quinta-feira, 31 de março de 2011

Saiba quem são os líderes rebeldes da Líbia


Em meio ao levante popular contra o ditador Muammar Gaddafi, moradores de cidades e vilarejos do leste da Líbia controlados por rebeldes formaram um governo interino.

O Conselho Nacional Interino de Transição afirma ter como objetivo prover liderança política e militar, organizar serviços básicos e representar os líbios no exterior.

Seus líderes dizem que o conselho não é um governo, mas quer "direcionar" a Líbia rumo ao que eles esperam que seja uma era pós-Gaddafi, e só então "guiar o país rumo a eleições livres e ao estabelecimento de uma Constituição da Líbia".

De acordo com o site do conselho, o grupo tem atualmente 31 membros que representam várias regiões e cidades da Líbia. Alguns tiveram seus nomes revelados, enquanto os que representam Ajdabiya, Kufra, Ghat, Nalut, Misrata, Zintan e Zawiya ficaram no anonimato. Cinco assentos no conselho pertencem a mulheres e cinco a jovens.

Correspondentes descreveram os encontros do conselho como caóticos e sua liderança como contraditória, e nem sempre fica claro quem o conselho realmente representa.

Mustafa Mohammed Abdul Jalil - presidente

Abdul Jalil pediu demissão do cargo de ministro da Justiça da Líbia no dia 21 de fevereiro em protesto contra "o uso excessivo de violência contra manifestantes desarmados" pelo governo, tendo sido o primeiro membro do Comitê Geral do Povo a fazê-lo.

Ele nasceu na cidade de Bayda --berço histórico da dinastia sanusi e um dos primeiros locais a se levantar contra o regime de Gaddafi-- em 1952, e estudou direito e a sharia (lei islâmica) na Universidade da Líbia.

Uma recompensa de R$ 659 mil teria sido colocada sobre sua cabeça.

Após se formar, Abdul Jalil trabalhou como advogado no escritório do procurador-geral em Bayda, antes de tornar-se juiz, em 1978. Em 2002, foi nomeado presidente da Corte de Apelações. Seu último cargo antes de ser nomeado ministro da Justiça, em 2007, foi presidente do tribunal de Bayda.

Abdul Jalil ficou conhecido como um juiz que emitia veredictos contra o governo de forma regular, de acordo com o jornal The Wall Street Journal.

Tal reputação o levou a ser cooptado pelo filho de Gaddafi, Saif al Islam, que pretendia dar ao governo um ar reformista.

Como ministro da Justiça, Abdul Jalil foi elogiado por grupos de defesa dos direitos humanos e países ocidentais por seus esforços para reformar o Código Penal líbio.

De acordo com uma comunicação diplomática dos EUA em janeiro de 2010, ele era bem visto pela equipe do Ministério da Justiça e por vários juízes, que o consideravam justo, enquanto o embaixador dos EUA Gene Gretz descreveu um encontro que teve com ele como "positivo e encorajador".

Em uma atitude inédita, em janeiro de 2010, ele desafiou publicamente Gaddafi em um discurso televisado no Congresso Geral do Povo, declarando que pretendia pedir demissão devido ao que chamou de sua "inabilidade de superar as dificuldades que o setor judicial enfrenta".

Ele citou a prisão de 300 opositores do governo a despeito de veredictos que os absolviam, e a libertação de presos condenados à morte sem que as famílias de suas vítimas fossem informadas.

O pedido de demissão, entretanto, foi veementemente negado pelo líder líbio.

Quando os protestos começaram em Benghazi, no meio de fevereiro, o governo enviou Abdul Jalil para lidar com a rebelião. Após testemunhar ataques a tiros e a prisão de manifestantes pacíficos, ele pediu demissão do cargo de ministro. Dentro de dias, tornou-se presidente do Conselho Nacional Interino de Transição.

