A fabricante de caças também tem um braço na área de softwares – e é com ele que pretende ganhar espaço no Brasil. É comum que filhos de pais famosos sofram para provar que chegaram lá por esforço próprio e não por força do sobrenome. Com algumas empresas, a luta á parecida. A francesa Dassault construiu uma das mais fortes marcas globais no setor de defesa, produzindo caças militares como o Mirage e o Rafale.
Mas, como subproduto dessa atividade, tornou-se uma importante fabricante de softwares, um negócio que ganhou vida própria. “Eu me apropriei do nome Dassault”, afirma Bernard Charlès, CEO da Dassault Systemes, empresa que desenvolve softwares para engenharia.
Atuando no Brasil há mais de 15 anos, a empresa de Charlès quer dar saltos mais altos no País. O próximo passo é buscar os dólares do pré-sal. A ideia é conquistar o mercado de construção de plataformas de petróleo, o que pode fazer a empresa crescer mais de 20% em 2011.
O problema é que, desde que o governo brasileiro deu início a uma licitação para a compra de 36 aviões de guerra, a Dassault Aviation tomou conta das manchetes de jornais e revistas como a favorita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa.
Agora, a empresa de tecnologia precisa mostrar ao mercado nacional que é independente, apesar de ter como maior acionista justamente o controlador da fabricante de aeronaves.
Segundo Charlès, as operações da Dassault Aviation e da Systemes são completamente separadas. “A Dassault Aviation não interfere em nada na nossa operação”, diz.
Mas existe, sim, uma relação entre as duas companhias. O grupo Marcel Dassault, um dos maiores conglomerados empresariais franceses e controlador da Aviation, detém 43,8% de participação na Systemes, sendo, portanto, o seu maior acionista.
Embora o esforço de dissociação seja grande, o teste de DNA não deixa dúvida de que a empresa de tecnologia é filha da fabricante de aeronaves: a Dassault Systemes surgiu a partir do desmembramento do departamento de informática da Dassault Aviation.
O movimento é comum no mercado de tecnologia. A Positivo Informática, por exemplo, é cria do Grupo Positivo, que desenvolve sistemas de ensino. A Itautec é outra empresa de tecnologia com um pai famoso: o banco Itaú.
A Tivit, empresa de serviços de tecnologia, era parte da Votorantim. As montadoras Volkswagen e General Motors também transformaram seus departamentos de tecnologia em empresas independentes, criando, respectivamente, a Gedas, hoje parte da Deutsche Telekom, e a EDS, comprada pela HP.
Para o gerente de pesquisas da consultoria IDC, Reinaldo Roveri, a ligação com um grupo maior e diversificado não chega a ser um impeditivo para a expansão da empresa. Mas há limitações para o negócio, como a dificuldade em vender o serviço para a concorrência.
Além disso, existe o risco de vazamento de informações confidenciais. Neste caso, segundo Roveri, é fundamental que a prestadora de serviços tenha um nível avançado de governança corporativa que garanta aos contratantes, no mínimo, transparência no que se refere ao relacionamento com os controladores.
No caso da Dassault Systemes, a situação é ainda mais complicada por conta do setor em que a Dassault Aviation atua. A aviação, especialmente militar, envolve altíssima tecnologia e segredos de Estado. As negociações geralmente incluem acordos de intercâmbio de informações e que fazem toda a diferença na hora de fechar um contrato.
Charlès refuta qualquer desconfiança com um argumento simples: praticamente todas as fabricantes de aeronaves do mundo são clientes da Dassault Systemes. Aliás, segundo o executivo, até o exército dos Estados Unidos é cliente da empresa.
No Brasil, o ponto forte da Dassault Systemes é a indústria automobilística, segmento em que seus softwares estão presentes na maioria das empresas. Estranho ver a Embraer, concorrente direta da Dassault Aviation, utilizando um software da marca? Isso acontece.
A Embraer é cliente de longa data e parceira no desenvolvimento de softwares. Os negócios da Dassault Systemes ainda estão muito atrelados a três indústrias: a automotiva, a de equipamentos industriais e a aeroespacial. Juntos, os três setores representaram 66% da receita global da companhia em 2009, que foi de 1,251 bilhão de euros.
No Brasil, a realidade é praticamente a mesma. Em 2009, a receita global caiu quase 7% e o lucro líquido baixou de 200 milhões de euros para 170 milhões de euros.
Para o argentino Marcelo Lemos, vice-presidente da Dassault Systemes para as Américas, a diversificação é fundamental na estratégia para retomar o crescimento.
Nesse sentido, a galinha dos ovos de ouro da empresa é a indústria naval. “O pré-sal vai criar uma demanda imensa por plataformas e navios. E nós queremos fazer parte disso.” O sucesso de tal empreitada pode fazer a empresa crescer acima de 20% no País em 2011. Este ano, a taxa de crescimento está em torno de 15%.
Pelo jeito, o filho está conseguindo o que deseja: provar que pode ser, ainda que de um jeito diferente, pelo menos tão talentoso quanto o pai.
Fonte: IstoÉ Dinheiro Via Cavok
0 comentários:
Postar um comentário