Vamos conhecer um pouco sobre o Irã, atual foco da atenção mundial devido ao seu polêmico programa nuclear e entender um pouco o histórico de atrito entre este país e os EUA.
O Irã possui a terceira maior reserva de petróleo do mundo, tornando-se assim um país muito rico. Hoje o Irã esta sob a desconfiança mundial que paira sobre seu programa nuclear, programa este que é propagado por seus líderes como tendo fins pacíficos, embora muitos especialistas nas questões do Oriente Médio afirmem que há no fundo a intenção de obter uma bomba atômica.
Se olharmos do ponto de vista estratégico, o Irã encontra-se em uma situação muito delicada e de risco a sua soberania, o que por si justificaria tal intento. Vejamos algumas possíveis justificativas para tal atitude de Teerã em obter tal armamento:
Olhando para o mapa acima podemos notar a desconfortável posição do Irã, pois tem como vizinho o Iraque, atualmente ocupado pelos EUA seu maior opositor e principal interessado em obter controle ou influência sobre as reservas de petróleo mundiais, como ficou evidente na invasão do Iraque sob o pretexto de que o mesmo possuía armas de destruição em massa e que o mesmo apoiava o terrorismo internacional. Em seu outro extremo existe a fronteira com outra nação sob ocupação dos EUA, o Afeganistão.
Ainda há a existência de potências nucleares próximas, como o Paquistão e Índia, embora estes não representem uma ameaça real, mas há também o Estado de Israel, que detém um arsenal nuclear com números e capacidades desconhecidas, e que obviamente não pensaria duas vezes em lançar uma de suas armas em caso de conflito com Teerã.
Outro fator que também é preocupante ao governo Iraniano é o fato dos gigantes como China e Rússia, também estarem ávidos por expandir sua zona de influência. Ou seja, o Irã hoje se encontra em uma situação estrategicamente vulnerável.
Conhecendo um pouco da história política do Irã
No dia 1º de maio de 1951, o Majles, o parlamento iraniano, por ensejo de Mossadegh, aprovara a nacionalização do petróleo. A Anglo-iranian, a grande empresa inglesa, viu-se, do dia para a noite, excluída do país onde reinava como um estado a parte desde o remoto ano de 1908. O mundo do após-guerra, especialmente nas regiões do Terceiro Mundo, começava a ser sacudido por uma maré nacionalista, onde os povos colonizados ou semi colonizados, como era o caso dos iranianos, em busca da sua autonomia política e econômica, erguiam sua fúria contra as poderosas corporações estrangeiras que detinham, historicamente, concessões vantajosas consideradas absolutamente escandalosas.
Mas no ano seguinte, em 1952, o cenário político nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha alterou-se. Os conservadores, liderados por Winston Churchill, venceram as eleições na Inglaterra, enquanto que na América elegia-se o general Dwight Eisenhower, candidato dos republicanos. Afinados ideologicamente, os conservadores ingleses e os republicanos americanos de imediato articularam uma solução em conjunto para intervir no Irã. O modelo de golpe que adotaram foi um sucesso, pois o repetiram em várias oportunidades desde então.
O problema meditaram, não era Mossadegh em si, mas o mau exemplo da sua política. Se as grandes potências ricas nada fizessem uma onda de desapropriações e nacionalizações varreriam a presença dos seus interesses em boa parte do mundo.
Além disso, vivia-se naqueles anos na plenitude da guerra fria. Na equação de John Foster Dulles, poderosíssimo secretário de Estado do governo Eisenhower, o nacionalismo do Terceiro Mundo era igual ao comunismo. Ou seu aliado tático contra as nações capitalistas. No estreito mundo de então, separado pelo maniqueísmo do bem o mal, qualquer prejuízo que as corporações ocidentais pudessem sofrer pelo avanço da política nacionalista dos lideres do Terceiro Mundo implicava num enfraquecimento frente à URSS. Para Dulles, o nacionalismo de Mossadegh conduziria o Irã fatalmente para os braços de Moscou. Portanto, ao contrário dos americanos do partido democrata, em geral anticolonialistas, os republicanos equipararam o nacionalismo do Terceiro Mundo a um inimigo tão nocivo como o comunismo.
