domingo, 17 de janeiro de 2010
Haiti e região devem se preparar para terremotos piores, alertam especialistas
O forte terremoto que atingiu o Haiti na terça-feira pode ser o prenúncio de outros, advertem cientistas que insistem na necessidade de reconstruir com materiais reforçados a capital Porto Príncipe, situada sobre uma grande falha geológica.
"Não se pode reconstruir partindo do princípio de que o perigo já passou para o Haiti", advertiu Paúl Mann, pesquisador do Instituto de Geofísica da Universidade de Austin, no Texas (sul dos Estados Unidos).
"Essa liberação de energia em uma região próxima a Porto Príncipe pode ter aumentado a pressão nos segmentos adjacentes da mesma falha" telúrica, explicou.
Os pesquisadores trabalham em sistemas de simulação para tentar prever de qual maneira as mudanças de pressão causadas pelo terremoto de magnitude 7.0 registrado na terça-feira no Haiti afetaram esses segmentos.
"Essa falha é de várias centenas de quilômetros de comprimento, e o segmento que se rompeu, causando o terremoto, mede apenas 80 km", ressaltou Man em uma entrevista concedida por telefone à AFP.
Então, "muitos dos outros segmentos, que não registram um terremoto há muitos anos, acumulam pressão, e "qualquer um desses segmentos poderá provocar um terremoto semelhante ao que ocorreu no Haiti", acrescentou.
Inclusive há duas grandes cidades ao longo dessa falha -Porto Príncipe e Kingston, na Jamaica-, que podem temer uma nova desgraça. Ainda mais porque o segmento que causou o terremoto não foi o mais próximo da capital haitiana.
Na segunda falha, que atravessa o norte do Haiti e se estende para a vizinha República Dominicana, não há uma ruptura há 800 anos, e a pressão acumulada é suficiente para causar um tremor superior, de magnitude 7.5.
"A questão é saber quando serão registradas essas rupturas", frisou Mann, acrescentando que é muito difícil saber "se será em um ou dentro de 100 anos".
Eric Calais, um geofísico francês que trabalha na Universidade Purdue, em Indiana (norte dos Estados Unidos), começou a estudar em 2003 a falha responsável pelo movimento telúrico de terça-feira.
Ele advertiu às autoridades haitianas sobre a perigosa acumulação de pressão, mas poucas coisas foram feitas para reforçar as construções do país.
"Não há como censurar o governo haitiano", disse Calais à AFP. "Nos ouviram atentamente e sabiam do perigo. Estavam muito preocupados e tinham começado a tomar medidas. Mas tudo aconteceu cedo demais".
Em março de 2008, Paul Mann e ele haviam previsto um terremoto de 7,2, mas não podiam avaliar quando aconteceria. Nessa época, o governo haitiano se dedicava à reconstrução do país após os quatro furacões que devastaram a ilha.
As autoridades haitianas tinham começado, no entanto, a preparar uma resposta urgente, mas não conseguiram tornar mais seguros as construções mais importantes como escolas, hospitais e sedes governamentais.
"É um país pobre", ressalta Calais. "Reforçar um edifício para que resista a um tremor pode ser tão custoso como reconstruí-lo".
Mas a destruição causada pelo terremoto pode permitir uma reconstrução com base nas normas, disse o especialista, ressaltando que técnicas de engenharia relativamente baratas podem ser aplicadas.
"É muito importante que Porto Príncipe seja reconstruída corretamente", insistiu, porque outros segmentos dessa falha poderão se romper no futuro.
Fonte: AFP
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