sábado, 28 de novembro de 2009

Jobim pede à FAB que não indique qual o melhor caça


Ministro diz que, independentemente disso, decisão final será mesmo do presidente.
Em setembro, o presidente da comissão que avalia o negócio, brigadeiro Dirceu Noro, disse que iria apontar um vencedor do processo.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que pediu à FAB (Força Aérea Brasileira) que não indicasse um vencedor em sua avaliação técnica dos concorrentes ao fornecimento de 36 novos caças ao Brasil.

Mais afirmou por meio de sua assessoria que “a expectativa é que o relatório venha conforme solicitado”, “mas, independentemente da forma [do texto]“, “o que vale é a avaliação final feita pelo presidente da República”.

Para Jobim, que diz ter pedido só os prós e contras de cada concorrente em itens como preço e transferência tecnológica, “tudo o mais são insumos para essa decisão” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em setembro, o presidente da comissão que avalia o negócio de estimados R$ 10 bilhões, brigadeiro Dirceu Noro, afirmara que iria haver um vencedor do processo seletivo. A declaração foi dada após a gafe de Lula, que havia anunciado a escolha do francês Dassault Rafale durante visita do seu colega Nicolas Sarkozy, esquecendo de esperar a conclusão da avaliação técnica da FAB.


Desconforto

Houve desconforto na Força, e o comandante Juniti Saito chegou a ameaçar entregar o cargo. Os finalistas do processo, suecos e americanos, além dos franceses, já haviam entregado suas propostas finais. O processo foi reaberto e eles foram instados a revê-las.

Desde então o Planalto e a Defesa tentam capitalizar a confusão como uma forma de pressionar pela queda nos custos. Em especial o preço do Rafale, naquela altura 40% superior ao do Boeing F/A-18 americano e o dobro do oferecido pelo Saab Gripen NG sueco.

Ao mesmo tempo, em reiteradas declarações, o governo manteve sua preferência pelo Rafale. O Brasil, afinal, acabara de assinar um acordo militar para fornecimento de submarinos e helicópteros de R$ 22,5 bilhões e uma parceria estratégica com Paris.

Antes do anúncio de setembro, Jobim já havia dito que esperava um relatório indicativo, mas não conclusivo, da FAB. A declaração de então à Folha por Dirceu Noro colocou lenha na fogueira: se os militares escolhessem um avião que não o francês, colocariam os políticos em uma saia justa.

O “timing” da nova “solicitação” de Jobim não é fortuito. Todos os concorrentes reapresentaram propostas prometendo corte de custo. Questionada, a Aeronáutica não divulgou oficialmente, mas certamente o tema foi debatido na reunião de Alto Comando que ocorreu entre anteontem e ontem.

Há incômodo na FAB com o que alguns oficiais consideram desprezo civil por seu trabalho. O processo transcorreu com prazos fixos e produziu mais de 25 mil páginas sobre cada um dos aviões e suas propostas. Um representante de um dos concorrentes, experiente de outras campanhas de venda, diz nunca ter visto análise tão detalhista.

Nos bastidores, os concorrentes consideram que a reunião seria decisiva para o relatório da disputa, conhecida pelo código F-X2 -o “2″ para diferenciá-la do malogrado programa abandonado em 2005.

Apesar das movimentações oficiais finais, como a visita do ministro da Defesa sueco a Jobim anteontem, os olhos do governo estão voltados para o quartel-general da Dassault.

Conforme a Folha apurou, para o caso ser dado por encerrado com os franceses, é tudo uma questão de a promessa política de Sarkozy a Lula tornar-se realidade da proposta empresarial.

O presidente francês prometeu ao brasileiro que o Rafale seria barateado e que cargueiros em desenvolvimento pela Embraer seriam comprados pela França -ou seja, misturou decisões privadas e estatais na conversa, o que não é inusitado em negócios de defesa, mas que levanta dúvidas.

Havia a expectativa entre as empresas de que o encontro ontem de Lula e Sarkozy em Manaus, aliado à reunião da FAB, fechasse algum diagnóstico. Jobim, contudo, viajou para o encontro de ministros da Defesa no Equador, o que deverá adiar qualquer anúncio por mais alguns dias. Ou não.

Fonte: Folha
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