sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cúpula dos Povos sobre mudança climática termina com críticas aos EUA e à ONU


A Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática encerrou hoje com uma advertência à ONU, críticas aos Estados Unidos e a exigência aos países industrializados de que reduzam para a metade suas emissões de gases do efeito estufa até o ano de 2020.

O término da cúpula, realizada na cidade de Tiquipaya (centro da Bolívia), coincidiu hoje com o Dia da Terra, celebrado há 40 anos. A data conta também com a comemoração do Dia Internacional da Mãe Terra, instituído pelas Nações Unidas no ano passado por iniciativa do presidente da Bolívia, Evo Morales.

Além do líder boliviano, assistiram ao encerramento do evento o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o vice-presidente de Cuba, Esteban Lazo, e o chanceler do Equador, Ricardo Patiño, entre outras autoridades.

Chávez antecipou que, na conferência sobre a mudança climática convocada pelas Nações Unidas para dezembro em Cancún (México), haverá conflitos se esse organismo mantiver silêncio sobre o que qualificou de "chantagem" dos EUA a outros países para ganhar apoio ao documento aprovado na cúpula de Copenhague em 2009.

Ele também sugeriu que os países presentes na conferência que abandonem as Nações Unidas e criem uma organização de "Povos Unidos", caso a ONU não se imponha sobre a suposta pressão americana.

O líder venezuelano pediu ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que se pronuncie sobre a "chantagem" que, segundo Chávez, os EUA estão impondo sobre nações como o Equador para que apóiem o documento proposto pelo presidente Barack Obama em Copenhague.

O pedido foi feito depois de o chanceler do Equador denunciar que os Estados Unidos retiraram do país sul-americano uma ajuda financeira de US$ 2,5 milhões por não ter apoiado a proposta de Copenhague.

Chávez insistiu que a Secretaria-Geral da ONU não pode ficar calada "diante deste atropelo, diante do desconhecimento dos Governos da maior parte do mundo e desta chantagem (...) ao chanceler do Equador".

"O que haverá em Cancún é outra batalha", afirmou.

Neste sentido, o líder venezuelano pediu aos Governos dos outros países da Aliança Bolivariana das Américas (Alba) a bancar a viagem de organizações sociais, camponesas e ativistas a Cancún.

Por sua vez, o chanceler do Equador anunciou que seu país destinará uma ajuda de US$ 2,5 milhões aos EUA para assinarem o Protocolo de Quioto, mas também propôs uma coleta mundial para ajudar a adaptação da potência norte-americana às exigências desse acordo.

O vice-presidente cubano exigiu "uma ordem internacional mais justa e racional para toda a humanidade". Ele defendeu que não se permita que os "países desenvolvidos usem como refém de sua política consumista as negociações internacionais sobre a mudança climática".

Segundo as denúncias de Chávez, os EUA estão aplicando uma "diplomacia seletiva" com negociações a portas fechadas para conseguir adesões ao acordo de Copenhague, que não estabelece metas de redução de gases poluentes, ao contrário do Protocolo de Quioto.

O acordo assinado em 1997 no Japão estabelece que os países industrializados devem reduzir em 5% as emissões de gases do efeito estufa entre 2008 e 2012, com relação aos níveis de 1990. No entanto, este aspecto não está sendo cumprido.

Para punir os descumprimentos, a cúpula social aprovou a proposta de criação de um Tribunal de Justiça Climática e recomendou que, enquanto não existir essa instância, os movimentos sociais processem os países ricos na Corte Internacional de Justiça de Haia.

Os países participantes do evento também aprovaram a exigência de que as nações ricas reduzam até 2020 as emissões de gases do efeito estufa em 50% com relação aos níveis de 1990.

Trata-se de uma meta ambiciosa, como a proposta de impulsionar a realização de um referendo mundial para abril de 2011 sobre como encarar a mudança climática.

Para o presidente Morales, a diferença entre essa reunião e a realizada em Copenhague é que em Tiquipaya os participantes discutiram as causas da mudança climática e não apenas os efeitos.

Segundo ele, a culpa dos problemas da natureza está no descontrolado desenvolvimento do capitalismo, o que compromete a vida do planeta.

Fonte: EFE
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