"Nos somos iguais aos povos de outros países, queremos as mesmas coisas", disse ele. "Queremos um governo democrático, uma Constituição justa, e não queremos ficar isolados do mundo".

No dia 9 de março, a TV estatal líbia afirmou que o governo Khadafi ofereceu R$ 659 mil por sua captura.

Abdul Hafez Ghoga - vice-presidente, porta-voz

Ghoga é um advogado de direitos humanos de Benghazi, e um líder comunitário. Foi acusado pelo filho de Gaddafi de trair seu país.

O ex-presidente da Associação de Advogados da Líbia foi preso no dia 19 de fevereiro, pouco após os protestos contra o governo, mas foi libertado dias depois.

Ele tornou-se proeminente depois de ter declarado ser porta-voz de um conselho interino que rivalizava com o criado por Mustafa Abdul Jalil.

Ghoga foi subsequentemente nomeado vice-presidente e porta-voz do Conselho Nacional Interino de Transição, no começo de março.

O filho de Gaddafi, Saif al Islam, trata Ghoga como um "vira-casacas". Ele disse ao jornal "Al Sharq al Awsat": "Há duas semanas ele estava sentado na tenda de Gaddafi rindo e aplaudindo, e até apareceu na rede de TV Al Jazeera defendendo a Líbia e o regime. E agora ele fala em derrubar o regime?"

Omar al Hariri - assuntos militares

Hariri é um dos oficiais que participaram do golpe que levou Khadafi ao poder em 1969. O ex-general foi preso mais tarde, depois de os dois terem brigado.

Hariri é membro da tribo farjan, que é baseada no oeste da Líbia e tem forte presença dentro e nos arredores da cidade natal de Gaddafi, Sirte.

Em entrevista ao jornal "Globe and Mail" no dia 2 de março, Hariri, de 67 anos, contou como havia ensinado Gaddafi a dirigir, quando os dois eram jovens oficiais. Os dois conspirariam para derrubar o rei Idris, em 1969.

Hariri disse lamentar que oficiais não tivessem um plano claro para a nova Líbia, e disse que não queria "cometer os mesmos erros".

"Dessa vez as pessoas serão nossas garantidoras", disse ele. "Elas elegerão um novo presidente e ele servirá por tempo limitado. Ele poderá ser removido se não servir ao povo. E, é claro, precisaremos de um Parlamento, de um sistema multipartidário".

Em 1975, enquanto servia como secretário-geral do gabinete revolucionário, Hariri começou a tramar para derrubar Khadafi, ao lado de seus colegas militares.

O complô foi descoberto e cerca de 300 homens foram presos. Quatro morreram sob tortura e 21 foram condenados à morte, incluindo Hariri.

Ele passou 15 anos na prisão esperando execução, quatro anos e meio em uma solitária.

Então, em 1990, Gaddafi inesperadamente comutou sua sentença e ele foi colocado sob prisão domiciliar, na cidade de Tobruk. Forças de segurança vigiavam-no de perto, até que a revolta começou.

Hariri, que é tratado como herói pelos rebeldes quando aparece em público, diz que o Conselho Nacional Interino de Transição deve "aconselhar" os jovens que iniciaram a revolta.

Ele acredita que o regime cairá, mas que Gaddafi não irá embora silenciosamente.

Mahmoud Jibril -assuntos estrangeiros

Sarkozy recebe Jibril e Issawi no Palácio do Eliseu

Antes da revolta, Jibril estava envolvido em um projeto chamado "Visão Líbia" com outros intelectuais, que buscavam estabelecer um Estado democrático. Ele também é chefe do conselho de crise do comitê rebelde.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, reconheceu o conselho como governo legítimo da Líbia após encontrar Jibril e Ali Issawi.

Nascido em 1952, Jibril tem mestrado em ciência política e é PhD em planejamento estratégico e tomada de decisões na Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia.

