Diante da crise no Egito, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, criticou os "crimes" dos EUA e do Reino Unido neste domingo ao afirmar que o mundo está prestes a ver uma "grande mudança" e que o sistema atual está "à beira de um colapso", de acordo com a agência oficial Fars.
Falando ao Parlamento iraniano, Ahmadinejad disse que "os pensamentos arrogantes, materialistas e desumanos estão perdendo sua vigência, graças a Deus e à resistência do povo iraniano".
Em referência indireta à crise egípcia, o presidente do Irã voltou a tentar capitalizar as revoltas como uma potencial revolução islâmica.
"Estamos à beira de grandes mudanças e a missão que temos hoje é muito mais importante do que há cinco ou 20 anos, e o povo iraniano deve explicar o pensamento divino da revolução e apresentá-lo ao mundo", advertiu.
Além disso, acusou os "poderes arrogantes de roubarem mais de US$ 30 billhões de [outras] nações através de estratégias de desenvolvimento econômico" e advertiu que "esses países têm imposto a inflação, pobreza e discriminação de outras nações".
Ahmadinejad culpou as potências ocidentais por terem "matado a mais de 100 milhões de pessoas em um século, arruinado o meio ambiente, provocando terremotos, intoxicado o espaço [sideral], restringindo as chuvas numa parte do mundo e criado micróbios para difundirem a venda de medicamentos".
CRISE NO EGITO
Enquanto os protestos no Cairo e Alexandria voltam a se intensificar e milhares tomam as ruas novamente, o ditador egípcio Hosni Mubarak reuniu-se com chefes do Exército para revisar a situação da segurança nacional, informa a TV estatal do Egito.
Desde o início dos protestos na última terça-feira (25), o país já contabiliza ao menos 38 mortos, indica a CNN; agências internacionais, no entanto, sugerem que o número já seja maior e a Reuters menciona ao menos cem vítimas. A Al Jazeera, emissora com base no Qatar, fala em 150 mortos.
De acordo com a emissora o ditador e o vice-presidente Omar Suleiman (ex-chefe dos serviços de inteligência) visitaram o Centro de Operações das Forças Armadas e conversaram com o ministro da Defesa, o general Husein Tantaui.
Já o centro de imprensa do governo revelou que o novo premiê, Ahmed Shafic, deve revelar ainda neste domingo seu novo gabinete de ministros.
As fontes não indicaram em que horário será realizado o anúncio, nem forneceram mais detalhes a respeito.
Embora o país tenha registrado um início de manhã mais calmo, os protestos logo foram retomados. Na praça Tahrir, no centro do Cairo, ao menos 3.000 manifestantes intensificaram as revoltas, enquanto líderes mundiais aumentam a pressão por mais reformas no regime do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.
Aos gritos de "Mubarak, o avião aguarda" e "Hosni Mubarak, Omar Suleiman, vocês dois são agentes dos americanos", milhares de jovens seguem protestando.
Líderes mundiais pressionam Mubarak por mudanças mais significativas do que a simples reformulação de seu gabinete. EUA, Reino Unido, França e Alemanha emitiram comunicados com o mesmo tom, afirmando que as alterações na política egípcia são insuficientes para o retorno da estabilidade.
No sábado (29), o ditador nomeou um vice-presidente pela primeira vez em 30 anos e também um novo premiê, com a missão de formarem um novo governo.
"Pedimos ao presidente Mubarak para evitar de todas as formas o uso da violência contra civis desarmados, e aos manifestantes para exercitar seus direitos de forma pacífica", disseram o premiê britânico, David Cameron, a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em comunicado conjunto.
Comentando a crise pela primeira vez, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que o país observa atentamente a situação e pediu contenção. Os dois países já travaram três guerras no passado.
"Israel e Egito estão em paz por mais de três décadas e nosso objetivo é garantir que esses laços sejam preservados. Neste momento, precisamos demonstrar responsabilidade, contenção e a máxima prudência", disse.
