A CIA [agência de inteligência americana] utilizou aviões não-tripulados em dezenas de missões secretas no Paquistão para vigiar secretamente o complexo residencial de Osama Bin Laden antes da operação que matou o líder da rede terrorista Al Qaeda, informa o jornal americano "Washington Post".
O "Post" informa que a agência de inteligência utilizou os sofisticados aviões não-tripulados para que não fossem detectados a grandes altitudes e fornecessem vídeos de alta resolução meses antes de Bin Laden ser morto na operação das forças especiais americanas, no dia 1º de maio.
A CIA também utilizou satélites, equipamentos de escuta à distância e agentes baseados em uma casa na cidade de Abbottabad, onde Bin Laden teria morado por cinco anos até ser localizado.
A vigilância é mais um indício da desconfiança entre EUA e Paquistão, que se dizem aliados na luta contra o terrorismo mas mantêm uma relação controversa. A operação que matou Bin Laden abalou ainda mais os vínculos de Washington com Islamabad, que recebeu US$ 20 bilhões em ajuda americana na última década.
Segundo o jornal, a CIA utilizou as aeronaves porque "precisava saber mais detalhes do que estava acontecendo" do que outras plataformas de vigilância permitiam, disse um ex-funcionário do governo familiarizado com a operação. "Você não pode estacionar um Predator [no espaço aéreo do país] -- os paquistaneses saberiam", disse a fonte ao "Post" em condição de anonimato.
O "drone" Predator é utilizado frequentemente pelas forças da CIA e do Exército americano que operam no Afeganistão.
SOBERANIA
O chefe da inteligência paquistanesa, Ahmed Shuja Pasha, pediu afastamento do cargo na semana passada devido à falha do governo em detectar ou impedir a ação americana, que ele descreveu como uma "ofensa à soberania do Paquistão".
O Exército e as agências de inteligência do país passaram a sofrer duras críticas após a revelação de que Bin Laden estaria vivendo há cinco anos Abbottabad, a curta distância de uma academia militar de elite.
No sábado (14), após dez horas de debates, o Parlamento do Paquistão aprovou uma resolução exigindo que o governo crie uma comissão independente para investigar a operação dos EUA que matou Bin Laden, e adote medidas para que ações do tipo não voltem a ocorrer.
Os parlamentares paquistaneses pediram ainda o fim dos ataques com aviões não-tripulados americanos em operações contra o Taleban.
"Esses ataques com aviões não tripulados devem cessar. Do contrário, o governo deve ser obrigado a considerar as medidas necessárias, incluindo a retirada das permissões de trânsito da Otan [ao Afeganistão]", exigiram os congressistas no texto aprovado.
Somente no ano passado as quase cem investidas dos "drones", aviões não tripulados americanos, mataram cerca de 670 paquistaneses, indicam fontes militares.
A decisão do Parlamento paquistanês ocorreu um dia após o atentado em Charsada que matou ao menos 80 pessoas, reivindicado pelo Taleban como "primeira ação de vingança pelo mártir Osama bin Laden".
VISITA DE HILLARY
A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, visitará o Paquistão para negociações "estratégicas", mas não há uma data fechada para a viagem, afirmou o Departamento de Estado na segunda-feira (16).
Hillary "tem a intenção de visitar o Paquistão para realizar discussões estratégicas profundas", afirmou o porta-voz Mark Toner, acrescentando que a viagem ocorrerá quando "o contexto for mais favorável e com os preparativos adequados".
Washington e Islamabad trocaram acusações e o governo americano levantou suspeitas de que o Paquistão tivesse acobertado Bin Laden em seu território.
Nos EUA, congressistas manifestaram-se contrários à ajuda financeira de bilhões de dólares enviada todos os anos a Islamabad por sua cooperação militar e de inteligência com os americanos, ao menos até que se provasse que os paquistaneses não tinham ajudado Bin Laden.
Fonte: France Presse
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