Em princípios de junho de 1953, um agente da CIA (Agência Central de Inteligência) transpôs clandestinamente a fronteira iraquiana-iraniana. Tratava-se de Kermit Roosevelt, neto do ex-presidente Theodor Roosevelt, o criador do Big stick, a política de aplicar o porrete em favor dos interesses americanos no mundo. A missão dele, a mando do secretário de Estado John F. Dulles, era convencer o Xá Reza Pahlevi a se desfazer do "inconveniente" primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, líder do Movimento Nacional Iraniano. Tinha início a Operação Ajax, coordenada pelo agente Donald Wilber e por Norman Darbyshire, o braço do serviço secreto britânico no Irã, uma das mais célebres e bem-sucedidas ações clandestinas da agência norte-americana e do M-16 britânico, deflagrada para reverter uma situação crítica aos interesses anglo-americanos no Irã.
Em finais de agosto de 1953, tudo voltara à tranqüilidade anterior. O Xá Reza Pahlevi recuperou seus plenos poderes, assumindo o papel de títere dos interesses anglo-americanos no Irã, enquanto que estes, vitoriosos, formaram um consórcio para continuar explorando o petróleo iraniano. A Anglo-iranian ainda preservou 40%; tendo que ceder à Shell 14%, e às demais outras cinco empresas norte-americanas 8% para cada. O sucesso dessa operação foi o sinal da grande contra-ofensiva antinacionalista desencadeada pelo Departamento de Estado e pela CIA, controladas pelos irmãos Dulles, John & Allan, que criou o clima para a derrubada de Jacobo Arbens na Guatemala (em julho de 1954), para o suicídio de Vargas (em agosto de 1954), no Brasil, e pelo violento golpe militar contra Juan Domingo Perón, na Argentina, em setembro de 1955.
Visto à distância, a Operação Ajax foi uma vitória de Pirro. Um desastre político de grandes dimensões. Ao abortarem um legítimo movimento de emancipação nacional, como foi o liderado por Mossadegh - que afinal tinha uma proposta de livrar-se do colonialismo sem recorrer à violência -, a política anglo-americana proporcionou, naturalmente que sem o desejar, que, anos depois, das entranhas da antiquíssima sociedade iraniana, nascesse um anacrônico movimento teocrático-medieval antiocidental, movimento que se consolidou a partir da Revolução Xiita de 1979 - o atual regime teocrático-sacerdotal que manda no Irã. Se os anglo-americanos tivessem aceitado e se conformado com Mossadegh (escolhido, recentemente, pelos iranianos como o Homem do Século), o Irã teria hoje um regime secular no poder. Provavelmente já estaria devidamente integrado na globalização e não dominado pelos fundamentalistas seguidores do aiatolá Kohmeini, unidos no seu ódio ao Ocidente e tudo o mais que representa a modernidade.
Os EUA e Ingleses ao financiar o golpe de 1953 para derrubar o nacionalismo iraniano em favor de suas ambições, criaram um vácuo como vimos e que abriram espaço assim para a atual configuração teocrática do governo de Teerã.
Outro fato que é de importante relevância é que em 1980 o Iraque buscava obter uma bomba atômica para equilibrar novamente a balança de força, que até ali pendia em favor de Israel, que desenvolvera sua capacidade de dissuasão nuclear , e construirá um reator em Osirak, tendo sido este projeto apoiado á época pelo Brasil. Mas o governo de Israel efetuou em 1981 um ataque as pretensões iraquianas, dando inicio ao que se chama hoje de ataque preventivo. O mesmo argumento usado em 2003 para que Bush invadisse o Iraque, dizendo que o motivo era a ameaça que o Iraque representava, quando o real intento era se apossar do petróleo.
Cenário Atual
Agora que conhecemos um pouco o histórico geopolítico a cerca do Irã, podemos discutir um pouco a respeito da posição adotada hoje pelo Irã sobre seu programa nuclear e suas intenções.
A principal acusação que recai sobre o Irã é o fato do mesmo estar enriquecendo o urânio á 20%, e a mídia vem pregando erroneamente que o mesmo pode ser destinado a utilização militar, o que é um engano, pois o urânio a 20% destina-se a utilização em pesquisas médicas, enquanto para se obter uma bomba atômica é necessário que este mesmo urânio seja enriquecido acima de 90%, tecnologia que Teerã ainda não possui, e não há possibilidades de desenvolver a curto prazo como veicula a mídia manipulada pelos interesses escusos de serviços de inteligência que usam como arma a informação-contra informação.
