segunda-feira, 12 de julho de 2010

Educação, ciências e o futuro do Bric


Foi notícia no Estadão: a produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia e pode superar também a da Índia, consolidando-se como a segunda maior no Bric (grupo de economias emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia e China). Em produção científica no bloco, em relativamente pouco tempo, o Brasil ficará atrás apenas da China, segundo levantamento da divisão de pesquisas da Agência Thomson Reuters, que analisou as 10.500 mais importantes revistas científicas do mundo.

A notícia, sem dúvida, merece celebração, mas também dá margem a ponderações. Primeiro, a celebração. A produção científica brasileira deu salto de 3.665 para 30.021 artigos publicados entre 1990 e 2008, aponta a pesquisa. No mesmo período, a produção russa, considerada por muito tempo uma das mais avançadas do mundo, permaneceu estável, com 27.603 artigos em 1990 e 27.605 em 2008. O avanço brasileiro impressiona e, mantido esse ritmo de crescimento na produção científica em todos os países do bloco, o Brasil poderá superar a Índia nos próximos anos. Trata-se de um ótimo indicador do desenvolvimento do País.

Outro indicador positivo: segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil está investindo em 2010 o equivalente a 1,5% do produto interno bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, o maior nível de investimento dos últimos 11 anos nesse setor.

Agora, as ponderações. Se, por um lado, é positivo o fato de o Brasil se destacar em produção científica no Bric e aumentar investimentos na área, por outro, convém observar que o País ainda não é um player de primeira linha nesse campo. A média brasileira de 0,92 pesquisador por grupo de mil trabalhadores está muito abaixo da média de 6 a 8 do G-7, o seleto clube dos países mais industrializados. Dentro do próprio Bric, o Brasil ainda perde para a China. O levantamento da Reuters indica que a produção científica chinesa saltou de 8.581 artigos em 1990 para 112.318 em 2008! Também cabe lembrar que o Brasil ainda forma menos doutores que os colegas de Bric, Índia, Rússia e China.

É evidente que nenhum membro do Bric quer ficar para trás, seja em relação aos parceiros do bloco ou às demais nações. Assim é que a educação vem conquistando cada vez maior espaço na agenda governamental desses países. E não necessariamente a educação superior, a maior responsável pela produção científica, mas, sobretudo, a fundamental, onde tudo começa. Para a maioria dos integrantes do Bric, o gargalo está justamente nos primeiros anos escolares.

A China, por exemplo, acaba de aprovar seu Plano Nacional de Desenvolvimento e Reforma Educacional de Médio e Longo Prazo (2010-2020), que estabelece, entre outras metas, chegar a 2012 investindo 4% do PIB em educação (em 2008 essa média era de 3,48% e no Brasil já supera os 4%). O plano também prevê qualidade em educação como “política fundamental”, acompanhada de mais recursos para áreas carentes. As reformas no país comunista pretendem estimular até organizações privadas e indivíduos a desempenhar maior papel no sistema educacional. Na China, como se sabe, as decisões políticas do poder central são efetivamente cumpridas.

Na Índia, a Lei do Direito à Educação, recém-promulgada, inclui o país no grupo das 135 nações onde a educação fundamental gratuita e compulsória tem garantias legais. Espera-se que a iniciativa alavanque a formação das crianças indianas, uma vez que milhões delas ainda não têm acesso a uma educação adequada. O Ministério do Desenvolvimento indiano, que engloba o Departamento de Educação e Alfabetização, deflagrou processo de consulta pública para desenhar um modelo de parceria público-privada para a área educacional. Disposto também a garantir equidade e inclusão, lançou no final de 2009 o Programa Saakshar Bharat, que prevê a alfabetização de 70 milhões de indianos, 60 milhões deles mulheres.

A Rússia, por sua vez, apesar do elevado nível educacional de expressiva parcela de sua população (a taxa de alfabetização no país é de 99%, segundo a ONU), está preocupada com a qualidade de seus professores. No início deste ano, reunião do conselho do Ministério da Educação e da Ciência russo debateu questões como o nível das aulas, ações para atrair jovens para o magistério (só de 8% a 12% dos professores têm menos de 30 anos de idade no país) e a capacitação dos docentes em geral. O governo está disposto a elevar o nível de seus educadores para lidar com os novos padrões que o ensino russo vem adotando desde o Plano Nacional de Prioridades para a Educação, de 2006, o qual inclui, entre suas prioridades, a inovação e a modernização na formação dos estudantes daquele país.

É a partir de ações fundamentais, esboçadas em planos e metas, que os países do Bric esperam elevar seu padrão educacional e se tornar mais competitivos entre si e na arena global. Afinal, as disparidades persistem dentro e fora do bloco.

Nessa corrida contra o relógio para lançar a educação a patamares desejáveis no século 21 e incrementar a produção científica, o Brasil já deu a largada, como o comprova a pesquisa da Reuters, graças à implementação de programas de incentivo à educação. Agora o País necessitará de novo fôlego, ou seja, uma política consistente e sustentável, acima dos interesses partidários momentâneos, para alcançar e se manter entre os primeiros lugares. É preciso também que a proposta de uma política de Estado para a ciência e a tecnologia, a principal proposta da 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília no final de maio, se concretize e estimule o mesmo para a área de educação. Com isso o Brasil garantirá mais facilmente o tal almejado espaço entre as grandes potências do planeta.



Fonte: Estadão via Plano Brasil
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