segunda-feira, 26 de julho de 2010

Brasil e Turquia insistem em solução pacífica para polêmica nuclear iraniana


Turquia e Brasil renovaram hoje seu compromisso com o Irã em busca de uma solução "pela via pacífica" à polêmica entre a República Islâmica e seu programa nuclear e a comunidade internacional.

"Tanto a Turquia quanto o Brasil continuaremos fazendo todo tipo de esforços para solucionar este problema por meios diplomáticos", afirmou o ministro de Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, depois de se reunir em Istambul com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, informou a agência de notícias turca "Anadolu".

Em entrevista coletiva, sem a participação do ministro iraniano, Amorim e Davutoglu asseguraram estar trabalhando para "preparar o terreno" para as negociações entre o Irã e o P5+1, grupo formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha.

Segundo ele, o ministro de Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, comunicou que Teerã está disposta a reunir-se com o P5+1 após o Ramadã (mês em que os muçulmanos jejuam), "provavelmente na segunda semana de setembro".

Além disso, acrescentaram que o Irã enviará amanhã um comunicado à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) na qual mostrará sua "disposição" para tentar iniciar "negociações técnicas" com o Grupo de Viena (Estados Unidos, Rússia, França e a AIEA).

Na carta, Teerã responderá a várias dúvidas sobre a proposta iraniana patrocinada por Brasil e Turquia para solucionar a polêmica sobre seu programa nuclear, acrescentou o ministro turco.

Os Governos de Ancara e Brasília pediram uma chance para o Acordo de Teerã, assinado por Brasil, Turquia e Irã em maio.

O acordo contempla que o Irã envie a um terceiro país 1.200 quilogramas de urânio pouco enriquecido através da Turquia, que serão devolvidos como 120 quilogramas enriquecidos a 20%, para ser utilizado em reator científico em Teerã.

Além disso, Davutoglu afirmou que a próxima reunião entre a alta representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Catherine Ashton, e o negociador iraniano para o tema nuclear, Saeed Jalili, "chega tarde", mas afirmou que a Turquia está disposta a colaborar para que o encontro seja produtivo.

Mesmo assim, o ministro turco explicou que, depois de se reunir com Catherine e Jalili na recente Conferência de Cabul, pôde certificar que há um "bom ambiente" e que o momento deve ser "aproveitado".

A UE anunciou que na segunda-feira adotará as sanções contra o Irã, que poderiam tocar setores-chave do país, como o de energia.

Turquia e Brasil, como membros não-permanentes, votaram contra o endurecimento das sanções pelo Conselho de Segurança da ONU em junho.

A República Islâmica já foi submetida a quatro rodadas de sanções internacionais, por causa das preocupações de que seu programa nuclear civil oculte uma vertente militar.

"Somos contra a proliferação de armas nucleares, mas, ao mesmo tempo, acreditamos que existe o direito de cada país a desenvolver tecnologia nuclear com fins pacíficos e em colaboração com a AIEA", reiterou hoje Davutoglu.

O Irã, por sua parte, reagiu duramente à nova rodada de sanções e ameaçou adotar represálias nas relações comerciais com os países que as aplicarem.

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, advertiu hoje que o Irã responderá com contundência aos países que atuarem contra seu país, no que qualificou como "o novo roteiro dos EUA contra Teerã".

"Consideramos inimigo do povo iraniano qualquer país que participar do roteiro dos EUA contra o Irã e responderemos de forma categórica", afirmou Ahmadinejad, em declarações citadas pela agência "Fars".

O presidente iraniano assegurou que "qualquer país que adotar medidas contra o Irã ou tentar, por exemplo, inspecionar os navios iranianos, receberá imediatamente represálias por parte de Teerã".

Ahmadinejad destacou que os EUA tentam obrigá-los a frear seu programa nuclear, acusando Teerã de tentar fabricar uma bomba atômica, apenas um dia depois de as autoridades iranianas anunciarem um "projeto nacional de fusão nuclear".

O novo projeto, apresentado pelo diretor da Organização da Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, incluirá a construção de um novo reator e conta com um orçamento de US$ 8 milhões.

Até o momento, sabia-se apenas que o Irã tinha empreendido pesquisas básicas sobre o processo de fusão.

Fonte: EFE
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