O ministro das Relações Exteriores do Iêmen, Abu Bakr al Qirbi, disse nesta terça-feira que o país não está recebendo apoio suficiente do Ocidente pra combater a rede Al Qaeda.
As declarações coincidem com a confirmação, pelo governo iemenita, de que o nigeriano acusado de tentar explodir um avião nos Estados Unidos no dia do Natal esteve vivendo no país até o início deste mês, e que agora estão investigando os contatos que ele teria feito durante sua estadia por lá.
Em uma entrevista à BBC, o ministro disse que o país tem a vontade e a habilidade de lidar com os extremistas da rede Al Qaeda, mas que era ameaçado pela falta de apoio.
"Nós precisamos de mais treinamento. Queremos expandir nossas unidades antiterrorismo e isso significa treiná-las, providenciar equipamento militar, meios de transporte", disse.
"Os Estados Unidos podem ajudar muito, a Grã-Bretanha pode fazer muito, a União Europeia pode ajudar muito nesse sentido", afirmou.
Segundo o ministro, o conflito com a rede extremista é uma prioridade para o governo iemenita, apesar dos conflitos com os rebeldes xiitas no norte e com os separatistas no sul.
Suspeito De acordo com as informações divulgadas nesta terça-feira pelo ministério das Relações Exteriores do Iêmen, Umar Farouk Abdulmutallab, de 23 anos, esteve no país de agosto até o início de dezembro, com um visto para estudar árabe em uma instituição da capital do país, Sanaa.
Abdulmultallab foi contido por passageiros e tripulantes de um voo da Northwest Airlines entre Amsterdã e Detroit ao tentar detonar explosivos escondidos na roupa, quando a aeronave se preparava para pousar no aeroporto da cidade americana.
Um porta-voz do ministério disse que os serviços de segurança iemenitas estão agora tentando estabelecer os contatos feitos por Abdulmutallab no país, para cooperar com as autoridades americanas na investigação do incidente.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou na segunda-feira à noite que não descansará enquanto não levar os responsáveis pelo atentado frustrado à Justiça.
"Usaremos todo nosso poder para paralisar, desmantelar e derrotar os violentos extremistas que nos ameaçam, venham eles do Afeganistão ou Paquistão, Iêmen ou Somália ou de qualquer lugar onde planejem ataques contra os Estados Unidos", disse Obama, que interrompeu suas férias de fim de ano para falar à nação.
Responsabilidade Um grupo de monitoramento dos Estados Unidos disse que uma facção regional da Al-Qaeda baseada no Iêmen assumiu a responsabilidade pelo ataque frustrado.
Uma mensagem na internet da Al-Qaeda na Península Arábica, que inclui uma fotografia supostamente de Abdulmutallab em frente a uma faixa do grupo, diz que a ação foi uma resposta aos ataques dos Estados Unidos contra seus membros.
Abdulmutallab foi indiciado por tentar explodir o vôo que levava quase 300 pessoas na sexta-feira e está em uma prisão federal no Estado de Michigan.
Ele teria dito a agentes do FBI, a polícia federal americana, que membros da Al-Qaeda no Iêmen deram a ele os explosivos e que outros atentados como o seu serão cometidos em breve.
Contatos interrompidos Na segunda-feira, a família de Abdulmutallab, cujo pai é um importante banqueiro nigeriano, se disse surpresa com suas ações e que ele havia interrompido seus contatos com eles em outubro.
Nesta terça-feira, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Iêmen disse que Abdulmutallab deixou o país em direção à Etiópia no início de dezembro, após quatro meses matriculado em um curso de árabe.
"O visto foi concedido para o nigeriano após as autoridades verificarem que ele poderia conseguir vistos de outros países amigos e de ter visto que ele ainda tinha um visto válido para os Estados Unidos", afirmou o porta-voz.
Segundo ele, "o Iêmen condena atentados terroristas como esse, com inocentes como alvo, e reitera seu total apoio à guerra contra o terror em qualquer lugar".
As autoridades americanas temem que mais jovens treinados pela Al-Qaeda possam estar no país planejando ataques a aviões americanos.
