quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Brasil e Argentina reforçam laço nuclear e negam divergências sobre Irã


Brasil e Argentina, os países latino-americanos com maior desenvolvimento de tecnologia nuclear, ratificaram hoje sua decisão de aprofundar a cooperação nesse campo, enquanto negaram que a questão do Irã seja motivo de divergências internas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua colega da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, assinaram uma declaração que reforça seus laços de cooperação em matéria de uso de energia atômica com fins pacíficos, após um encontro bilateral na Cúpula do Mercosul.

"O desenvolvimento nuclear deve ser de comum acordo e avançar em um mesmo sentido", disse Cristina em entrevista coletiva após o encontro com Lula, na cidade argentina de San Juan.

A governante argentina anunciou que voltará a se reunir com Lula em agosto, em Buenos Aires, para aprofundar sobre este campo de cooperação, o que poderia dar passagem a uma ampla integração das indústrias nucleares dos dois países, que, embora com graus de desenvolvimento díspar, são líderes regionais no uso desta tecnologia com fins pacíficos.

Argentina e Brasil têm perfis diferentes quanto à potência instalada de suas usinas nucleares, embora contem com possibilidades de convergir em outros campos de aplicação da tecnologia nuclear com fins pacíficos, como a medicina.

O Brasil importava do Canadá Molibdênio-99 - um isótopo - até que teve problemas com esse fornecedor e descobriu que a Argentina o produzia, país de onde começou a comprar e agora está interessado em adquirir a tecnologia argentina para processá-lo.

A Argentina, por sua parte, esta interessada em reconverter seu reator Carem, desenvolvido há três décadas - e que já exportou à Argélia, Austrália e Peru, entre outros países -, para empregá-lo como força motriz em navios de superfície.

A cooperação bilateral neste campo se iniciou em 1986 com a assinatura de um acordo de confiança e mútuo controle no uso da tecnologia nuclear, que foi ratificado em 1991 quando as duas nações renunciaram publicamente a fabricar armas nucleares.

Fontes diplomáticas disseram à Agência Efe que a declaração assinada hoje "desativa qualquer suspeita" sobre a relação entre Brasil e Irã, país ao qual a Argentina reivindica a extradição de nove envolvidos no atentado de 1994 em Buenos Aires que matou 85 pessoas.

Em maio, Brasil, Irã e Turquia assinaram uma declaração que acertou as bases para que as autoridades iranianas entreguem ao Governo turco 1,2 tonelada de urânio enriquecido a 3,5%, para recuperar um ano depois 20 quilogramas de urânio a 20%.

Lula, que hoje justificou este capítulo dizendo que o único objetivo de sua gestão foi fazer o Irã voltar à mesa de negociações, aproveitou a Cúpula do Mercosul para reprovar as grandes potências por aplicar sanções a Teerã como castigo por sua política nuclear.

O presidente afirmou que os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, França, Reino Unido, China e Rússia) "deveriam falar com o Irã", porque é necessário dialogar para alcançar a paz.

"O que mais me incomodou é que o documento que nós (Brasil e Turquia) assinamos com (o presidente iraniano) Mahmoud Ahmadinejad reproduzia fielmente, exatamente, os termos que (o líder americano Barak) Obama me disse que teríamos de conseguir, e conseguimos", afirmou.

Perguntada sobre possíveis reparos da Argentina pela relação entre Brasil e Irã, Cristina afirmou que seu Governo tem por política "não confundir" a questão nuclear do Irã com a "firme exigência de Justiça" pelo atentado de 1994.

"A primeira condição é não misturar as coisas e não perguntar a nossos amigos com quem se reúnem quando não estão conosco", disse a governante, que comentou que "além das diferenças", a "ninguém pode criticar alguém por interceder para a resolução do conflito" com o Irã.

Além disso, Cristina reivindicou o direito dos países a desenvolver suas atividades nucleares com usos pacíficos, e questionou a política de 'dois pesos e duas medidas' das nações que reivindicam ações de não-proliferação nuclear e não se comprometem a reduzir seus próprios arsenais.

Fonte: EFE
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