segunda-feira, 28 de junho de 2010

Irã: negociação só no fim de agosto e com participação de Brasil e Turquia


O Irã não retomará antes de agosto as negociações com as grandes potências sobre seu programa nuclear com o objetivo de dar uma lição aos ocidentais como se deve falar com as outras nações, afirmou nesta segunda-feira o presidente Mahmud Ahmadinejad, que também pediu a presença do Brasil e da Turquia nessas conversações.

"Nós atrasaremos as negociações em razão da má conduta e da adoção da nova resolução (do Conselho de Segurança da ONU sancionado o Irã)", informou Ahmadinejad em resposta a uma questão feita durante uma coletiva de imprensa.

"Não haverá negociação antes do fim do mês (iraniano) de Mordad (equivalente ao dia 22 de agosto), no meio do Ramadã. É a multa que eles devem pagar para aprender a ter educação na hora de falar com as outras nações", acrescentou o presidente iraniano em uma alusão às sanções votadas no dia 9 de junho pelo Conselho de Segurança da ONU contra o Irã, quando foi acusado de falta de transparência e cooperação em seu polêmico programa nuclear.

Ahmadinejad ainda afirmou que as discussões entre o Irã e as grandes potências do "grupo de Viena" (Estados Unidos, Rússia e França sob patrocínio da Agência Internacional de Energia Atômica) sobre uma eventual troca de combustível nuclear deverá compreender o Brasil e a Turquia.

"Nós estamos prontos para negociar uma troca de combustível com base na declaração de Teerã", assinado em maio pelo Irã, pela Turquia e pelo Brasil, afirmou. Mas "se de um lado estão Rússia, França e Estados Unidos, o Irã irá junto da Turquia e do Brasil".

"A composição das negociações devem mudar", bem como as discussões com o grupo dos Seis (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha), principal interlocutor de Teerã até o momento sobre a questão nuclear, afirmou.

"Quem disse que só os países do grupo 5+1 devem participar das negociações? Outros países também devem estar presentes", afirmou.

Ahmadinejad colocou como outra condição à retomada dos debates nucleares o posicionamento claro das grandes potências "sobre as armas nucleares que possuem o regime sionista".

Eles devem também "dizer claramente qual é o objetivo das negociações", acrescentou.

O presidente iraniano anunciou na semana passada que ele estipularia durante essa coletiva de imprensa "as condições da República Islâmica para negociar com os países que votaram a resolução contra o Irã".

Ahmadinejad igualmente rejeitou as acusações do chefe da CIA, Leon Panetta, que disse que o Irã poderia ter armas nucleares até 2012, reafirmando que Teerã não procura se equipar com tais armas e era "firmemente a favor do desarmamento".

"Nós deixamos explícito que a arma nuclear é boa para os Estados politicamente retardados e que sofrem com a falta de lógica", declarou.

"A acumulação de armas atômicas é a coisa mais estúpida da atualidade", concluiu.

Mais cedo, o Irã acusou a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos de realizar uma "guerra psicológica" depois das declarações de seu chefe, Leon Panetta, e assegurou que a CIA sabe que o programa nuclear da República Islâmica não tem objetivos militares.

"Este tipo de declaração faz parte de uma guerra psicológica lançada para dar uma visão negativa das atividades nucleares pacíficas do Irã", declarou o porta-voz da diplomacia iraniana, Ramin Mehmanparast, citado pela agência oficial Irna.

"Os dirigentes americanos e, em particular seus serviços de inteligência, sabem melhor do que ninguém que o programa iraniano não é, de maneira alguma, militar", acrescentou.

Em entrevista ao canal ABC, Panetta alertou que o Irã teria capacidade para fabricar "duas armas nucleares" até 2012.

"Achamos que têm urânio levemente enriquecido suficiente para duas armas (nucleares)", explicou.

Fonte: AFP
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