segunda-feira, 28 de março de 2011

Após Japão, cientistas temem "demonização" de reator nuclear


O acidente de 11 de março na usina nuclear de Fukushima, no Japão, após um terremoto de 9 graus na escala Richter seguido de tsnunami, deixou muita gente ressabiada quando se fala em "reator".

Mas o mesmo princípio físico dos reatores de energia nuclear move também outro tipo de máquina: os reatores de pesquisa. Esses produzem os compostos usados em exames de imagem.

"O processo físico é igual. Mas a quantidade de combustível e a potência são bem diferentes", explica José Augusto Perrota, diretor de projetos especiais do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).

Perrota está à frente de um projeto do Ipen para construir um megarreator nuclear para fins médicos e científicos no interior de São Paulo.

A ideia é que a supermáquina consiga suprir a demanda nacional de elementos radioativos os radioisótopos usados na produção dos fármacos necessários em exames de imagens.

A empreitada, que apareceu até no discurso de posse do ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), em janeiro, deve custar cerca de R$ 850 milhões.

Os recursos para elaboração do projeto R$ 30 milhões já foram aprovados pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

O valor parece alto. Mas a matemática é positiva considerando que, com exceção do iodo-131, que tem 50% de produção nacional, os demais radioisótopos são todos importados de países como Argentina e Israel.




No reator de energia nuclear, o iodo-131 é um dos elementos radioativos usados na fissão do urânio ("quebrando" o átomo desse elemento em partes).

"É importante entender que o mesmo iodo-131 que vazou e pode provocar doenças no Japão também pode curar", diz Celso Dario Ramos, coordenador de medicina nuclear do Hospital das Clínicas da Unicamp.

Se bem aplicado, ele pode atacar, com eficácia, câncer de tireoide com metástase.

A maioria dos elementos radioativos da medicina nuclear tem a meia vida (tempo que levam para perder metade da radiação) bem menor do que no reator de energia.

Isso reduz bastante o risco de acidentes graves.

Por enquanto, o reator de pesquisa proposto pelo Ipen segue continua nas metas do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Duas semanas antes do desastre no Japão, a presidente Dilma Rousseff esteve na Argentina para firmar uma parceria para construção de reatores de pesquisa com projetos comuns.

Hoje, o maior e mais utilizado dos reatores nacionais de pesquisa fica no Ipen, em São Paulo. A máquina foi inaugurada em 1958.


Fonte: Folha
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