A indiferença com a qual a morte de Osama bin Laden foi recebida no mundo árabe prova que as populações da região sabem que o radicalismo violento não leva a nada. A avaliação é do analista Zaiki Laidi, diretor de pesquisa do prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris. Ele conversou com a Folha, por telefone, na semana passada.
Folha - Qual o efeito da morte de Bin Laden sobre a Primavera Árabe?
Zaki Laidi - É a melhor notícia possível para a Primavera Árabe. É uma coincidência feliz entre um levante que não deve nada ao islamismo [militante], muito menos ao islamismo radical, e a destruição do maior símbolo do radicalismo devastador.
Isso mostra que o jihadismo não leva a resultado tangível. O que os jihadistas conseguiram em 30 anos de ativismo iniciado com o assassinato do [presidente egípcio Anuar] Sadat? Nada, tanto em termos de eficiência política quanto em capacidade de mobilizar as populações em torno do radicalismo.
O radicalismo violento não produziu nada inclusive na questão palestina. Nesse tema, acabamos de ver um exemplo claro de que a opção democrática rende melhor resultado. A reaproximação entre Hamas e Fatah, articulada pelo novo governo egípcio, é o claro desdobramento da mudança de governo no Egito na frente externa.
Ela mostra que um regime democrático árabe pode ter efeito alavancador sobre a questão palestina maior do que um regime não democrático. O atual governo egípcio fez o que [o ex-ditador Hosni Mubarak] jamais conseguiu.
E nenhuma país condenou a iniciativa. Shimon Peres [presidente de Israel] disse que importa o que o Hamas faz, não o que ele diz.
As circunstâncias da morte de Bin Laden não podem prejudicar a relação entre o Ocidente e os muçulmanos?
Não creio. A morte de Bin Laden foi recebida no mundo árabe com indiferença.
Não acho que o jihadismo tenha morrido, mas é o fim de um ciclo. Historicamente, é raro que um movimento sobreviva à queda ou morte de um líder carismático.
Por que há pouca reação aos massacres de civis na Síria?
Primeiro, é difícil para a comunidade internacional e os atores dominantes se mobilizarem intensa e simultaneamente em várias frentes.
A segunda razão é que a questão da Síria foi, sim, levada ao Conselho de Segurança da ONU por alguns países, como França e Reino Unido. Mas se algum país propõe uma resolução muito dura, é certo que ela será vetada por China e Rússia.
Elas sentem que foram passadas para trás com a resolução 1973 [que autorizou um ataque à Líbia] e agora estão decididas a barrar qualquer texto contra a Síria.
O custo de uma intervenção contra o regime sírio é muito elevado, e não há um consenso internacional.
A Primavera Árabe está patinando?
Não. Ela só entrou numa fase mais dura. Os líderes árabes percebem que a pressão popular é muito forte, mas calculam que não têm mais nada a perder e que as potências ocidentais não conseguiriam levar várias operações de front com legitimidade. Os regimes árabes só pensam em sobreviver.
Fonte: Folha
Folha - Qual o efeito da morte de Bin Laden sobre a Primavera Árabe?
Zaki Laidi - É a melhor notícia possível para a Primavera Árabe. É uma coincidência feliz entre um levante que não deve nada ao islamismo [militante], muito menos ao islamismo radical, e a destruição do maior símbolo do radicalismo devastador.
Isso mostra que o jihadismo não leva a resultado tangível. O que os jihadistas conseguiram em 30 anos de ativismo iniciado com o assassinato do [presidente egípcio Anuar] Sadat? Nada, tanto em termos de eficiência política quanto em capacidade de mobilizar as populações em torno do radicalismo.
O radicalismo violento não produziu nada inclusive na questão palestina. Nesse tema, acabamos de ver um exemplo claro de que a opção democrática rende melhor resultado. A reaproximação entre Hamas e Fatah, articulada pelo novo governo egípcio, é o claro desdobramento da mudança de governo no Egito na frente externa.
Ela mostra que um regime democrático árabe pode ter efeito alavancador sobre a questão palestina maior do que um regime não democrático. O atual governo egípcio fez o que [o ex-ditador Hosni Mubarak] jamais conseguiu.
E nenhuma país condenou a iniciativa. Shimon Peres [presidente de Israel] disse que importa o que o Hamas faz, não o que ele diz.
As circunstâncias da morte de Bin Laden não podem prejudicar a relação entre o Ocidente e os muçulmanos?
Não creio. A morte de Bin Laden foi recebida no mundo árabe com indiferença.
Não acho que o jihadismo tenha morrido, mas é o fim de um ciclo. Historicamente, é raro que um movimento sobreviva à queda ou morte de um líder carismático.
Por que há pouca reação aos massacres de civis na Síria?
Primeiro, é difícil para a comunidade internacional e os atores dominantes se mobilizarem intensa e simultaneamente em várias frentes.
A segunda razão é que a questão da Síria foi, sim, levada ao Conselho de Segurança da ONU por alguns países, como França e Reino Unido. Mas se algum país propõe uma resolução muito dura, é certo que ela será vetada por China e Rússia.
Elas sentem que foram passadas para trás com a resolução 1973 [que autorizou um ataque à Líbia] e agora estão decididas a barrar qualquer texto contra a Síria.
O custo de uma intervenção contra o regime sírio é muito elevado, e não há um consenso internacional.
A Primavera Árabe está patinando?
Não. Ela só entrou numa fase mais dura. Os líderes árabes percebem que a pressão popular é muito forte, mas calculam que não têm mais nada a perder e que as potências ocidentais não conseguiriam levar várias operações de front com legitimidade. Os regimes árabes só pensam em sobreviver.
Fonte: Folha
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