O Brasil hoje entra neste cenário geopolítico como mediador nesta questão tão importante e que se encontrava em um impasse, até que o Lula conseguiu convencer o Irã a aceitar os termos do acordo proposto pela AIEA e os EUA.
O Itamaraty conhece bem todo o contexto o qual estamos nos inserindo e não está pisando em terreno desconhecido como procura afirmar a grande mídia e representantes dos EUA, o Brasil tem conhecimento de que o Irã esconde suas intenções a respeito da bomba atômica, mas reconhece que tal fato é uma necessidade para preservar sua soberania, o que não vem a ser nenhum crime, afinal visa equilibrar o tabuleiro geopolítico no atual cenário.
Tal fator preocupa tanto Israel quanto os EUA, devido a um simples fato, a posse de um arsenal nuclear dará a Teerã a capacidade de dizer não e possuir voz ativa nas questões que envolvem o Oriente Médio, e principalmente, podem jogar água nos planos e atos que Israel, pois o equilíbrio nuclear forçaria tais países a manterem a paz e o dialogo, como exemplo disto podemos citar a Índia e o Paquistão, que não se atacam hoje devido ao fato de ambos possuírem em seus inventários um considerável arsenal nuclear. Ou seja, possuir armas nucleares não significa que vão utilizá-las, pois são um instrumento a ser usado apenas nas mesas de negociação. E eu defendo tal ferramenta, pois até hoje nenhuma nação detentora de armas nucleares utilizou-se delas, exceto os EUA durante a 2ªGM.
Hoje nos encontramos numa rápida transição para a multipolaridade, onde novos atores estão em ascensão na cena mundial, com grande destaque para o Brasil, o Itamaraty nunca teve tamanha importância, e a política externa brasileira nunca foi tão autônoma como é hoje sob o governo Lula, que embora muitos possam criticar vem tido grande sucesso em projetar o nosso país no cenário mundial, seja como potência comercial ou política, exercendo o peso que se espera de uma nação grandiosa como a nossa, que até então vivia subserviente aos interesses americanos.
Autor: Angelo D. Nicolaci
GeoPolítica Brasil
Bato na tecla de que o Brasil, ao defender o Irã, está a defender seus próprios interesses (como seu programa nuclear pacífico)... Mas parece que a mídia entreguista não vê isso, e acaba desinformando o povão...
ResponderExcluirÓtimo artigo. Parabéns
Acho que nem o Angelo pode garantir que depois de Irã conseguir a Bomba Nuclear, ele não iria usar apenas baseado em suas convicções sócio-políticas-religiosas contra países inimigos deles, perfazendo assim a adorada guerra santa que eles tanto profetizam. Como eles não temem a morte como nós ocidentais, numa eventual rusga com alguém (digames Israel), o uso de armas atômicas seria lícito e resolvedor. Quem aposta no uso político da bomba pelo Irã, também acha que este país sabe fazer política bem feita, e o que vemos não é isso...
ResponderExcluirAcredito que ações pacifista esta fora da realidade em um mundo com ganancias por poder e riquezas quer de governos quer por grupos fortalecidos. As nucleares sabem que a persuação nuclear garante suas soberanias, segurança e interesses, tanto é que continuam a modernizar seus misseis e armas nucleares e não sofrem pressões ou represalias por suas arbitrariedades. Parece conspirações as ditas reservas, os slogam que o Brasil é pacifico e não precisa de armas nucleares, quando na Russia , China, India, Paquistão existem varias etnias e não se falam em reservas para estas minorias e que qualquer insurgencia são violentamente suprimida, visando a unidade dos respectivos territorios.
ResponderExcluirA equipe que deseja inspecionar o Irã em seu programa nuclear,deve ser a mesma que inspecionou o Iraque sobre armas atômicas.E Israel vai ter suas instalações averiguadas também?,já que comenta-se que possui armas atômicas,naturalmente cedidas pelos EUA.Risos...
ResponderExcluirSenhores,
ResponderExcluirAcreditar nas intenções políticas do Irân, do Brasil, ou de qualquer outro país, é simplesmente fechar os olhos, os ouvidos, e a sensibilidade a VERDADE: o EGOÍSMO e o ORGULHO são as grandes chagas da humanidade.
Nenhum posicionamento de agressão, sob qualquer pretexto de "defesa", pode ser aceitável à aqueles que acreditam na PAZ e no AMOR entre os seres humanos como sendo a maior "arma" contra a injustiça. Simplesmente colhemos o que plantamos.