As usinas nucleares de Angra 1 e 2, as únicas instaladas no Brasil, têm sistemas de segurança e controle de energia mais eficientes que a de Fukushima, diz o ministro da Ciência e Tecnologia (MCT), Aloizio Mercadante.
Segundo o ministro, o incidente nuclear japonês não alterou em nada os processos atuais de segurança ligados ao complexo de Angra. No médio e longo prazo, disse Mercadante, o que ocorrerá é a absorção de aprendizado decorrente do acidente de Fukushima. "A natureza está nos deixando uma série de lições importantes", comentou.
As usinas de Angra foram estruturadas para suportar terremotos de até 6,5 pontos na escala Richter e ondas de até 7 metros de altura, uma configuração que, segundo o governo, está dentro das normas mais rígidas de segurança, dada a condição geológica do país. Apesar da condição ideal garantida pelo governo, as usinas de Angra certamente não seriam construídas hoje, dadas as regras atuais, que exigem uma densidade populacional inferior à da região do litoral carioca.
Questionado sobre o atraso nos planos nucleares do Brasil, Mercadante disse que o assunto não compete à sua pasta e que será analisado pela presidente Dilma Rousseff e demais ministérios que, de alguma forma, fazem uso de combustível nuclear.
O retardamento de projetos como a construção de quatro novas usinas, porém, já é dado como consequência inevitável pela Eletronuclear, estatal controlada pela Eletrobrás. Na Câmara já se articulam a criação de uma comissão mista para debater a viabilidade de novos projetos.
O risco nuclear no Brasil
O tsunami pode não ter chegado aqui, mas as dúvidas sobre se é vantajoso ter uma usina nuclear como alternativa energética, em razão do terremoto da última sexta-feira no Japão, deram a volta ao mundo e atingiram o Brasil.
É inquestionável, dizem os estudiosos: se ocorreu no precavido Japão, pode se passar em qualquer lugar. Mas aí entram outras questões: o episódio no Japão foi “circunstância única” – como define Laércio Vinhas, diretor de segurança da Comissão Nacional de Energia nuclear. E deve ser considerada a vantagem ou não de correr riscos.
O professor Takeshi Kodama, do departamento de Física nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nascido 67 anos atrás em Tóquio, diz não ser possível construir usinas nucleares imunes a terremotos. Enfatiza que nenhum país está tão preparado quanto o Japão para enfrentar esse tipo de tragédia natural – e, ainda assim, a estrutura se mostrou falível.
– Cem por cento seguro, não é possível. É uma questão de economia e risco, e esse risco é uma questão de probabilidade. Todo mundo viaja de avião, mas tem o risco de cair – disse Kodama, condicionando a gravidade do acidente no Japão ao controle de resfriamento com o uso de água do mar e produtos químicos – pois é a liberação do hidrogênio pelo superaquecimento que provoca explosões.
Ana Maria Xavier, engenheira e representante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na Comissão Nacional de Energia nuclear, faz uma declaração forte:
– O futuro está sub judice. Essa história vai dar muito pano pra manga.
Mas depois ameniza:
– Se o Japão controlar o acidente, e acho que isso ocorrerá, aprenderemos com os erros dos outros e em novos dispositivos de segurança. Temos de esperar a direção que o mundo vai tomar.
Congresso pode ter comissão mista sobre usinas atômicas
O presidente da Comissão Nacional de Energia nuclear, Odair Gonçalves, mesmo ressalvando que é importante levar em conta a “comoção pública”, afirmou não haver motivo para que o programa nacional seja revisto em razão dos acontecimentos no Japão, pois, segundo ele, o sistema nuclear daquele país provou ser resistente.
– Eles têm 54 reatores, e 30 deles ainda funcionam normalmente.
Tão sensível se tornou a questão, que a oposição brasileira enviará ao Congresso proposta de criação de comissão mista para analisar a situação das usinas nucleares no Brasil. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), defende a discussão das usinas em funcionamento e dos projetos.
– O mundo todo vai fazer essa discussão. Ela é inexorável para o Brasil, que não poderá abrir mão de nenhuma fonte de energia. Que isso seja debatido no Congresso – argumentou.
E a preocupação não se restringe à oposição. O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou, em entrevista coletiva, que a presidente Dilma Rousseff está “extremamente preocupada com a crise nuclear japonesa”.
