terça-feira, 22 de março de 2011

Espanha disponibilizará tropas na Líbia por mais de três meses


As tropas espanholas que participam da implantação de uma zona de exclusão aérea na Líbia atuarão no país norte-africano durante um mês, e os soldados destacados para atuar no embargo de armas poderão permanecer por três meses ou mais, informou o governo espanhol nesta segunda-feira.

Ainda de acordo com o Executivo, ambos os prazos têm possibilidade de serem estendidos. O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, informará nesta terça-feira ao plenário do Congresso dos Deputados sobre estas previsões para pedir a autorização parlamentar.

A Espanha colocará à disposição da coalizão internacional 500 militares, incluindo os representantes nos quartéis-generais, informou o governo em comunicado, horas antes do pronunciamento de Zapatero ao Parlamento espanhol.

A posição espanhola chega horas depois de o presidente norte-americano, Barack Obama, dizer que os Estados Unidos esperam transferir a liderança militar na Líbia aos aliados em questão de dias.

Em entrevista coletiva ao lado do presidente chileno, Sebastián Piñera, Obama afirmou que o objetivo militar na Líbia é proteger os civis dos ataques do ditador líbio, Muammar Gaddafi, e não tirá-lo do poder. Porém, ele disse, a posição norte-americana é que Gaddafi "precisa sair".

Quanto ao prazo para a transferência das operações, Obama disse que "nós [EUA] prevemos que a transição aconteça em uma questão de dias, não semanas".

Com a ajuda de jatos da Espanha, a coalizão internacional lançou nesta segunda-feira o terceiro dia da operação Aurora da Odisseia. O céu de Trípoli foi tomado por aviões da coalizão procedentes de bases na Itália e pelos disparos da defesas antiaérea líbia durante toda a madrugada e parte da manhã.

A troca de fogo ocorreu mesmo com a declaração de um novo cessar-fogo pelo regime líbio, na tarde deste domingo. A trégua foi recebida com desconfiança pela comunidade internacional e o conselheiro do presidente americano para a Segurança Nacional, Tom Donilon, afirmou que o anúncio era "uma mentira" e que havia sido "imediatamente violado" pelas forças de Gaddafi.

O maior golpe, até o momento, foi o edifício do complexo residencial de Gaddafi. O ataque gerou duras críticas do governo líbio, que alega que ao menos 48 civis já morreram na ofensiva ocidental.

"Foi um bombardeio bárbaro, que poderia ter atingido centenas de civis congregados na residência de Muammar Gaddafi, a cerca de 400 metros do prédio atingido", declarou o porta-voz do regime, Musa Ibrahim, aos jornalistas estrangeiros, denunciando as 'contradições do discurso ocidental'.

"Os países ocidentais dizem querer proteger os civis, mas atacam uma residência onde sabem que há civis no interior", criticou.

ALVO

O ataque levantou suspeitas de que a coalizão internacional planeja matar Gaddafi, objetivo que vai contra a resolução da ONU. Autoridades americanas correram para desmentir a informação, embora o ministro da Defesa do Reino Unido, Liam Fox, tenha insinuado o contrário.

"Posso garantir que (Gaddafi) não figura na lista dos nossos alvos. Não visamos sua residência", declarou o vice-almirante Bill Gortney, do Pentágono.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, assinalou que seria "insensato" matar Gaddafi na operação militar da coalizão para deter o regime em Trípoli.

"Acredito na importância de operarmos com base na resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Se começarmos a acrescentar objetivos, acredito que vamos gerar outro problema neste sentido. Não é sensato estabelecer metas que talvez não possamos atingir".

Já Fox explicou em entrevista a uma emissora britânica que "há uma diferença entre o fato de alguém ser um alvo legítimo e a decisão de passar ao ataque", pois para este último "seria preciso levar em conta o que pode acontecer aos civis na área".

ZONA DE EXCLUSÃO

A zona de exclusão aérea sobre a Líbia, que hoje cobre uma faixa cerca de 150 km por 100 km, será ampliada e logo terá uma cobertura de mil km, afirmou o chefe do comando dos Estados Unidos na África, general Carter Ham. A zona, que hoje cobre Benghazi, se estenderá assim em direção ao sul e a oeste, e chegará à capital Trípoli, segundo o general.

Ham afirmou que a medida vai ser ampliada a medida em que chegarem mais aeronaves de países da coalizão internacional.

A zona de exclusão aérea, assim como o uso da força para proteção dos civis líbios, foi aprovada na quinta-feira passada (17) pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). A ideia é incapacitar as aeronaves quer Gaddafi tem usado para combater os rebeldes de oposição no leste do país e dar um fim à violência que se arrasta há mais de um mês e que teria custado milhares de vidas.

ATAQUES NA CAPITAL

A TV estatal líbia confirmou há pouco que a capital Trípoli registra fortes explosões seguidas de disparos da defesa antiaérea do regime perto da casa do ditador Muammar Gaddafi.

De acordo com a Associated Press os bombardeios seriam de autoria das forças internacionais dos aliados, que já estão no terceiro dia de suas operações para implementar a resolução 1973 aprovada na sexta-feira passada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Os informes da TV estatal da Líbia sugerindo que a casa de Gaddafi estaria sob ataque ainda não foram confirmados pelos aliados internacionais, e chegam apenas horas depois de o premiê do Reino Unido ter dito ao Parlamento britânico que a resolução da ONU não autoriza tornar o ditador um alvo direto.

"A resolução é limitada em seu alcance e não proporciona explicitamente a autoridade legal para uma ação que provoque a saída do poder de Gaddafi pela via militar", declarou Cameron durante um pronunciamento ao Parlamento britânico.

O primeiro-ministro, que afirmou que as forças aliadas já conseguiram implementar plenamente a zona de exclusão aérea sobre o país do norte da África, ressaltou que a "Líbia tem que se desfazer de Gaddafi" e acrescentou que os líbios são quem "têm que escolher seu próprio futuro".

No entanto, considerou que a comunidade internacional é "responsável em última instância" pela aplicação da resolução aprovada pelas Nações Unidas e que a intervenção evitou um "massacre sangrento" em Benghazi.

REDUTOS REBELDES

Forças leais ao ditador líbio, Muammar Gaddafi, atacaram a cidade de em Misrata, ao leste de Trípoli, informaram um porta-voz dos rebeldes e uma fonte médica da cidade. Ao menos 40 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, vítimas de tiros disparados pelas forças leais a Gaddafi, segundo os rebeldes.

Um morador de Misrata disse à agência de notícias Reuters que as forças de Gaddafi também usavam roupas civis no centro da cidade, uma possível estratégia para escapar dos ataques ocidentais.

Ele disse que ainda que Misrata, localizada a 200 quilômetros a leste de Trípoli, já estava cercada por tropas pró-Gaddafi e que o abastecimento de água foi interrompido.

Em Benghazi, a segunda maior cidade líbia, um porta-voz da oposição disse que os rebeldes ainda planejam marchar para Trípoli, estratégia que havia sido evitada pela ofensiva de Gaddafi.

Fonte: EFE
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