Após completar seu doutorado em 1984, ele ensinou planejamento estratégico na universidade por vários anos. Ele escreveu vários livros e liderou programas de treinamento em liderança em vários Estados árabes.

Ele tornou-se chefe do Conselho Nacional de Planejamento Líbio. Então, em 2009, foi nomeado presidente da Junta Nacional de Desenvolvimento Econômico, fundada em meados dos anos 2000 para encorajar o investimento e o crescimento econômico na Líbia. Ele se reportava diretamente ao primeiro-ministro.

Ali Issawi -assuntos estrangeiros

Issawi pediu demissão do cargo de embaixador na Índia no dia 21 de fevereiro em protesto contra o "uso de violência pelo governo contra seus cidadãos" e pela mobilização de "forças mercenárias estrangeiras contra líbios".

Nascido em Benghazi em 1966, Issawi tem PhD em privatização da Academia de Estudos Econômicos em Bucareste, Romênia. Em 2005, tornou-se diretor-geral do Programa de Expansão de Propriedades, um fundo do governo líbio que encoraja a privatização, e fundou o Centro para o Desenvolvimento de Exportação em 2006.

No ano seguinte ele tornou-se ministro da Economia, Comércio e Investimento. Ele foi o mais jovem a ocupar o cargo.

Após uma mudança no gabinete em março de 2009, Issawi foi deixado sem cargo. Uma mensagem diplomática dos EUA vazada dizia que a embaixada francesa em Trípoli acreditava que a medida tinha relação com "acusações de corrupção".

A mensagem dizia, entretanto: "Issawi tentou pedir demissão duas vezes ano passado devido a divergências com (o primeiro-ministro al Baghdadi Ali) al Mahmoudi, mas foi convencido a ficar".

Ahmed al Zubair Ahmed al Sanusi -presos políticos

O dissidente foi o mais longevo preso político da Líbia. Ele foi acusado de conspiração em uma tentativa de golpe contra Khadafi em 1970 e passou 31 anos na prisão, muitos deles na solitária. Foi libertado em agosto de 2001, na ocasião do 32 aniversário da revolução.

Zubair é o último descendente do rei líbio, Idriss al Sanusi, entre a liderança rebelde.

Fathi Mohammed Baja - Benghazi

Baja é educado nos EUA, professor de ciência política na Universidade de Benghazi e membro do conselho municipal de Benghazi.

Ele foi acusado pelo aparato de segurança do Estado líbio de escrever artigos críticos em relação ao governo.

Baja ajudou a elaborar um manifesto pela revolução, que tem dois fundamentos principais: unidade nacional e democracia.

Fathi Tirbil Salwa -jovens

Tirbil desempenhou um papel significativo no levante.

O jovem advogado e ativista ajudou a organizar uma manifestação pacífica em Benghazi no dia 15 de fevereiro, com famílias de cerca de 1.200 presos da notória prisão de Abu Salim, que foram massacrados por forças de segurança líbias em 1996, como retaliação a uma revolta na cidade.

Os manifestantes defendiam os direitos humanos, mas o Comitê Revolucionário local ordenou a prisão de Tirbil.

Quando manifestantes se reuniram em frente à delegacia em que Tirbil estava preso, pedindo sua libertação, a polícia abriu fogo contra o grupo.

Nos dias que se seguiram os protestos contra o governo em Benghazi cresceram e se espalharam por várias cidades do leste, antes de chegar a Trípoli.

Salwa al Dighaili - mulheres

Advogada baseada em Benghazi, é de uma família proeminente do leste da Líbia. Seu tio foi preso por atividades políticas.

Antes do levante, Dighaili desempenhou papel ativo na Associação de Advogados de Benghazi. Seus integrantes faziam campanha por reformas na lei e pelo fim da corrupção. Eles também pediam a substituição do chefe da associação, leal a Gaddafi. Ele foi demitido uma semana antes dos protestos, após uma visita à cidade do líder líbio.


Fonte: BBC Brasil
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