quinta-feira, 23 de setembro de 2010
América Latina diz que ONU, fundada em 1945, já não serve mais
A América Latina disse hoje que a Organização das Nações Unidas, fundada em 1945, já não serve mais porque o mundo mudou e há outras realidades regionais.
A defesa do multilateralismo e a reprovação às grandes potências por sua reticência a compartilhar o poder com as nações emergentes, foram mensagens comuns nos discursos dos latino-americanos durante a Assembleia Geral da ONU, onde participam líderes de 192 países.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, destacou que as grandes potências ainda são reticentes a compartilhar o poder "quando se trata de assuntos de guerra e paz" e advogou por acelerar o processo de reformas nas instituições mundiais porque "o mundo mudou".
"Não é possível continuar com métodos de trabalho pouco transparentes, que permitem aos membros permanentes discutirem, a portas fechadas e pelo tempo que desejarem, assuntos que interessam a toda a Humanidade.", ressaltou Amorim.
Como tradição, o Brasil abriu o debate anual na ONU, que, pela primeira vez desde o começo de seu mandato, não contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, devido a proximidade das eleições presidenciais de 3 de outubro.
"Estas instituições já não nos representam. O mundo de 1945 não é o mesmo de 2010", disse à Agência Efe o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño.
Opinou que a capacidade de veto de alguns países é inadmissível atualmente e supõe "uma ofensa ao multilateralismo".
O ceticismo em relação ao papel da ONU se refletiu também em significativas ausências de muitos presidentes latino-americanos, entre eles o de Equador, Cuba, Nicarágua, México e Venezuela, além de Lula.
O líder da Bolívia, Evo Morales, que assiste aos debates, disse à imprensa que este deve ser "o milênio dos povos e não dos impérios" e advogou por liquidar o Fundo Monetário Internacional (FMI): "Necessitamos de instituições financeiras, mas não chantagistas".
Perante a inundação de críticas em relação a inoperância da ONU expressada por muitos países em desenvolvimento, o secretário-geral, Ban Ki-moon, se defendeu dizendo que o organismo multilateral é "indispensável" para enfrentar os problemas atuais.
"O mundo espera da ONU "liderança moral e política", ressaltou Ban, mas também pediu que reconheça a posição para enfrentar melhor as dificuldades.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lembrou em seu discurso que o "sistema financeiro global foi reformado, começando por Wall Street" e "a economia mundial voltou da beira do precipício".
"Resistimos ao protecionismo e exploramos vias para expandir o comércio e os intercâmbios entre os países", assinalou em mensagem dirigida às nações em desenvolvimento.
Na tribuna das Nações Unidas, o presidente dos EUA fez também uma homenagem ao ex-líder colombiano Álvaro Uribe. Ao destacar os progressos rumo à democracia realizada nos países emergentes, Obama fez referência a "coragem de um presidente colombiano que voluntariamente abandonou o poder".
Obama se reunirá, na sexta-feira, em Nova York, com o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que hoje anunciou à imprensa a morte do chefe militar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), conhecido como "Mono Jojoy".
"O símbolo do terror na Colômbia caiu", declarou Santos visivelmente satisfeito a um grupo de jornalistas em sua chegada à sede da ONU.
A presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, destacou o perigo que representam as organizações criminosas para as instituições e os Governos da América Central, que vazam informações no âmbito local e supõem um desafio para a segurança internacional.
A Assembleia Geral da ONU debaterá, de hoje e até 30 de setembro, com a presença de líderes de todo o mundo, os assuntos mais importantes da atualidade internacional e será palco de numerosas reuniões paralelas.
Fonte: EFE
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