sábado, 19 de fevereiro de 2011

Quem ganha o que na visita de Obama


Será um Barack Obama enredado nos problemas domésticos que desembarcará em Brasília daqui a quatro semanas, exatamente, para a primeira viagem oficial ao país — aquela que esperou dois anos e uma troca de governo (por aqui) para finalmente desencantar. Com a situação econômica nos Estados Unidos ainda desfavorável, e às voltas com a nova maioria de oposição na Câmara, a Casa Branca já começa a fazer cálculos com o horizonte na campanha pela reeleição, em 2012. Observadores de terceiros países consideraram significativa a inclusão do Brasil como escala inicial de uma turnê inicialmente programada para Chile e El Salvador. “Obama precisa mais dessa visita do que Dilma”, resumiu, em conversa reservada com a coluna, um diplomata latino-americano que acumula uma longa experiência na relação com os EUA.

A movimentação que precede a chegada do presidente parece significativa e indica algumas linhas de interesse. Primeiro, a visibilidade para o público americano: uma nutrida comitiva de mais de 100 jornalistas deve desembarcar com a comitiva oficial, que incluirá empresários de diferentes setores. Em conexão com isso, funcionários de diferentes níveis, dos dois países, trabalham em um certo número de acordos para serem assinados durante a visita. Ainda que sejam documentos iniciais, eles dão alguma concretude para a cobertura de imprensa, rendem fotos e — last, but not least — podem servir como anzol para fisgar adiante resultados mais práticos.

Negócios à parte

Basta examinar as agendas do Itamaraty e do Planalto, nas últimas semanas, para perceber uma movimentação intensa na esfera econômico-comercial das relações. No início do mês, esteve por aqui o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, para discutir G-20 e a relação entre dólar e real. Em seguida veio o secretário assistente de Estado para Economia e Negócios, José Fernandez, acompanhado pelo vice-diretor da agência de cooperação Usaid para a América Latina, Mark Lopes. A Usaid e a ABC, agência de cooperação do Itamaraty, assinaram acordos com vista à cooperação em terceiros países. Nesse meio tempo, Dilma recebeu no Planalto o CEO mundial da gigante General Electric, Jeffrey Immelt, que veio apresentar projetos de investimentos da ordem de meio bilhão de dólares.

Troca de pares

No âmbito mais diretamente político-diplomático, as atenções se voltam para o tom e o teor das conversar entre Obama e Dilma. Ao longo de oito anos, o governo Lula viveu uma dicotomia nos contatos com Washington: com George W. Bush, as relações pessoais entre os dois presidentes eram relaxadas, quase calorosas, enquanto as diferenças de opinião sobre assuntos mundiais só fizeram aumentar; com Obama, insinuou-se a possibilidade de maior convergência, mas no plano pessoal a cordialidade parou na momentosa exaltação de Lula como “o cara”. Os desencontros se sucederam, da crise em Honduras ao impasse nuclear com o Irã.

De parte a parte, a expectativa parece repousar em uma espécie de trégua. Temas da agenda global, como a reunião do G-20, estão oficialmente na pauta. Reservadamente, espera-se que os governantes troquem ao menos opiniões sobre assuntos como as turbulências no Oriente Médio, o próprio Irã e, claro, a presidência brasileira no Conselho de Segurança da ONU. Do ponto de vista do Itamaraty e do Planalto, o sonho dourado seria ouvir de Obama uma declaração explícita de apoio à inclusão do Brasil como membro permanente do conselho, a exemplo do que ocorreu na Índia. Para os EUA, possivelmente, soaria como música algum anúncio oficial de que a concorrência para a aquisição de caças para a FAB está mesmo aberta — e que a Boeing tem chance real de desbancar a concorrente francesa Dassault.

Temporada de caças

E por falar na concorrência dos caças, a semana que entra começa com a chegada de outra das partes interessadas: na terça-feira, o ministro Antonio Patriota recebe a colega francesa, Michèle Alliot-Marie. Coincidência ou não, nas últimas semanas sucederam-se rumores na imprensa — no mais das vezes alimentados por lobbies — sobre uma possível mudança no jogo. Circulou que Dilma preferiria o F-18 americano ao Rafale francês, que Nicolas Sarkozy chegou a considerar vendido para o Brasil depois de ter visitado o país como convidado de honra no Sete de Setembro de 2009.

Fonte: Correio Braziliense
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