A fronteira entre Rafah, no Egito, e a faixa de Gaza, foi fechada. Ontem, tiroteios entre manifestantes egípcios e forças de segurança mataram ao menos 12 no local, levantando temores de que os confrontos possam contaminar a já tensa situação no território palestino.
Imerso na mais grave crise política das últimas décadas, o Egito enfrenta o sexto dia de instabilidade. Apesar de o domingo ser um dia útil no mundo árabe, escolas, escritórios do governo, bancos e a bolsa de valores egípcia ficarão fechados.
Buscando fechar o cerco à mídia, o governo egípcio fechou os escritórios e confiscou as credenciais de todos os correspondentes da emissora de TV Al Jazeera.
Com base no Qatar, a emissora tem sucursais em todo o mundo, com correspondentes inclusive no Brasil, e transmite notícias em árabe e inglês.
Os transportes também seguem interrompidos em grande parte das cidades, e o metrô do Cairo funciona de forma reduzida.
Milhares de presos escaparam das prisões no país e relatos descrevem um cenário de guerra nas ruas do Cairo, Alexandria e Suez. Na ausência da polícia, casas, supermercados, lojas e empresas foram saqueadas, destruídas e incendiadas.
O Exército concentra-se sobretudo na repressão aos manifestantes e proteção dos prédios públicos, e durante a madrugada muitos moradores montaram barricadas em torno de suas casas para evitar saques.
ESTRANGEIROS
Também na manhã deste domingo muitos países começaram a se mobilizar para retirar seus diplomatas, residentes e turistas do Egito.
A Turquia enviou dois aviões da Turkish Airlines ao Cairo para retirar seus cidadãos e disse que o processo pode levar dias.
O Departamento de Estado dos EUA informou que todos os americanos poderão deixar o país em voos para a Europa a partir de segunda-feira.
Assim como no sábado, no Aeroporto Internacional do Cairo milhares de turistas tentam lugares em voos sem reserva e segundo agências de notícias, agora muitos egípcios também querem abandonar o país.
Ainda no sábado, protestos na Jordânia, Canadá, Reino Unido e outros países mostraram apoio aos manifestantes egípcios.
ENTENDA
A deterioração da situação política no Egito incita tensões no Oriente Médio. EUA, Irã, Jordânia e Israel estão entre os principais atores na volátil região que vem registrando protestos desde a queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali, na Tunísia.
Após a Revolução do Jasmim, em Túnis, houve protestos em países como a Mauritânia, Iêmen e Argélia, e analistas temem que os confrontos no Egito possam até contaminar a já tensa região entre o norte do Egito e os territórios palestinos.
O movimento islâmico Hamas, que controla o território desde 2007, enviou tropas à fronteira para evitar que palestinos cruzem à península do Sinai.
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, telefonou para Mubarak e expressou solidariedade ao líder egípcio, indicando desejo de que a estabilização seja retomada o mais rápido possível.
O Egito reconhece o Estado de Israel e é visto como um aliado estratégico do país hebreu, apesar de no passado já ter travado guerras com os israelenses.
Buscando capitalizar as revoltas como uma possível inclinação do Egito ao fundamentalismo islâmico, o porta-voz da Chancelaria do Irã, Ramin Mehmanparast, disse que Mubarak deve renunciar e permitir que uma "onda islâmica desperte".
Na Jordânia, Hamman Saeed, o líder da Irmandade Muçulmana, de oposição ao governo do rei Abdullah II, aliado de Washington, disse que as revoltas no Egito devem se espalhar por todo o Oriente Médio, levando os árabes a se rebelar contra seus líderes "tiranos" aliados aos Estados Unidos.
O presidente americano, Barack Obama, disse em pronunciamento na Casa Branca nesta sexta-feira que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, deve cumprir as promessas feitas hoje à nação e dar "passos concretos" pela reforma política do país, pela promoção da democracia.
"O que é necessário agora são passos concretos para o avanço dos direitos do povo egípcio. Falei com ele [Mubarak] depois do discurso, e disse que agora ele tem a responsabilidade de dar sentido a essas palavras", disse Obama no discurso na Casa Branca.
Aliado importante dos EUA na região, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, onde Ben Ali estaria exilado, minimizou as revoltas no Egito ao classificá-las como "bagunça".
