Enviado ao Brasil como embaixador em 2009, o diplomata francês Yves Saint-Geours acompanha à distância o retorno de seu país ao papel de protagonista no tabuleiro mundial. Em uma conversa na embaixada da França em Brasília, Saint-Geours rechaçou para Zero Hora as interpretações de que o empenho militar do governo Nicolas Sarkozy esconderia uma tentativa de reverter seus baixos índices de popularidade. A seguir, a síntese da entrevista:
Zero Hora – No momento em que atinge o mais baixo nível de popularidade, o presidente Nicolas Sarkozy envolve a França em três campanhas militares simultâneas. O objetivo é tirar o foco da situação política interna?
Yves Saint-Geours – Estamos no Afeganistão desde 2001. Na Costa do Marfim, temos tropas há muitos anos. Os franceses não chegaram agora nesses dois países. Quanto à Líbia, existe uma efervescência. Considerar que as operações militares são motivadas pela baixa popularidade do presidente não me parece baseado na realidade.
ZH – O protagonismo da França nas operações militares na Líbia e na Costa do Marfim demonstra que o país pretende ocupar um novo espaço no cenário internacional ou é apenas uma defesa de sua esfera de influência?
Saint-Geours – Há muito tempo temos um importante papel no cenário mundial. As pessoas esquecem que na última década a França participou de mais de 25 operações internacionais de resgate de civis.
ZH – A postura do governo francês no episódio da insurgência na Tunísia, apoiando o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, foi alvejada mundialmente. Houve erro de avaliação de Paris naquele momento?
Saint-Geours – Os governantes franceses admitiram que não haviam captado com nitidez o episódio. As críticas serviram como advertência para tornar mais aguda a observação dos fatos mundiais.
ZH – As operações militares são uma vitrine para a venda de equipamentos bélicos franceses?
Saint-Geours – Não provocamos guerras para mostrar que nossos armamentos são bons. Preferíamos que não houvesse conflitos.
ZH – Durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a França se tornou parceira estratégica do Brasil. A sucessão no Brasil arrefeceu a relação entre os dois países?
Saint-Geours – Ainda que a parceria tenha sido encarnada por Lula e Sarkozy, temos de pensar nos motivos dessa sociedade: amizade, compartilhamento de valores, interesse de fazer mais negócios bilaterais e disposição de propor alterações na governança mundial. Apesar da chegada da presidente Dilma Rousseff, as motivações continuam as mesmas. A ordem global segue precisando de transformações.
ZH – Se a presidente Dilma Rousseff optar por não comprar os caças da França, o Palácio do Eliseu continuará defendendo uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU?
Saint-Geours – Não estamos trocando um assento no Conselho por caças. É óbvio que estamos fazendo o possível para ganhar essa concorrência. Contudo, não entramos nesse tipo de jogo.
ZH – Como a França viu a reaproximação do governo brasileiro com a Casa Branca, intensificada com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil?
Saint-Geours – Vimos de forma positiva. Afinal, somos aliados firmes dos americanos. Não considero que essa aproximação possa enfraquecer a parceria estratégica que a França construiu com o Brasil.
ZH – O governo francês pretende aproveitar o bom momento econômico brasileiro para aumentar as relações comerciais entre os dois países?
Saint-Geours – Sim. No entanto, o comércio bilateral entre a França e o Brasil é equilibrado. Já a relação brasileira com os americanos apresenta déficit na balança comercial a favor dos EUA.
ZH – O know-how da França em sediar grandes eventos esportivos poderia ser emprestado para o Brasil organizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
Saint-Geours – Temos feito muitos contatos em segurança e infraestrutura. Por exemplo, o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, poderia prestar consultoria a aeroportos brasileiros. Estamos interessados em ajudar o Brasil.
ZH – A França apoia a reivindicação dos países do Bric de reformar a ONU, o FMI e o Banco Mundial?
