
Os investimentos em infraestrutura no Brasil ainda são menores do que os verificados em países desenvolvidos ou com altas taxas de crescimento, segundo o economista Júlio César Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O setor público aplica pouco mais de 1% do PIB em infraestrutura. No setor privado, o percentual sobe para 2%. Em muito países desenvolvidos ou com altas taxas de crescimento, o percentual chega a 5%.
Segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre as 11 maiores economias, o Brasil tinha, em 2007, a menor taxa de investimento (percentual do PIB destinado à construção e à ampliação de capacidade de produção): 17,52%. Na China, era de 40%.
Para Almeida, o país ficou muitos anos sem exercitar suas ferramentas de planejamento e desaprendeu a investir. Nos anos 70, diz, o governo investia 4% do PIB.
Uma das principais causas do baixo investimento público é o elevado gasto com custeio, diz o economista Carlos Thadeu Filho, do grupo de Conjuntura da UFRJ. "Ao dar prioridade ao custeio, o governo desestimula o investimento privado."
Primeiro, de acordo com Thadeu Filho, porque, ao gastar, o governo cria pressão inflacionária, o que induz o BC a elevar o juro. Taxas mais altas encarecem o investimento, desmotivando empresários e investidores no setor produtivo.
Além disso, juros mais altos pressionam as taxas de retorno pagas pelo Tesouro para rolar a dívida pública. "O resultado é que os títulos públicos se tornam mais atraentes, em termos de rentabilidade, que o investimento no setor produtivo." Na prática, o investidor faz as contas e conclui que vai ter retorno maior comprando título do que investindo em projeto.
Para Almeida, o PAC foi apenas um "primeiro passo": "Muito ainda tem de ser feito." Ele identifica duas necessidades: azeitar o planejamento estatal --para realizar novos investimentos em infraestrutura e melhorar a gestão e execução dos projetos-- e equacionar a falta de financiamento ao setor.
O apoio do BNDES, diz Almeida, é importante, mas não basta. "É fundamental incentivar o mercado de capitais [ações e títulos de dívidas, como debêntures], para que as empresas tenham nele uma fonte barata de recursos para investir."
Fonte: Folha
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