quarta-feira, 27 de abril de 2011

Oriente Médio: confusão total entre EUA e aliados


Nos últimos 50 anos, a política dos Estados Unidos no Oriente Médio foi construída a partir de estreitos laços com três países: Israel, Arábia Saudita e Paquistão. Em 2011, essa política apresenta diferenças significativas com esses três países. Além disso, tem divergências públicas com Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, China e Brasil acerca de suas atuais políticas na região. Parece que quase ninguém concorda com os Estados Unidos nem segue sua linha. É possível ouvir a frustração do presidente dos EUA, do Departamento de Estado, do Pentágono e da CIA, que percebem que a situação está fugindo do seu controle.

Por que os EUA criaram essa aliança tão estreita com Israel é um assunto de muito debate. Mas é visível que nos últimos anos essa relação vem se tornando cada vez mais tensa. Israel conta com a ajuda financeira e militar dos EUA e com seu veto sempre fiel no Conselho de Segurança da ONU. O que ocorreu agora é que tanto os políticos israelenses como sua base de apoio nos EUA se moveram de forma constante para a direita. Israel se mantem firme em duas coisas: as eternas demoras para estabelecer negociações sérias com a Palestina e a esperança de que alguém bombardeie os iranianos. Obama tem se movido na direção oposta, pelo menos até onde permite a política interna estadunidense.

As tensões são fortes e Netanyahu está rezando, se é que reza, para que haja uma vitória republicana em 2012. No entanto, o momento da crise pode vir antes disso, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas votar pelo reconhecimento da Palestina como estado membro. Os EUA se encontrarão em uma posição perdedora, ao lutarem contra isso.

A Arábia Saudita vem tendo uma confortável relação com Washington desde que o presidente Franklin Delano Roosevelt se reuniu com o rei Abdul Aziz em 1945. Eles foram capazes de controlar a política petroleira em todo o mundo. Colaboraram em assuntos militares e os Estados Unidos contaram com os sauditas para manter sob controle os regimes árabes. Mas agora o regime saudita sente-se bastante ameaçado pela segunda revolta árabe. Ficou muito contrariado pela aprovação da derrubada de Mubarak e pelas críticas estadunidenses – por mais leves que tenham sido – à intervenção saudita no Bahrein. As prioridades dos dois países são agora bastante diferentes.

Na era da Guerra Fria, quando Washington considerava que a Índia estava muito próxima da União Soviética, o Paquistão obteve o respaldo pleno dos EUA (e da China), sem importar que regime estivesse no poder. Trabalharam juntos para apoiar os mujahedins no Afeganistão e forçaram a retirada das tropas soviéticas. É de se supor que trabalharam juntos para impulsionar o crescimento da Al-Qaeda. Duas coisas mudaram. Na era pós-Guerra Fria, os EUA desenvolveram relações muito mais cordiais com a Índia, para frustração do Paquistão. Além disso, Paquistão e EUA estão em forte desacordo acerca de como manejar a sempre crescente força da Al-Qaeda e dos talibãs no Paquistão e no Afeganistão.

Um dos principais objetivos da política externa dos EUA desde o colapso da União Soviética tem sido evitar que os países europeus desenvolvam políticas autônomas. Mas agora os três principais países europeus – Inglaterra, França e Alemanha – estão desenvolvendo suas próprias políticas. Nem a linha dura de George W. Bush nem a diplomacia mais suave de Barack Obama parecem ter diminuído o ritmo desta tendência. O fato de que França e Inglaterra peçam agora aos EUA para assumir uma liderança mais ativa na luta contra Kadafi e o fato de a Alemanha dizer mais ou menos o oposto é menos importante que o fato de que os três estão dizendo estas coisas em voz alta e forte.

Rússia, China e Brasil jogam todas suas cartas em termos de suas relações com os EUA. Nos dias que correm, esses três países se opõem a quase todas as posições estadunidenses. Podem não ir às últimas consequências (não fazem uso de seu veto no Conselho de Segurança, no caso dos dois primeiros) porque os EUA ainda têm garras que pode utilizar. Mas certamente não estão cooperando. O fiasco da recente viagem de Obama ao Brasil, onde pensou que podia iniciar um novo enfoque com a presidenta Dilma Rousseff – e não conseguiu – mostra a pouca influência que os EUA têm na atualidade.

Por fim, a política interna dos EUA também mudou. A política externa bipartidária converteu-se em memória histórica. Agora, quando Washington vai à guerra com a Líbia, as pesquisas de opinião mostram apenas 50% de respaldo por parte da população. E os políticos de ambos partidos atacam Obama por ser demasiado “falcão” ou demasiado “pomba”. Todos tentam tirar algum proveito com essas críticas. Isso pode fazer com que o presidente Obama se veja forçado a aumentar o envolvimento estadunidense em toda a região, exacerbando as reações negativas de todos os que, alguma vez, foram aliados.

É bem conhecido que Madeleine Albright disse que os Estados Unidos eram a nação indispensável. Segue sendo ainda o gigante do cenário mundial. Mas é um gigante torpe, inseguro sobre onde vai e como faz para ir. A medida da decadência estadunidense é o grau no qual seus antigos aliados mais próximos estão prontos para desafiar seus desejos e dizê-lo de forma pública. A medida da decadência estadunidense é expressa também pelo grau no qual não se sente capaz de expressar em público o que está fazendo e insistir que, na verdade, tudo está sob controle. O fato é, por exemplo, que os EUA tiveram que aportar uma grande soma em dinheiro para tirar da prisão um agente da CIA no Paquistão.

As consequências disso tudo? Muito mais anarquia global. Quem se beneficia desse quadro? Até o momento, essa é uma questão que permanece muito aberta.

Fonte: Carta Maior
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