sexta-feira, 9 de julho de 2010
Dez russos deixam EUA para troca de espiões com a Rússia
Os dez russos detidos nos Estados Unidos por espionagem chegaram em Viena, na Áustria, nesta sexta-feira para a troca por quatro espiões condenados pela Rússia, no maior acordo do tipo desde a Guerra Fria.
O FBI (Polícia Federal americana) prendeu nesta semana os dez russos acusados de manter identidades falsas nos EUA para se aproximar de fontes políticas e obter informações críticas sob ordem do governo russo. O 11º suspeito está foragido, após pagar fiança e ser libertado no Chipre.
A Rússia negou vigorosamente saber da rede de espionagem, um grupo que seria denominado "ilegais" por Moscou. Depois, admitiu que alguns dos suspeitos eram efetivamente russos e os dois países passaram a declarar que o caso não afetaria as recém-retomadas relações diplomáticas. Por precaução, os dois países enterraram o assunto com a troca --feita com poucas declarações oficiais.
Os espiões viajaram em um Boeing 767-200 fretado pelas autoridades russas e decolaram do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, às 22h desta quinta-feira (23h em Brasília). Eles pousaram em Viena, em uma pista pouco utilizada do aeroporto.
Em minutos, estavam atrás do Yakovlev Yak-42, avião do Ministério de Emergências russo, que levaria a bordo os quatro russos presos por suposto contato com agências de inteligência ocidentais.
Antes da viagem, os EUA e a Rússia ganharam confissões dos réus --admissão de culpa dos dez russos em corte de NY e confissões assinadas dos quatro russos na Rússia.
O presidente russo Dmitri Medvedev assinou um decreto libertando Igor Soutiaguine, Alexander Zaporojski, Guennadi Vassilenko e Sergueï Skripan, detalhou sua porta-voz Natalia Timakova.
ESPIÕES
Todos os dez presos nos EUA foram acusados de conspirar para agir como agentes secretos, e nove foram acusados também de conspiração para cometer lavagem de dinheiro.
Após terem se declarado culpados nesta quinta-feira, o tribunal condenou cada um dos suspeitos a um tempo de pena já cumprido --cerca de dez dias desde a prisão do grupo. Outras acusações, de lavagem de dinheiro, foram arquivadas.
Um dos advogados de defesa disse que os acordos para confissão foram aprovados por autoridades do governo russo.
Autoridades russas prometeram a uma das suspeitas, a jornalista peruana Vicky Peláez, que ao chegar na Rússia ela pode decidir aonde quer ir, com um pagamento mensal vitalício de US$ 2.000, mais vistos para seus filhos, informou à corte o advogado de Peláez.
As 11 pessoas suspeitas de espionar para a Rússia foram formalmente acusadas em uma acusação federal divulgada nesta quarta-feira, mais de uma semana após o FBI (polícia federal americana) anunciar a prisão delas.
JOGO DE INTERESSES
Os Estados Unidos indicaram nesta quinta-feira que a troca de espiões com a Rússia foi decidida por razões de "segurança nacional" e humanitária, destacando que a prisão de dez agentes secretos russos não significa uma guerra de interesses estratégicos.
"Decidimos adotar uma resolução rápida e global por razões de segurança nacional e humanitária", declarou o porta-voz do Departamento de Estado Mark Toner.
"A prisão prolongada nos Estados Unidos destes dez agentes ilegais não contribuiria em nada em termos de segurança nacional."
Esse tipo de troca não é inédito, mas lembra os tempos da Guerra Fria, quando EUA e a ex-União Soviética eram arqui-inimigos competindo para dominar o mundo.
A troca ajudou a pôr fim a um escândalo que ameaçou estremecer as relações entre os dois países. Tanto o Kremlin quanto a Casa Branca tentaram evitar que as prisões afetassem as relações bilaterais, que vem melhorando após crises após a guerra da Rússia contra a Geórgia, em 2008.
Barack Obama, que recebeu o presidente russo na Casa Branca no mês passado, precisa da ajuda de Moscou para conter o programa nuclear iraniano e manter abertas as linhas de abastecimento para a guerra no Afeganistão. A Rússia quer o apoio americano para conseguir entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC).
ESPIÕES
As autoridades americanas revelaram ter descoberto o esquema de espionagem da Rússia em solo americano e a prisão de dez dos onze indiciados apenas horas depois do presidente russo, Dmitri Medvedev, encerrar uma visita aos EUA.
O FBI afirmou que os agentes infiltrados adotaram identidades americanas para conseguir entrar em Think Tanks e agências do governo americano.
Os acusados teriam coletado informações desde programas de pesquisa de pequena produção, ogivas nucleares de alta penetração e o mercado mundial de ouro, tentando obter informações sobre pessoas que se poderiam se candidatar a vagas na CIA, segundo registros na corte.
Em 2009, Moscou teria pedido a dois dos agentes informações sobre a viagem de Obama à Rússia, programada para breve. Foram pedidas mais informações sobre a situação das negociações do tratado de redução de armas Start, bem como Afeganistão e a posição de Washington em relação ao programa nuclear do Irã, segundo os documentos.
Fonte: Folha
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