sexta-feira, 11 de março de 2011

Uma homenagem do GeoPolítica Brasil aos nossos heróis anônimos na região serrana do Rio de Janeiro - Parte I


Nesta série de entrevistas, valorizamos os profissionais e voluntários que se empenharam em salvar vidas e atender as várias pessoas que foram atingidas por esta que já é considerada a sexta maior tragédia natural, sendo considerada uma “mega tragédia”.

Para que nossos leitores possam ter uma noção de como agiram estes cidadãos que se empenharam no resgate e apoio as vítimas, fizemos uma série de entrevistas pós catástrofe com três voluntários e com o Sr. Secretário de Defesa Civil e Meio Ambiente do Município de Teresópolis.

Queremos com esta série homenagear a todos os envolvidos neste grandioso trabalho de salvar vidas, diminuir o sofrimentos entre outras benesses para esta sofrida população da região serrana do Rio de Janeiro. Buscamos captar a visão pessoal de cada um dos voluntários entrevistados, queremos mostrar o lado humano e solidário que foi a marca registrada dos heróis anônimos desta grande operação de resgate e atendimento ás vítimas. Nossas entrevistas conseguiram fazer com que cada um expressa-se da forma mais pessoal e livre possível. Tendo esta tarefa ficado a cargo de nosso reportér especial Claudio M. Queiroz, que também atuou como voluntário nas equipes de resgate.


Nosso primeiro entrevistado foi o voluntario Leonardo Sampaio:


GPB:O que o levou a se voluntariar?

Leonardo Sampaio: O que levou a me voluntariar, primeiramente foi o fato de ser um profissional da área da saúde, acadêmico da Feso, onde tenho competências e habilidades profissionais em prestar socorro, na qual tenho o dever e obrigação de ajudar aquele que esteja necessitando de atendimento de saúde e socorro, e devido ao fato do desastre ter ocorrido em Teresópolis que é a cidade em que resido.

GPB:Como foi o primeiro momento no resgate?

Leonardo Sampaio:O primeiro momento de resgate foi muito emocionante e sem muitas palavras, uma fase muito marcante para nossas vidas, em poder ajudar aqueles que necessitam de ajuda.

GPB:Como era a organização das equipes,

Leonardo Sampaio:A organização não foi muito boa, pois recrutaram pessoas no devido momento sem muitos critérios e estratégias de equipe, com pessoas sem treinamento em resgate, e sem preparo para salvar vidas!!! Porém os voluntários demonstraram dedicação e garra, com o intuito de ajudar ao próximo, se doando ao máximo para cumprir as tarefas de resgate e apoio ás vitimas.

GPB:O momento que achou mais importante no resgate e a imagem que mais te marcou?

Leonardo Sampaio:O momento mais marcante, foi quando vi uma criançinha de cinco anos em óbito sendo retirada dos escombros da Fazenda Alpino. Apesar de ter experiência e ver óbitos de perto, foi diferente, devido ao fato de ser um desastre natural e uma fatalidade.

O momento mais importante foi quando trouxemos uma família até o abrigo que foi montado em Venda Nova.

Tenho que agradecer ao posto de saúde de Venda Nova, a Enfermeira Débora Jones, responsável pelo PSF, a médica de posto e toda a equipe, que cedeu o espaço para ajudar no atendimento aos desabrigados e onde se dedicaram a essas famílias, prestando atendimento a semana inteira, inclusive sábados e domingos e não havendo descanso para as equipes do posto. Muito obrigado a todos!


Voluntário Werner



GPB:O que o levou a se voluntariar?

Werner: Por ser católico e muito mais pelo sentimento de amor ao próximo. Senti a necessidade de ajudar aqueles que necessitavam, acima de tudo levar no momento de dor, atenção, carinho e amor. Principalmente ás crianças vitimadas ela catástrofe.

GPB:como foi seu primeiro momento no resgate?

Werner:Na verdade eu participei apenas nas etapas de transporte dos sobreviventes que foram resgatados pelas equipes que foram aos locais sem acesso.
Posso dizer que o primeiro contato com as pessoas que foram socorridas era um misto de comoção. Você via o olhar dos adultos e das crianças e ali estava estampado todo o sofrimento que passaram, por outro lado o sentimento era de muita alegria em poder ajudar e socorrer pessoas que até então eram desconhecidas, mas que a partir daquele momento olhavam para nós como uma salvação que eles mesmos não acreditavam ser possível.

Agora, olhar as crianças e ver a carinha de cada uma que mesmo sem entender ao certo o que havia acontecido tinham pela gente um carinho sem precedentes.

GPB:Como era a organização das equipes?

Werner:No nosso caso nos organizávamos em três frentes. Uma ficava responsável pela busca dos resgatados, outra ficava com a responsabilidade de buscar e transportar as doações até o abrigo e a terceira ficava no próprio abrigo auxiliando a preparação do espaço para receber os desabrigados e também as doações.

GPB:O momento que achou mais importante no resgate e a imagem que mais te marcou?

Werner:O mais importante é manter sempre o foco no trabalho que está sendo realizado e fazê-lo da maneira mais organizada possível, lembrando sempre que acima de qualquer coisa, nosso foco deve ser o bem estar daqueles que se encontram fragilizados pela situação.

O que mais me marcou, e que ainda me comove ao lembrar, foi o encontro com a pequena Maria no abrigo, uma linda menina de cinco anos que me deu um abraço que não foi apertado, não teve choro, mas que era simplesmente a necessidade de um carinho, aquela cabecinha repousada no meu ombro e aquele silêncio disseram mais que qualquer palavra que me disseram. Era a imagem do amor e carinho e de todo o agradecimento em um momento de silêncio.