Fonte: Valor Econômico / Zero Hora
Segundo o ministro, o incidente nuclear japonês não alterou em nada os processos atuais de segurança ligados ao complexo de Angra. No médio e longo prazo, disse Mercadante, o que ocorrerá é a absorção de aprendizado decorrente do acidente de Fukushima. "A natureza está nos deixando uma série de lições importantes", comentou.
As usinas de Angra foram estruturadas para suportar terremotos de até 6,5 pontos na escala Richter e ondas de até 7 metros de altura, uma configuração que, segundo o governo, está dentro das normas mais rígidas de segurança, dada a condição geológica do país. Apesar da condição ideal garantida pelo governo, as usinas de Angra certamente não seriam construídas hoje, dadas as regras atuais, que exigem uma densidade populacional inferior à da região do litoral carioca.
Questionado sobre o atraso nos planos nucleares do Brasil, Mercadante disse que o assunto não compete à sua pasta e que será analisado pela presidente Dilma Rousseff e demais ministérios que, de alguma forma, fazem uso de combustível nuclear.
O retardamento de projetos como a construção de quatro novas usinas, porém, já é dado como consequência inevitável pela Eletronuclear, estatal controlada pela Eletrobrás. Na Câmara já se articulam a criação de uma comissão mista para debater a viabilidade de novos projetos.
O risco nuclear no Brasil
O tsunami pode não ter chegado aqui, mas as dúvidas sobre se é vantajoso ter uma usina nuclear como alternativa energética, em razão do terremoto da última sexta-feira no Japão, deram a volta ao mundo e atingiram o Brasil.
É inquestionável, dizem os estudiosos: se ocorreu no precavido Japão, pode se passar em qualquer lugar. Mas aí entram outras questões: o episódio no Japão foi “circunstância única” – como define Laércio Vinhas, diretor de segurança da Comissão Nacional de Energia nuclear. E deve ser considerada a vantagem ou não de correr riscos.
O professor Takeshi Kodama, do departamento de Física nuclear da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nascido 67 anos atrás em Tóquio, diz não ser possível construir usinas nucleares imunes a terremotos. Enfatiza que nenhum país está tão preparado quanto o Japão para enfrentar esse tipo de tragédia natural – e, ainda assim, a estrutura se mostrou falível.
– Cem por cento seguro, não é possível. É uma questão de economia e risco, e esse risco é uma questão de probabilidade. Todo mundo viaja de avião, mas tem o risco de cair – disse Kodama, condicionando a gravidade do acidente no Japão ao controle de resfriamento com o uso de água do mar e produtos químicos – pois é a liberação do hidrogênio pelo superaquecimento que provoca explosões.
Ana Maria Xavier, engenheira e representante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na Comissão Nacional de Energia nuclear, faz uma declaração forte:
– O futuro está sub judice. Essa história vai dar muito pano pra manga.
Mas depois ameniza:
– Se o Japão controlar o acidente, e acho que isso ocorrerá, aprenderemos com os erros dos outros e em novos dispositivos de segurança. Temos de esperar a direção que o mundo vai tomar.
Congresso pode ter comissão mista sobre usinas atômicas
O presidente da Comissão Nacional de Energia nuclear, Odair Gonçalves, mesmo ressalvando que é importante levar em conta a “comoção pública”, afirmou não haver motivo para que o programa nacional seja revisto em razão dos acontecimentos no Japão, pois, segundo ele, o sistema nuclear daquele país provou ser resistente.
– Eles têm 54 reatores, e 30 deles ainda funcionam normalmente.
Tão sensível se tornou a questão, que a oposição brasileira enviará ao Congresso proposta de criação de comissão mista para analisar a situação das usinas nucleares no Brasil. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), defende a discussão das usinas em funcionamento e dos projetos.
– O mundo todo vai fazer essa discussão. Ela é inexorável para o Brasil, que não poderá abrir mão de nenhuma fonte de energia. Que isso seja debatido no Congresso – argumentou.
E a preocupação não se restringe à oposição. O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou, em entrevista coletiva, que a presidente Dilma Rousseff está “extremamente preocupada com a crise nuclear japonesa”.
Fonte: Valor Econômico / Zero Hora
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