas vezes no exato momento em que fomos a duas guerras", diz. "Nas demais guerras que os EUA travaram, os impostos subiram para ajudar a cobrir os custos."
A epifania já deixou sua marca negativa sobre a avaliação do Congresso e a popularidade de Obama, apontam levantamentos do Gallup.
Pouco ajudou o fato de vir acompanhada de uma onda de tensão que monopolizou TVs, rádios, sites e jornais.
"As expectativas dos americanos em relação à economia só pioram, em muito devido ao debate", analisa Frank Newport, do Gallup.
"As pessoas ouvem sobre os efeitos horríveis de não subir o teto da dívida sobre sua vida diária. E pensam 'devemos estar em péssima forma para que isso faça tão mal'. Claramente, o debate teve seu peso na psique americana."
Mas é Sawhill quem resume o medo maior no incosciente americano --não tão distante, aliás, daquele muito ouvido na Europa ao se descobrir devedora em 2009.
"As consequências sobre a reputação dos EUA serão bem adversas, pois esse impasse faz parecer que nós não conseguimos governar o país", afirma. "E que somos um gigante digno de pena."
Fonte: Folha
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