sábado, 7 de agosto de 2010

Crise entre Bogotá e Caracas ofusca acordos entre Brasil e Venezuela


A crise entre Colômbia e Venezuela deixou em segundo plano hoje a assinatura de 27 acordos de cooperação entre os Governos brasileiro e venezuelano durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Caracas.

Lula e seu colega venezuelano, Hugo Chávez, cumpriram pela décima vez o compromisso de se reunir trimestralmente para rever as relações bilaterais. Nesta ocasião, o interesse pelo encontro recaiu no possível papel mediador de Lula na crise entre Bogotá e Caracas.

No final da reunião, Chávez disse que Lula "leva uma missão" para Bogotá, para onde vai ainda hoje para comparecer à posse de Juan Manuel Santos, neste sábado, na Presidência da Colômbia.

"Lula leva uma missão da qual falamos bastante com o secretário da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Néstor Kirchner, mas disso não falaremos hoje. Falaremos amanhã e depois de amanhã. Estamos muito otimistas", afirmou Chávez.

Embora o governante venezuelano não tenha sido explícito quanto ao conteúdo da "missão", a expectativa é de que Lula e Kirchner atuem como mediadores entre Caracas e Bogotá diante do novo Governo colombiano.

Kirchner e Lula comparecerão amanhã à posse de Juan Manuel Santos como presidente da Colômbia. A Venezuela será representada na cerimônia por seu ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro.

Kirchner participou hoje com Lula e Chávez de uma reunião da Mesa Presidencial Estratégica e Secretaria-Geral da Cúpula de Países da América do Sul e África (ASA).

Segundo o secretário-geral da Unasul, a crise entre Colômbia e Venezuela também foi abordada no encontro porque sua função no cargo é "é contribuir para o reencontro de duas nações irmãs".

Kirchner ressaltou, no entanto, que é preciso tomar "o tempo necessário para que estas coisas comecem a desaparecer da vida latino-americana e possamos retomar a convivência de dois grandes povos como Colômbia e Venezuela".

Na reunião da ASA, Chávez já tinha pedido a Lula, sem relação com a "missão" posterior, para que cumprimente Juan Manuel Santos em seu nome.

"Te peço que leve uma saudação ao novo presidente da Colômbia", disse Chávez a Lula.

Apesar da aparente aproximação ao futuro Governo do país vizinho, Chávez disse que "entre nós há aqueles que atrapalham", em alusão ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, que deixa o cargo amanhã.

A Venezuela rompeu relações com o Governo Uribe em 22 de julho depois das denúncias de Bogotá na Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a suposta presença de guerrilheiros colombianos em território venezuelano.

Ao comentar as relações entre Brasil e Venezuela, Lula disse que nos oito anos que ocupou a Presidência foi feito mais "que nos cinco séculos anteriores".

Os 27 acordos assinados hoje abrangem áreas como a agrícola, finanças públicas, projetos sociais, relações fronteiriças e tecnologia.

Os dois presidentes destacaram a iniciativa para estabelecer um polo de desenvolvimento que vincule o sul da Venezuela com o estado de Roraima, levando em conta que são áreas contíguas.

Também houve acordos para criar empresas de processamento de alimentos e foi dado o primeiro passo para instalar um sistema de acesso ao crédito similar ao Bolsa Família.

Ao falar do potencial das relações com a Venezuela e com a América do Sul de forma geral, Lula disse que a gestão dos políticos seria mais bem-sucedida se fossem capazes de ver o óbvio.

Segundo o presidente brasileiro, durante décadas, a América do Sul voltou seus olhos para o norte e que só recentemente percebeu que o óbvio é que seu futuro está em sua própria realidade.

Nessa linha, Lula disse que os acordos assinados com a Venezuela são "mais um pedacinho" desse vínculo que une todas as nações sul-americanas.

Chávez lembrou que esta será, possivelmente, a última visita de Lula a Caracas como presidente e se despediu do presidente brasileiro com um abraço.

"É possível que seja tua última visita como presidente à Venezuela. Quanto te devemos, Lula! Obrigado de coração", disse Chávez.

Fonte: EFE
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