Guantánamo A TV ABC afirmou que entre o grupo que teria planejado o ataque estariam dois homens libertados pelos Estados Unidos da prisão da baía de Guantánamo em novembro de 2007.
Mohammed Attik al Harbi, também conhecido como Mohammed al Awfi, e Said Ali Shari foram enviados à Arábia Saudita, seu país natal, para um programa de reabilitação, e depois libertados, segundo autoridades americanas e sauditas.
Ambos apareceriam em um vídeo de janeiro ao lado de um homem descrito como o líder da Al-Qaeda na Península Arábica, Nasser Abdul Karim al-Wahishi, segundo a ABC.
Na segunda-feira, a secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Janet Napolitano, disse que os sistemas de segurança dos aeroportos falharam no caso de Abdulmutallab.
Ela questionou por que as autoridades não revogaram o visto do nigeriano para os Estados Unidos, emitido em junho de 2008 e com validade de dois anos para múltiplas entradas, após seu pai ter entrado em contato com a Embaixada dos Estados Unidos da Nigéria para relatar sua preocupação com a radicalização do filho.
O nome de Abdulmutallab foi incluído numa lista de 500 mil nomes chamada Ambiente Datamart de Identidades Terroristas (Tide, na sigla em inglês), mas as informações fornecidas pelo seu pai não foram suficientes para colocá-lo numa lista mais restrita de pessoas impedidas de voar.
Solidão Segundo o jornal "The Washington Post", mensagens na internet aparentemente escritas por Abdulmutallab entre 2005 e 2007 sugeririam que o jovem nigeriano se sentia "solitário" e que "nunca encontrou um verdadeiro amigo muçulmano".
"Não tenho ninguém com quem conversar", diz uma mensagem postada sob o codinome farouk1986 em janeiro de 2005, quando frequentava um internato no Togo.
"Não tenho ninguém para consultar, ninguém para me apoiar e me sinto deprimido e solitário. Não sei o que fazer. E então eu penso que esta solidão me leva para outros problemas", diz a mensagem.
Represália AmericanaOs Estados Unidos iniciaram no Iêmen, junto a autoridades locais, a busca de alvos para uma possível represália pelo incidente do dia do Natal, quando um nigeriano tentou explodir um avião da companhia Northwest, disseram fontes do Governo americano citadas pela rede de televisão CNN.
Segundo as fontes, o Iêmen permitiria que os EUA utilizassem mísseis cruzeiro, caças ou aviões não tripulados contra alvos em seu território.
A organização Al Qaeda reivindicou, no Iêmen, a organização do ataque, que devia ser consumado pelo nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab.
As fontes, que falaram sob condição de anonimato, acrescentaram que o propósito da busca é contar com opções para caso o presidente americano, Barack Obama, ordene uma represália. Também tem como objetivo determinar se há alvos especificamente vinculados ao incidente do avião da Northwest e seu planejamento.
Trata-se de um acordo com o governo iemenita que estabelece que os dois países trabalharão de maneira conjunta e que os EUA não vão divulgar publicamente seu papel na provisão de informação de inteligência e armas para realizar os ataques, segundo a "CNN".
Segundo os EUA, o Iêmen se transformou em um dos principais núcleos de atividade da Al Qaeda, e no país há vários centros de treinamento terrorista.
Em sua primeira reação oficial após o ataque fracassado, o presidente Barack Obama prometeu que não medirá esforços para capturar os envolvidos e fazer-lhes pagar por suas ações.
Além disso, lembrou mais uma vez que, depois do 11 de setembro, seu país continua sob a ameaça do terrorismo.
"Os cidadãos podem ter certeza de que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir sua proteção", disse Obama, que passa férias de fim de ano no Havaí.
Até agora, as autoridades americanas só acusaram Abdulmutallab pela tentativa de atentado. Segundo a rede de televisão "ABC", o nigeriano confessou em seu interrogatório com agentes federais que haverá mais ataques terroristas suicidas.
Fonte: BBC Brasil / EFE