quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ratificação de acordo com a Rússia causa grande briga no Parlamento ucraniano


O Parlamento da Ucrânia ratificou hoje o polêmico acordo que prolonga por 25 anos a permanência da frota russa na península da Crimeia, o que gerou uma grande briga entre deputados governistas pró-Russia e a oposição.

"Hoje é um dia negro na história da Ucrânia independente. O Parlamento ratificou o acordo pela via da traição", afirmou a ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, após a agitada votação na sede do Legislativo.

Por contar com maioria, a coalizão governista não teve problemas para ratificar o acordo com a Rússia por 236 votos a favor, dez mais que o necessário, mas a oposição não ficou de braços cruzados e fez tudo o que pôde para sabotar a votação.

Assim que a sede do Legislativo abriu suas portas, os opositores estenderam uma grande bandeira ucraniana que cobriu completamente suas cadeiras à espera da entrada do presidente da câmara Vladimir Litvin, antigo aliado de Yulia e agora considerado um "traidor" pela oposição.

Enquanto isso, os governistas tomaram posições para proteger a tribuna de onde Litvin anunciaria o resultado da votação. Logo que o presidente da Câmara entrou na sala, uma chuva de ovos lançada pelos opositores caiu sobre ele e suas guarda-costas, que os protegiam com dois guarda-chuvas.

Os ovos alcançaram, inclusive, o tabuleiro eletrônico que transmite a distribuição de cadeiras na câmara e o resultado das votações.

No entanto, o chefe do Legislativo não perdeu a compostura e deu início à sessão, o que gerou uma grande briga, cujas imagens foram exibidas hoje por canais de televisão de todo o mundo.

Um dos deputados da formação opositora Autodefesa Popular (AP), Oleg Doniy, foi hospitalizado depois de ficar inconsciente por ter recebido dois fortes golpes na cabeça.

"Até nas desordens são traiçoeiros. Bateram no senhor Doniy duas vezes na cabeça pelas costas e ele ficou inconsciente", disse Taras Stetskiv, deputado do AP.

Os opositores também lançaram bombas de efeito moral para criar confusão, o que fez com que a visibilidade na câmara se tornasse quase nula em alguns momentos.

Por essa razão, pensando que se tratava de uma bomba de gás lacrimogêneo, os agentes de segurança quebraram a porta de entrada e vários deputados tiveram que deixar a sala, enquanto outros cobriram o rosto com lenços.

No final, Litvin anunciou a ratificação do acordo, o primeiro-ministro e líder do Partido das Regiões, Nikolai Azarov, levantou os braços em sinal de vitória e a oposição abandonou a sala.

O presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, e o presidente russo, Dmitri Medvedev, que assinaram o acordo na semana passada na cidade ucraniana de Jarkov, comemoraram em uma conversa pelo telefone a ratificação do documento, que prolongará por 25 anos o acordo bilateral que expiraria em 2017.

Por sua vez, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, elogiou o novo Governo ucraniano e qualificou de "vandalismo" o comportamento da oposição.

Enquanto isso, Yulia assegurou que "Sebastopol é o primeiro passo" e "depois virá Crimeia", em relação aos temores de que Moscou recupere o território, cedido à Ucrânia em 1954 pelo ex-dirigente soviético Nikita Jrushchov.

Por sua parte, o ex-presidente ucraniano Viktor Yushchenko, que exigiu durante seu mandato que a Rússia retirasse sua frota da Crimeia e defendeu seu ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), qualificou de "usurpação militar" o acordo para que a Marinha russa permaneça em Sebastopol até 2042.

A oposição, que acusa Yanukovich de trair os interesses nacionais em troca de um desconto de cerca de 30% no preço do gás russo, insiste em que o artigo 17 da Constituição ucraniana proíbe expressamente o desdobramento de tropas estrangeiras em território nacional.

Enquanto isso, o Governo nega que o novo acordo seja anticonstitucional, já que o acordo bilateral original sobre a base russa foi assinado antes da aprovação desse artigo da Carta Magna.

Fonte: EFE
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