sábado, 20 de fevereiro de 2010

Petróleo reaquece disputa anglo-argentina pelas ilhas Malvinas


A disputa anglo-argentina pelas ilhas Malvinas (Falkland, para o Reino Unido) se agita novamente. O estopim agora é o progresso das explorações petrolíferas por companhias britânicas na região. O vice-chanceler argentino, Victorio Taccetti, condenou esse avanço como um "ato unilateral de agressão".

A plataforma de extração Ocean Guardian, a caminho desde novembro último, chegará às Malvinas em princípios de março. Sua proprietária é a firma norte-americana Diamond Offshore. Ela conta com 46 instalações desse tipo e extrai petróleo do subsolo marinho por encargo da britânica Desire Petroleum e de outras duas empresas.

A Argentina aplicará sanções contra as empresas petroleiras internacionais instaladas no país que trabalhem na exploração de petróleo nas Ilhas Malvinas (chamadas de Falklands pelos britânicos), disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Victorio Taccetti, em entrevista à BBC Brasil.

"Nosso próximo passo será colocar em prática a resolução da Secretaria de Energia, assinada em 2007, que prevê sanções para empresas de hidrocarbonetos que trabalhem para os usurpadores das ilhas", disse Taccetti.

O analista energético Daniel Montamat, ex-secretário de Energia, disse à BBC Brasil que entre as sanções está a que determina o cancelamento das licenças para a exploração de petróleo na Argentina.

"É uma norma [a de 2007] que, na prática, diz às petroleiras: ou vocês estão com a gente ou com eles. Se uma petroleira estiver buscando petróleo aqui e tiver uma licença para explorar [combustível] nas Malvinas perderá a autorização para trabalhar na Argentina. E aquela que já tem licença britânica não poderá operar no continente argentino, que não faz parte da disputa", explicou.

Direitos

As sanções fazem parte de uma série de medidas do governo argentino contra a iniciativa britânica de iniciar a exploração de petróleo na região e convocar licitações sem comunicar a Argentina.

De acordo com o vice-chanceler, além das sanções contra as empresas petroleiras, uma lei aprovada em 2009 também prevê sanções para as empresas do setor pesqueiro fixadas na Argentina e que pretendam trabalhar no arquipélago --pivô da disputa entre a Argentina e o Reino Unido.

O governo da presidente Cristina Kirchner já havia anunciado que iria ampliar as restrições aos navios que vão em direção ao arquipélago.

Segundo Taccetti, essas medidas seriam cabíveis já que, para os argentinos, os britânicos estariam buscando petróleo "numa área que não lhes pertence". Autoridades britânicas nas ilhas disseram que a busca de petróleo é "legítima". Em um comunicado, a Assembleia Legislativa das Malvinas informou que "tem todo o direito" de desenvolver "negócios legítimos" no setor de hidrocarbonetos.

Tensões

A disputa entre a Argentina e o Reino Unido envolvendo as ilhas Malvinas, sob controle britânico desde 1833, já foi objeto de uma guerra em 1982, quando os argentinos foram derrotados após tentarem uma invasão.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que o país já adotou "todas as medidas necessárias" para proteger sua soberania no arquipélago. Brown disse ainda que não planeja o envio de um reforço militar à região e afirmou que espera que prevaleçam "discussões sensatas" com Buenos Aires.

Na entrevista à BBC Brasil, o vice-chanceler afirmou que a Argentina tem recebido apoio da comunidade internacional, mas que o Reino Unido "atua com indiferença aos nossos pedidos e aos da comunidade internacional". Nesse sentido, ele voltou a afirmar que a iniciativa de autorizar a busca de petróleo nas ilhas, no Atlântico Sul, é "unilateral" e "agressiva".

Taccetti ressaltou que a Argentina espera contar com o "amplo apoio" dos países do Grupo do Rio --grupo de países da América Latina e do Caribe-- que se reunirá em Cancún, no México. "O Grupo do Rio sempre apoiou nossos direitos e nossa demanda pela soberania", disse.

O vice-chanceler disse que a reunião prevista para a próxima quarta-feira entre o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana, e o secretário geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, é mais um passo diplomático da Argentina, mas que o organismo "não pode obrigar" o Reino Unido a negociar com os argentinos.


Fonte: Deutsche Welle / BBC Brasil
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