Fonte: Folha
Falando ao Parlamento iraniano, Ahmadinejad disse que "os pensamentos arrogantes, materialistas e desumanos estão perdendo sua vigência, graças a Deus e à resistência do povo iraniano".
Em referência indireta à crise egípcia, o presidente do Irã voltou a tentar capitalizar as revoltas como uma potencial revolução islâmica.
"Estamos à beira de grandes mudanças e a missão que temos hoje é muito mais importante do que há cinco ou 20 anos, e o povo iraniano deve explicar o pensamento divino da revolução e apresentá-lo ao mundo", advertiu.
Além disso, acusou os "poderes arrogantes de roubarem mais de US$ 30 billhões de [outras] nações através de estratégias de desenvolvimento econômico" e advertiu que "esses países têm imposto a inflação, pobreza e discriminação de outras nações".
Ahmadinejad culpou as potências ocidentais por terem "matado a mais de 100 milhões de pessoas em um século, arruinado o meio ambiente, provocando terremotos, intoxicado o espaço [sideral], restringindo as chuvas numa parte do mundo e criado micróbios para difundirem a venda de medicamentos".
CRISE NO EGITO
Enquanto os protestos no Cairo e Alexandria voltam a se intensificar e milhares tomam as ruas novamente, o ditador egípcio Hosni Mubarak reuniu-se com chefes do Exército para revisar a situação da segurança nacional, informa a TV estatal do Egito.
Desde o início dos protestos na última terça-feira (25), o país já contabiliza ao menos 38 mortos, indica a CNN; agências internacionais, no entanto, sugerem que o número já seja maior e a Reuters menciona ao menos cem vítimas. A Al Jazeera, emissora com base no Qatar, fala em 150 mortos.
De acordo com a emissora o ditador e o vice-presidente Omar Suleiman (ex-chefe dos serviços de inteligência) visitaram o Centro de Operações das Forças Armadas e conversaram com o ministro da Defesa, o general Husein Tantaui.
Já o centro de imprensa do governo revelou que o novo premiê, Ahmed Shafic, deve revelar ainda neste domingo seu novo gabinete de ministros.
As fontes não indicaram em que horário será realizado o anúncio, nem forneceram mais detalhes a respeito.
Embora o país tenha registrado um início de manhã mais calmo, os protestos logo foram retomados. Na praça Tahrir, no centro do Cairo, ao menos 3.000 manifestantes intensificaram as revoltas, enquanto líderes mundiais aumentam a pressão por mais reformas no regime do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder.
Aos gritos de "Mubarak, o avião aguarda" e "Hosni Mubarak, Omar Suleiman, vocês dois são agentes dos americanos", milhares de jovens seguem protestando.
Líderes mundiais pressionam Mubarak por mudanças mais significativas do que a simples reformulação de seu gabinete. EUA, Reino Unido, França e Alemanha emitiram comunicados com o mesmo tom, afirmando que as alterações na política egípcia são insuficientes para o retorno da estabilidade.
No sábado (29), o ditador nomeou um vice-presidente pela primeira vez em 30 anos e também um novo premiê, com a missão de formarem um novo governo.
"Pedimos ao presidente Mubarak para evitar de todas as formas o uso da violência contra civis desarmados, e aos manifestantes para exercitar seus direitos de forma pacífica", disseram o premiê britânico, David Cameron, a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em comunicado conjunto.
Comentando a crise pela primeira vez, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que o país observa atentamente a situação e pediu contenção. Os dois países já travaram três guerras no passado.
"Israel e Egito estão em paz por mais de três décadas e nosso objetivo é garantir que esses laços sejam preservados. Neste momento, precisamos demonstrar responsabilidade, contenção e a máxima prudência", disse.
A fronteira entre Rafah, no Egito, e a faixa de Gaza, foi fechada. Ontem, tiroteios entre manifestantes egípcios e forças de segurança mataram ao menos 12 no local, levantando temores de que os confrontos possam contaminar a já tensa situação no território palestino.
