terça-feira, 21 de junho de 2011

Agência atômica da ONU defende maior fiscalização de usinas



O diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, ligada às Nações Unidas), Yukia Amano, propôs na segunda-feira a adoção de um sistema internacional de fiscalização de reatores no mundo todo, o que poderia contribuir para que não se repita uma crise como a de Fukushima, no Japão.

A ideia, no entanto, deve enfrentar resistência por parte de países preocupados com ingerências externas.

"A confiança pública na segurança da energia nuclear foi seriamente abalada", disse Amano em discurso aos ministros e reguladores da agência da ONU (Organização das Nações Unidas).

"É imperativo que as medidas de segurança mais estritas sejam implementadas em todos os lugares (...). Países com energia nuclear deveriam concordar com avaliações sistemáticas e periódicas por parte de seus pares na AIEA."

Ao abrir a reunião ministerial, Amano exortou os países a efetuarem avaliações de risco em suas usinas atômicas no prazo de 18 meses. A reunião mais tarde adotou uma declaração comprometendo-se a melhorar a segurança nuclear após o acidente em Fukushima.

Amano disse que 10% dos 440 reatores do mundo podem ser verificados de forma aleatória durante um período de três anos, e sugeriu que as empresas de energia deveriam ajudar a pagar a conta.

Ele disse que continuaria cabendo aos governos nacionais a responsabilidade principal de avaliar se os seus reatores poderiam suportar vários cenários de crise. Mas ele também deixou claro que deseja um papel maior para a AIEA.

Suas propostas --que visam a garantir que as usinas nucleares possam resistir a eventos extremos, como o terremoto e tsunami que danificaram Fukushima-- devem causar polêmica junto a governos que desejam manter a questão de segurança rigidamente no âmbito nacional.

"Ele (Amano) fez uma declaração muito ousada, propostas ousadas", afirmou a jornalistas o brasileiro Antônio Guerreiro, presidente da conferência.

"Tenho certeza que ele sabia de antemão que algumas das propostas concretas que ele fez seriam recebidas com alguma relutância por parte de alguns Estados membros."

A crise do Japão levou a uma revisão global da política energética. A Alemanha decidiu fechar todos os seus reatores até 2022, e os italianos votaram por proibir a energia atômica nas próximas décadas.

A Rússia quer tornar obrigatórios os padrões de segurança da AIEA, enquanto a França também defende medidas globais mais rígidas. Mas muitos outros países estão céticos, destacando o papel das autoridades nacionais.

"Vemos que alguns países, por razões de soberania, estão receosos de irem mais longe em termos de reforçar os poderes da AIEA", disse a ministra francesa da Ecologia, Nathalie Kosciusko-Morizet.

Atualmente não existem normas internacionais obrigatórias de segurança nuclear --apenas recomendações da AIEA, por cuja execução as autoridades reguladoras nacionais são responsáveis. A agência da ONU realiza missões de avaliação, mas apenas a convite de um Estado membro.

Amano não deu detalhes de como as avaliações internacionais seriam realizadas.

Normalmente, os especialistas falam em "testes de estresse", com simulações teóricas e práticas de como os sistemas de uma usina responderiam a várias situações extremas, tais como terremotos.

Fonte: Reuters
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