Claudio Marcos de Queiroz


GPB:O que o levou a se voluntariar?

Claudio M. Queiroz:Eu acordei por volta das 02h30min da madrugada do dia 11 para o dia 12 de janeiro com o barulho da forte chuva que caia, logo depois comecei a perceber que algo de muito grande estava para acontecer, pois de onde eu estava dava para ter uma percepção de como a tempestade estava castigando a cidade, quando amanheceu sai em busca de informações a respeito do que podia ter ocorrido, e conforme eu me inteirava percebia o quão grande tinha sido a tragédia.

Como eu estava perto do centro de operações montado no Ginásio Poliesportivo Municipal, comecei a ir lá para ver onde poderia ser útil, foi quando pude constatar o caos que se instalava no local.

No momento nos bate algo do tipo: Onde posso ser útil? O que posso fazer?

Apesar de estar sentindo que era impotente para o tamanho dos acontecimentos, mesmo assim a vontade de colocar em prática o que aprendi na caserna, trabalho e outros foi maior. Comecei a formular possibilidades, identificar pessoas que pudessem ser úteis para os trabalhos que estavam surgindo no caos frenético que aparecia diante dos meus olhos e de todos a minha volta, através de contatos consegui junto com amigos organizar equipes de resgates no dia seguinte e nos dias posteriores.

GPB:Como foi o primeiro momento no resgate?

Claudio M. Queiroz:O primeiro resgate fica marcado como o marco inicial, algo que você grava na sua memória, é como uma cicatriz para a vida toda, onde sempre se lembrará do ocorrido, como é reconfortante o momento que você olhar uma família sentada à mesa comendo uma boa refeição quente após passar momentos trágicos como estes. É ai que você percebe que depois sempre existe a esperança.

GPB:Como era a organização das equipes?

Claudio M. Queiroz:Como tinha falado anteriormente, quando cheguei ao Ginásio a organização era um caos e ficou assim até que os órgãos públicos se unissem para que fossem organizados os esforços de resgate. Quanto a organização da equipe que participei, foi tentado recrutar os voluntários que tinham o máximo de experiência em resgate e atendimentos de emergência, mas infelizmente isto era muito pouco no quesito conhecimento em campo, gerando infelizmente alguns conflitos desnecessários e prejudiciais ao momento, era o que tínhamos na mão para nos lançar ao socorro. Mesmo assim conseguimos introduzir bons profissionais como Resgatistas profissionais, soldado Bombeiro do CBMESP como outros voluntários com experiência e vontade de ajudar.

GPB:O momento que achou mais importante no resgate e a imagem que mais te marcou?

Claudio M. Queiroz:Na verdade você que tem alguma experiência ou treinamento para estes tipos de ocorrências fica com seu lado humano meio que desligado, você simplesmente vai lá e faz o que tem que ser feito. Mas não posso me furtar de narrar que chegando á uma casa para convencer os moradores a aceitarem ir para o abrigo, descobri que era a família de uma amiga minha que há muito eu não via, mesmo assim você se desliga do emocional e começa a agir racionalmente, como conseqüência deste episódio, uma das senhoras que foi retirada da casa por causa do risco que corria me encontrou na cidade umas três semanas depois e me deu um dos melhores abraços que já recebi em minha vida, simplesmente sussurrou algo que ficará para sempre na minha mente.

Quanto a imagem eu não teria uma, mas várias, infelizmente muitas destas triste, como corpos de crianças embalados para transporte entre outras de tamanho impacto emocional. Prefiro tentar lembrar dos sorrisos das pessoas quando chegamos em uma localidade isolada com cestas básicas para elas.

Quero agradecer a todos os envolvidos em ajudar neste momento triste de nossa região, desde os altos oficiais das Forças Armadas, ao mais simples cidadão que deu o que tinha para dar neste momento de ajuda a todos que foi o sorriso reconfortante para quem não tinha mais nada, nem mesmo esperanças.

Meu muito obrigado em nome de todos os socorridos.


Nota do Editor: Quero agradecer imensamente o desprendimento dos voluntários e resgatistas que se empenharam arduamente nas operações de resgate. Aqui trouxemos relatos de apenas três dentre centenas de voluntários que atuaram anônimamente não só em Teresópolis, mas em toda a região serrana, como Nova Friburgo, Petrópolis e adjacências. Estendo a homenagem a todos envolvidos, sejam eles civis,bombeiros,médicos,policiais ou militares que atuaram sem parar, amenizando os danos morais e psicológicos sobre as vítimas das chuvas.

Ainda quero agradecer e parabenizar o excelente trabalho de nosso novo membro da família GeoPolitica Brasil, nosso amigo e novo repórter Claudio M. Queiroz, que nos trouxe notícias em primeira mão, direto do centro de operações, tendo inclusive acompanhado as operações aéreas de perto, tornando o GeoPolítica Brasil o único blog que tripulou os voos das equipes de resgate aéreo do Exército Brasileiro e da Polícia Civil do RJ. Parabenizando pelo excelente trabalho.

Agradeço também a todos que ajudaram as vítimas, seja com envio de alimentos e roupas, doando sangue ou seja na organização da coleta deste itens tão importantes em uma hora como essa.

Muito Obrigado a todos, que Deus esteja sempre convosco.

Angelo D. Nicolaci
Editor GeoPolítica Brasil
Share this article :

0 comentários:

Postar um comentário

 

GBN Defense - A informação começa aqui Copyright © 2012 Template Designed by BTDesigner · Powered by Blogger