Imerso na mais grave crise política das últimas décadas, o Egito enfrenta o sexto dia de instabilidade. Apesar de o domingo ser um dia útil no mundo árabe, escolas, escritórios do governo, bancos e a bolsa de valores egípcia ficarão fechados.
Buscando fechar o cerco à mídia, o governo egípcio fechou os escritórios e confiscou as credenciais de todos os correspondentes da emissora de TV Al Jazeera.
Com base no Qatar, a emissora tem sucursais em todo o mundo, com correspondentes inclusive no Brasil, e transmite notícias em árabe e inglês.
Os transportes também seguem interrompidos em grande parte das cidades, e o metrô do Cairo funciona de forma reduzida.
Milhares de presos escaparam das prisões no país e relatos descrevem um cenário de guerra nas ruas do Cairo, Alexandria e Suez. Na ausência da polícia, casas, supermercados, lojas e empresas foram saqueadas, destruídas e incendiadas.
O Exército concentra-se sobretudo na repressão aos manifestantes e proteção dos prédios públicos, e durante a madrugada muitos moradores montaram barricadas em torno de suas casas para evitar saques.
ESTRANGEIROS
Também na manhã deste domingo muitos países começaram a se mobilizar para retirar seus diplomatas, residentes e turistas do Egito.
A Turquia enviou dois aviões da Turkish Airlines ao Cairo para retirar seus cidadãos e disse que o processo pode levar dias.
O Departamento de Estado dos EUA informou que todos os americanos poderão deixar o país em voos para a Europa a partir de segunda-feira.
Assim como no sábado, no Aeroporto Internacional do Cairo milhares de turistas tentam lugares em voos sem reserva e segundo agências de notícias, agora muitos egípcios também querem abandonar o país.
Ainda no sábado, protestos na Jordânia, Canadá, Reino Unido e outros países mostraram apoio aos manifestantes egípcios.
ENTENDA
A deterioração da situação política no Egito incita tensões no Oriente Médio. EUA, Irã, Jordânia e Israel estão entre os principais atores na volátil região que vem registrando protestos desde a queda do ditador Zine el Abidine Ben Ali, na Tunísia.
Após a Revolução do Jasmim, em Túnis, houve protestos em países como a Mauritânia, Iêmen e Argélia, e analistas temem que os confrontos no Egito possam até contaminar a já tensa região entre o norte do Egito e os territórios palestinos.
O movimento islâmico Hamas, que controla o território desde 2007, enviou tropas à fronteira para evitar que palestinos cruzem à península do Sinai.
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, telefonou para Mubarak e expressou solidariedade ao líder egípcio, indicando desejo de que a estabilização seja retomada o mais rápido possível.
O Egito reconhece o Estado de Israel e é visto como um aliado estratégico do país hebreu, apesar de no passado já ter travado guerras com os israelenses.
Buscando capitalizar as revoltas como uma possível inclinação do Egito ao fundamentalismo islâmico, o porta-voz da Chancelaria do Irã, Ramin Mehmanparast, disse que Mubarak deve renunciar e permitir que uma "onda islâmica desperte".
Na Jordânia, Hamman Saeed, o líder da Irmandade Muçulmana, de oposição ao governo do rei Abdullah II, aliado de Washington, disse que as revoltas no Egito devem se espalhar por todo o Oriente Médio, levando os árabes a se rebelar contra seus líderes "tiranos" aliados aos Estados Unidos.
O presidente americano, Barack Obama, disse em pronunciamento na Casa Branca nesta sexta-feira que o ditador egípcio, Hosni Mubarak, deve cumprir as promessas feitas hoje à nação e dar "passos concretos" pela reforma política do país, pela promoção da democracia.
"O que é necessário agora são passos concretos para o avanço dos direitos do povo egípcio. Falei com ele [Mubarak] depois do discurso, e disse que agora ele tem a responsabilidade de dar sentido a essas palavras", disse Obama no discurso na Casa Branca.
Aliado importante dos EUA na região, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, onde Ben Ali estaria exilado, minimizou as revoltas no Egito ao classificá-las como "bagunça".
Fonte: Folha
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