
Além da falta de um instrumento de precisão em vários aeroportos brasileiros, inclusive no Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, outro fator preocupa autoridades aeroportuárias. Foram as aves o ponto de partida para que os homens cultivassem o sonho de voar. Mas hoje, mais de um século depois da decolagem do 14 Bis de Santos Dumont, o céu não é mais o limite para a humanidade. Já os pássaros… Bem, a colisão entre eles e aeronaves representa 65% do total das ocorrências aéreas no Brasil em 2008, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). De janeiro a novembro de 2009, foram 804 registros, número que, diante da subnotificação, deve representar apenas 20% dos incidentes. Um risco que também sobrevoa Minas Gerais, estado com maior número de aeroportos no Brasil. Para diminuir o perigo aviário, o Ministério Público Estadual (MPE), por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, instaurou inquérito para apurar a segurança nos terminais no estado.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), 91 dos 745 aeródromos estão em território mineiro. Apenas nos aeroportos Internacional Tancredo Neves (Confins), Carlos Drummond de Andrade (Pampulha) e Carlos Prates foram registrados 29 incidentes entre janeiro e novembro. Ao reunir órgãos ambientais e da aviação, o objetivo do MPE é afastar riscos como o da queda, em janeiro, de um avião no Rio Hudson, em Nova York (EUA). Na ocasião, um bando de aves entrou na turbina da aeronave. Havia 155 pessoas a bordo e ninguém ficou ferido.
No Brasil, o último acidente foi em 2007, quando um avião colidiu com um urubu, em Jundiaí (SP). Apenas o piloto foi atingido gravemente. Sorte, segundo especialistas. Mas o caminho para não ter que contar com o acaso é a definição dos limites da Área de Segurança Aeroportuária (ASA). Trata-se do perímetro, com raio de 13 a 20 quilômetros em torno dos aeroportos, em que são proibidas atividades que atraem pássaros. Estão nesta lista lixões, aterros controlados, matadouros, curtumes e determinadas culturas agrícolas.

A delimitação da ASA está prevista na Resolução número 4 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 1995, mas até hoje não é seguida à risca. Segundo o documento, empreendimentos já instalados deveriam se adequar em 90 dias. "A ave, pela questão da mobilidade, é o maior perigo. No entanto, há um problema de fiscalização", afirma o representante do Cenipa na Comissão de Controle do Perigo Aviário no Brasil (CCPAB), major Henrique Rubens Balta de Oliveira. Problema que poderia ser resolvido pelo Projeto de Lei (PL) 4.464/2004, que se arrastou por cinco anos na Câmara dos Deputados e, desde maio, está nas mãos do Senado. O PL permite que a autoridade Aeronáutica embargue obras e construções que firam a Área de Segurança Aeroportuária.
Embora a Área de Segurança Aeroportuária não seja levada à risca, o aeroporto da Pampulha desenvolveu suas próprias estratégias para afastar o perigo que vem do céu. Em 2007, a Infraero contratou consultoria para elaborar o Plano de Manejo da Avifauna. Com o estudo, diversos métodos foram adotados, desde o manejo da cobertura vegetal, fogos de artifício, cães na vizinhança, entre outros. O mais curioso deles é a falcoaria, que deve retornar no ano que vem. A presença de falcões e gaviões, predadores naturais de diversas espécies, afugenta as aves que ameaçam os aviões e helicópteros.

Em Confins, há ações pontuais, como a gestão do lixo (são quatro toneladas de resíduos produzidas diariamente) e o cuidado com a cobertura vegetal no entorno do aeroporto. No entanto, o Plano de Manejo da Avifauna só será realidade no ano que vem. De acordo com a gerente operacional de segurança do terminal, Celina de Lima Corrêa Campos, o plano, orçado em R$ 300 mil e com licitação prevista para 2010, vai levar um ano para ficar pronto. “Será feito um diagnóstico completo, identificando as aves mais presentes. Vamos conhecer melhor a situação para saber como mitigar os riscos.”
Fonte: Estado de Minas
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