terça-feira, 31 de agosto de 2010

Guerra do Iraque deixa lições para ação dos EUA no Afeganistão


Elas foram guerras diferentes em regiões diferentes e com desafios diferentes. Mas, quando os Estados Unidos anunciam o fim de suas operações de combate no Iraque, há muitas lições para as tropas aprenderem e aplicarem no Afeganistão, desde como lidar com as empresas contratadas a quando fazer a retirada.

Muitas práticas ainda precisarão ser adaptadas ao terreno afegão, rural, montanhoso e de governo descentralizado. Mas o Pentágono já mudou algumas das estratégias no país asiático espelhando-se nas experiências iraquianas --como a escolha do general David Petraeus, o herói da contrainsurgência, para comandar as tropas americanas na guerra contra o Taleban.

"Você precisa que a população acredite que será protegida", disse o general Ray Odierno, comandante das forças americanas no Iraque. "Como você faz isso no Afeganistão é provavelmente diferente de como faz no Iraque. Mas a tarefa é a mesma".

Veja algumas lições que o Iraque deixará, segundo entrevistas com analistas, diplomatas e militares.

1. TER CUIDADO COM AS EMPRESAS PRIVADAS

Em setembro de 2007, os guardas da empresa de segurança privada Blackwater Worldwide, agora Xe, abriram fogo na praça Nisoor, em Bagdá, matando 17 iraquianos. O crime foi o símbolo da onda sem controle de contratação de empresas privadas no Iraque e levou o Pentágono e o Congresso a redefinir os limites de atuação destes agentes em zonas de guerra.

Embora seja impossível manter uma guerra sem empresas contratadas, os EUA as usam desde a Segunda Guerra (1939-1945), os funcionários destas empresas (cerca de 95 mil) agiam fora da lei no Iraque. Já no Afeganistão, os 112 mil funcionários privados a serviço do governo são submetidos à lei local. Mesmo assim, o presidente afegão, Hamid Karzai, emitiu no último dia 17 um decreto para dissolver as companhias de segurança privadas em um prazo de quatro meses.

2. FORMAR PARCERIAS COM OS LOCAIS

Um dos maiores sucessos da Guerra do Iraque foi conseguir que as milícia sunitas se virassem contra a rede terrorista Al Qaeda e se aliassem as tropas americanas. Estas Sahwa foram cruciais para o sucesso da contrainsurgência em 2007 e 2008.

Petraeus tenta agora trazer esta estratégia para o Afeganistão, em parte ao formar forças policiais locais nas quais os próprios moradores se protegem contra o Taleban --normalmente em áreas onde a ameaça é menor e os soldados não podem ser "desperdiçados".

Mas desenvolve e manter esta estratégia é um desafio em ambos os lugares. No Iraque, a Al Qaeda está tentando trazer a Sahwa de volta para seu lado com pagamentos US$ 100 mensais a mais do que o oferecido pelo governo iraquiano.

No Afeganistão, críticos temem que a polícia local vai acabar sob controle dos senhores da guerra afegãos e questionam a sabedoria deles em entregar armas no meio da guerra.

3. TREINAR AS TROPAS LOCAIS

Treinar e equipar as forças iraquianas custou US$ 22 bilhões até agora e foi uma das missões centrais das tropas americanas no país. A ideia é minimizar morte de civis, assim como gastar mais tempo nas ruas e menos em postos de controle, como parte da construção da confiança entre as forças de segurança iraquianas e as comunidades que elas protegem.

Os comandantes americanos no Afeganistão seguem a mesma tática, embora o foco não estivesse na reconstrução das forças locais até cerca de um ano atrás.

Eles estão tentando recrutar pashtuns para chegar a um equilíbrio com a maioria tajiks nas forças de segurança. Esta é uma tática cuidadosa para evitar o erro americano no Iraque com a política de proibição do Partido Baath, aliado de Saddam Hussein, que forçou milhares de soldados sunitas a abandonar as forças iraquianas.

4. CUMPRIR O CRONOGRAMA

No Iraque, os EUA defenderam planos para a retirada em 2003 e 2006, mas acabaram desistindo diante dos temores de que o país não estivesse pronto. a mudança do cronograma mostrou que os EUa prezavam acima de tudo o compromisso com os iraquianos e ajudou a persuadir os líderes das tribos sunitas a romper laços com os insurgentes.

Se os prazos para retirada são muito antecipados, os insurgentes sabem que pode aguardar sua saída para voltar a atacar e as forças locais dificilmente estão preparadas para lidar com a situação.

5. TRATAR OS PRISIONEIROS COMO SERES HUMANOS

Um dos grandes fracassos no Iraque, que feriu gravemente a imagem dos EUA no mundo, foram as fotos dos soldados americanos abusando moralmente e fisicamente dos detentos da prisão de Abu Ghraib. Imagens de prisioneiros amontoados, aterrorizados por cachorros, nus, com capuzes na cabeça alimentaram a campanha dos insurgentes contra os americanos e por novos membros.

Desde então, os EUA proibiram o suo de técnicas duras de interrogatório, como o afogamento simulado, e expandiram direitos legais para os prisioneiros em prisões militares no Iraque e no Afeganistão.

6. DESTACAR MAIS SOLDADOS

Os EUA têm três vezes mais forças no Afeganistão, quase 100 mil, do que no começo de 2009. É claro para a maioria dos analistas que ambas as guerras deveriam ter sido disputadas desde o começo. Não foi até o reforço de 2007 no Iraque, subindo de 137 mil tropas para 166.300 em dez meses, que a guerra finalmente ficou favorável aos EUA.

7. MANTER AS EXPECTATIVAS BAIXAS

O então presidente George W. Bush sofreu um duro golpe em 2003, quando, sob um banner com a frase "Missão cumprida", decretou o fim dos combates no Iraque. Mais de sete anos depois, Barack Obama espera cumprir esta meta a partir desta quarta-feira (1º).

A estratégia de Petraeus é sempre diminuir as expectativas, enfatizando as dificuldades das operações, para que fique mais fácil falar em sucessos.

No Afeganistão, a administração Obama evita a todo custo usar o termo "ganhar a guerra", demonstrando que, nove anos depois, ainda há muita insegurança sobre o que pode ser feito e o que pode ser considerado uma vitória.

Fonte: Associated Press
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