Saint-Geours – A França milita mais por essa reforma do que Rússia, Índia e China, o “RIC” da sigla. Demonstramos isso durante as negociações para alterar o peso dos votos no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Somos os maiores incentivadores de dividir as decisões mundiais com países como o Brasil.
Fonte: Zero Hora
Zero Hora – No momento em que atinge o mais baixo nível de popularidade, o presidente Nicolas Sarkozy envolve a França em três campanhas militares simultâneas. O objetivo é tirar o foco da situação política interna?
Yves Saint-Geours – Estamos no Afeganistão desde 2001. Na Costa do Marfim, temos tropas há muitos anos. Os franceses não chegaram agora nesses dois países. Quanto à Líbia, existe uma efervescência. Considerar que as operações militares são motivadas pela baixa popularidade do presidente não me parece baseado na realidade.
ZH – O protagonismo da França nas operações militares na Líbia e na Costa do Marfim demonstra que o país pretende ocupar um novo espaço no cenário internacional ou é apenas uma defesa de sua esfera de influência?
Saint-Geours – Há muito tempo temos um importante papel no cenário mundial. As pessoas esquecem que na última década a França participou de mais de 25 operações internacionais de resgate de civis.
ZH – A postura do governo francês no episódio da insurgência na Tunísia, apoiando o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, foi alvejada mundialmente. Houve erro de avaliação de Paris naquele momento?
Saint-Geours – Os governantes franceses admitiram que não haviam captado com nitidez o episódio. As críticas serviram como advertência para tornar mais aguda a observação dos fatos mundiais.
ZH – As operações militares são uma vitrine para a venda de equipamentos bélicos franceses?
Saint-Geours – Não provocamos guerras para mostrar que nossos armamentos são bons. Preferíamos que não houvesse conflitos.
ZH – Durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a França se tornou parceira estratégica do Brasil. A sucessão no Brasil arrefeceu a relação entre os dois países?
Saint-Geours – Ainda que a parceria tenha sido encarnada por Lula e Sarkozy, temos de pensar nos motivos dessa sociedade: amizade, compartilhamento de valores, interesse de fazer mais negócios bilaterais e disposição de propor alterações na governança mundial. Apesar da chegada da presidente Dilma Rousseff, as motivações continuam as mesmas. A ordem global segue precisando de transformações.
ZH – Se a presidente Dilma Rousseff optar por não comprar os caças da França, o Palácio do Eliseu continuará defendendo uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU?
Saint-Geours – Não estamos trocando um assento no Conselho por caças. É óbvio que estamos fazendo o possível para ganhar essa concorrência. Contudo, não entramos nesse tipo de jogo.
ZH – Como a França viu a reaproximação do governo brasileiro com a Casa Branca, intensificada com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil?
Saint-Geours – Vimos de forma positiva. Afinal, somos aliados firmes dos americanos. Não considero que essa aproximação possa enfraquecer a parceria estratégica que a França construiu com o Brasil.
ZH – O governo francês pretende aproveitar o bom momento econômico brasileiro para aumentar as relações comerciais entre os dois países?
Saint-Geours – Sim. No entanto, o comércio bilateral entre a França e o Brasil é equilibrado. Já a relação brasileira com os americanos apresenta déficit na balança comercial a favor dos EUA.
ZH – O know-how da França em sediar grandes eventos esportivos poderia ser emprestado para o Brasil organizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
Saint-Geours – Temos feito muitos contatos em segurança e infraestrutura. Por exemplo, o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, poderia prestar consultoria a aeroportos brasileiros. Estamos interessados em ajudar o Brasil.
ZH – A França apoia a reivindicação dos países do Bric de reformar a ONU, o FMI e o Banco Mundial?
Saint-Geours – A França milita mais por essa reforma do que Rússia, Índia e China, o “RIC” da sigla. Demonstramos isso durante as negociações para alterar o peso dos votos no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Somos os maiores incentivadores de dividir as decisões mundiais com países como o Brasil.
Fonte: Zero Hora
0 comentários:
Postar um comentário